TUDO QUE VOCÊ QUERIA SABER SOBRE A RELAÇÃO ENTRE A MICROBIOTA INTESTINAL NA SAÚDE E NA DOENÇA A PARTIR DE PESQUISAS DA CIÊNCIA-PARTE 2

 

Qual a relação entre o intestino e doenças como depressão e diabetes?

Atualizado: 20 de Out de 2020

Quem diria que as bactérias presentes no seu intestino poderiam influenciar diretamente na sua felicidade e bem-estar? Pois elas podem!

Pessoa passando mal e deitada no sofá.

Desde a descoberta do microbioma em nosso próprio corpo, surgiram também novas perguntas a serem respondidas. De que maneira nosso estilo de vida influencia a composição de espécies da nossa microbiota?


Já sabemos que a forma como nos alimentamos interfere consideravelmente nos microrganismos encontrados em nosso intestino, mas será que outros comportamentos ou atividades que realizamos em nosso dia-a-dia também possuem este poder?


Nosso trato gastrointestinal é habitado por inúmeras espécies de bactérias que compõem a microbiota intestinal – conhecida popularmente como flora intestinal - e exercem um papel importantíssimo na nossa saúde.

A relação entre o indivíduo e sua microbiota é chamada de mutualismo, o que significa que esta relação é vantajosa para ambos. Enquanto provemos a elas um ambiente propício para a sua sobrevivência, elas nos fornecem proteção contra patógenos, síntese de vitaminas, absorção de nutrientes e digestão.


Essas bactérias da microbiota intestinal ficam restritas ao intestino graças a uma parede impermeável de células que impede que elas escapem e caiam na corrente sanguínea. Há situações em que a membrana que protege o intestino fica danificada (ou permeável), permitindo que substâncias tóxicas e bactérias intestinais caiam na corrente sanguínea.


Muitos estudos vêm demonstrando como as alterações do microbioma se relacionam e interagem diretamente com as respostas do nosso sistema nervoso, sistema endócrino, sistema imune, ou mesmo, se correlacionam com uma grande quantidade de distúrbios, condições ou patologias.


É importante entender que a microbiota intestinal é composta por microrganismos que convivem conosco de forma harmoniosa e que até podem nos fazer bem quando mantidos em equilíbrio (chamados de simbiontes ou comensais). A função adequada da microbiota intestinal depende de uma composição estável.


Logo, mudanças na razão entre os diferentes grupos de bactérias presentes na microbiota ou a expansão de novos grupos bacterianos podem levar a um desequilíbrio da mesma.


Desequilíbrios na microbiota intestinal estão associadas a uma série de doenças, incluindo:

  • autoimunes,

  • metabólicas,

  • neoplásicas,

  • neurológicas,

  • gastrintestinais/digestivas,

  • cardiovasculares,

  • neurológicas e

  • infecciosas.


Alguns estudos encontraram também relações entre esse desequilíbrio e alterações no humor.


receituário e estetoscópio médico.

Vamos explorar sobre as principais condições e doenças reconhecidamente afetadas pelo desequilíbrio da microbiota intestinal. Abordaremos a relação do microbioma do intestino com depressão e ansiedade, transtorno do espectro autista, doença de Parkinson, obesidade, diabetes do tipo 1, osteoartrite, fibromialgia, doenças cardiovasculares e câncer em dois posts.



Depressão e Ansiedade


A microbiota intestinal pode influenciar na nossa função cerebral. Isso porque ela é responsável pela produção de grande parte das substâncias neuroquímicas, como serotonina e dopamina, que o cérebro utiliza para regular alguns processos, como aprendizagem, memória e humor.


Os cientistas têm mostrado que a relação entre o hospedeiro - o homem – e sua microbiota é uma via de mão dupla, além de ser bastante complexa. Não é apenas a microbiota que pode afetar o hospedeiro, mas o inverso também.


Um estudo publicado na revista Nature mostrou que altos níveis de estresse podem alterar a composição de bactérias intestinais, que por sua vez podem influenciar o desencadeamento de transtornos psiquiátricos, como ansiedade e depressão. Neste caso, ao analisarem amostras de sangue de pessoas com depressão, observaram que 35% delas apresentavam resquícios de bactérias pertencentes à microbiota do intestino, provavelmente ocasionado pela alta permeabilidade.


Ainda não está clara a relação entre a “fuga” dessas bactérias do sistema digestivo e o surgimento de sintomas depressivos. Uma hipótese é que o organismo detecta essas bactérias fora do local onde deveriam estar e desencadeia respostas autoimunes e inflamações, fatores que afetam o humor e a disposição física e podem desencadear episódios de depressão.


Transtorno do Espectro Autista (TEA)


O Transtorno do Espectro Autista é caracterizado por um conjunto de condições neuropsiquiátricas cujo principal resultado é uma redução em habilidades de comunicação e interação social. O grau de autismo pode variar de pessoa para pessoa. Crianças autistas podem apresentar dificuldade na fala ou aprendizagem. Outros sintomas incluem ansiedade e irritabilidade e, em casos mais graves, depressão, automutilação e total falta de empatia.


Ainda não existe cura para o TEA, porém, o avanço das pesquisas tem levado ao desenvolvimento de novas e promissoras terapias, que auxiliam não apenas na melhora dos sintomas do portador da síndrome, como também autoconhecimento para um melhor entendimento de sua condição.


Novos trabalhos estão revelando que, além de ajudar na digestão, as bactérias intestinais também fabricam compostos bioativos que ajudam a orquestrar a função cerebral e o desenvolvimento social. Estudos mostram que crianças com TEA costumam ter uma “assinatura” de microrganismos intestinais diferente das crianças que não possuem o TEA.

Estudos mostram que crianças com TEA têm níveis mais baixos das bactérias intestinais Veillonellaceae, Coprococcus e Prevotella do que aquelas sem o transtorno. Os pesquisadores também observaram que algumas pessoas com TEA podem ter uma barreira hematoencefálica porosa, que faz com que alguns subprodutos bacterianos tóxicos entrem na corrente sanguínea e cheguem ao cérebro.


Especialistas na área esperam poder utilizar essas informações geradas pela microbiota intestinal para abrir portas para novas e promissoras terapias comportamentais.


Doença de Parkinson


A doença de Parkinson (DP) é uma doença degenerativa do sistema nervoso central, crônica e progressiva. É causada por uma diminuição intensa da produção de dopamina, um neurotransmissor que ajuda na realização dos movimentos voluntários do corpo de forma automática, ou seja, não precisamos pensar em cada movimento que nossos músculos realizam, graças à presença dessa substância em nossos cérebros.


O sistema nervoso entérico (SNE) pode estar a associado ao desenvolvimento da DP pela presença de inflamação intestinal e aumento da permeabilidade intestinal, que foram identificadas em pacientes com diagnóstico positivo para a doença.


Estudos revelaram que grande parte dos pacientes com DP apresentam disbiose significativa. Por exemplo, vários estudos relataram um aumento na abundância relativa das bactérias dos gêneros Lactobacillus, Parabacteroides, Bifidobacterium e da família de Verrucomicrobiaceae, incluindo Akkermansia na microbiota intestinal de pacientes com DP.


Outros pacientes apresentaram diminuição na proporção dos gêneros Faecalibacterium, Coprococcus, Blautia, Prevotella e outros gêneros da família Prevotellaceae. Além do que, outros pesquisadores mostraram que a abundância das famílias Christensenellaceae ou Oscillospira pode estar relacionada com uma suscetibilidade aumentada para o desenvolvimento de DP (ou com um estágio específico da doença) sugerindo que tais modificações nas populações de bactérias poderiam ser usadas para o diagnóstico precoce.


Esses exemplos corroboram inúmeras evidências de que alterações intestinais desempenham um papel chave no início e desenvolvimento da DP. Sendo assim, pacientes com DP podem se beneficiar com estratégias que melhoram a função intestinal.


Obesidade


A combinação entre alimentos processados ​​e a falta de atividade física diária elevou o número de pessoas obesas no mundo. A disponibilidade de alimentos ricos em calorias favorece o ganho de peso, que tornou-se cada vez mais comum. A obesidade pode representar um risco aumentado de doenças crônicas, como doenças cardiovasculares, diabetes e até câncer.


Sabe-se que indivíduos com obesidade também criaram uma "assinatura" dentro de seu microbioma intestinal, que molda o funcionamento de seu metabolismo. Esse efeito pode aumentar a dificuldade de perder peso e facilitar a recaída após a perda de peso, mesmo com uma dieta normal. Essa assinatura é definida por alterações nas populações bacterianas que podem contribuir para mudanças em nosso metabolismo através de fatores genéticos e ambientais.


A dieta desempenha um papel crucial na formação do nosso ecossistema intestinal. Uma dieta baseada em alimentos altamente processados ​​tem sido associada a menor diversidade de microrganismos intestinais. E uma dieta não saudável pode, também, impedir que os grupos bacterianos benéficos se desenvolvam no nosso intestino.

Fonte: https://www.biome-hub.com/post/qual-a-rela%C3%A7%C3%A3o-entre-o-intestino-e-doen%C3%A7as-como-depress%C3%A3o-e-diabetes


A Influência da dieta na modulação intestinal

Atualizado: 20 de Out de 2020

A microbiota existente nos seres humanos é resultante de anos de evolução de uma relação simbiótica. Essa relação nos trouxe inúmeros benefícios, incluindo proteção contra patógenos, manutenção da integridade da barreira intestinal, metabolização de nutrientes e medicamentos, síntese de vitaminas (K e B12) e produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC).


Pessoas comendo alimentos saudáveis e fast food.

O trato gastrointestinal humano apresenta diferentes composições de espécies bacterianas, sendo estas definidas geneticamente e/ou por características individuais e ambientais. Cada indivíduo possui uma microbiota intestinal única, composta de bactérias distintas, em sua maioria não patogênicas que são que são herdadas do hospedeiro, adquiridas no nascimento e que se desenvolve de acordo os hábitos de vida, uso de medicamentos, estresse e, até, a localização geográfica.


A utilização de antibióticos, sedentarismo, quimioterapia para o câncer e processos infecciosos do trato gastrointestinal (TGI) podem alterar permanentemente ou transitoriamente o ecossistema intestinal. Outro fator importante na alteração da microbiota intestinal é a dieta.


Nossa alimentação pode afetar a sobrevivência e metabolismo dessas bactérias, causando alterações no padrão de colonização bacteriana e gerando processos inflamatórios no nosso organismo. Logo, uma microbiota intestinal saudável e equilibrada resulta em um desempenho normal das funções fisiológicas, o que irá assegurar melhoria na qualidade de vida.

Uma produção elevada de substâncias inflamatórias no organismos favorece o aparecimento de diversas doenças, como câncer, doença inflamatória intestinal, obesidade, entre outras. Os compostos bioativos* da dieta têm um papel fundamental na imunomodulação da microbiota.


Estudos demonstraram que tanto a ingestão dietética quanto a microbiota intestinal são fontes de micronutrientes essenciais ao funcionamento do sistema imune.


A dieta influencia a atividade metabólica e a composição da microbiota intestinal, tendo um efeito sobre as respostas imune e inflamatórias, com consequências para a saúde. Em uma dieta com pouco consumo de fibras a microbiota intestinal passa a degradar o muco presente na barreira intestinal aumentando a susceptibilidade a patógenos.


Alimentos ultraprocessados, industrializados, adoçantes, emulsificantes, a dieta ocidental (tipicamente constituída por alto consumo de carne vermelha, gordura animal, açúcar e pobre em fibras), fornecem menores quantidades de fibras, levando à menor produção de ácidos graxos de cadeias curtas pela microbiota intestinal, sendo estes produtos imunomoduladores essenciais. O consumo desses alimentos podem ter um impacto negativo na saúde, sendo parcialmente responsável pela obesidade e outras doenças crônicas.


O consumo dos alimentos ultraprocessados pode levar à modificação da microbiota intestinal, causando desequilíbrio, gerando um processo inflamatório e, consequentemente, um intestino hiperpermeável.

 


Com a permeabilidade intestinal aumentada podem ocorrer alterações clínicas como:

  • diarreia (associada a infecções ou ao tratamento por antibióticos),

  • alergia alimentar,

  • eczema atópico,

  • doenças inflamatórias intestinais,

  • artrite, entre outras.


Além disso, é provável que o intestino sofra uma redução na capacidade de absorção de nutrientes importantes e uma carência de vitaminas, principalmente do complexo B, além de vitaminas A, C e D.


*Os compostos bioativos são substâncias que estão presentes em alguns alimentos, e são capazes conferir benefícios fisiológicos ao organismo, e assim, promover a saúde.
Fonte:https://www.biome-hub.com/post/a-influ%C3%AAncia-da-dieta-na-modula%C3%A7%C3%A3o-intestinal

Conhecendo as bactérias da microbiota intestinal

Atualizado: 20 de Out de 2020

A maior parte do trato gastrointestinal humano é colonizada por bactérias. Estima-se que esses microrganismos permanentes e transitórios podem se distribuir em mais de 1000 espécies.

Pessoa em dúvida, pensando nas bactérias que habitam o seu corpo

É importante entender que a microbiota intestinal é composta por microrganismos que convivem conosco de forma harmoniosa e que até podem nos fazer bem quando mantidos em equilíbrio (os simbiontes e comensais, por exemplo).


A composição da microbiota intestinal é única em cada indivíduo, composta de bactérias distintas, em sua maioria não patogênicas, que são herdadas do hospedeiro, adquiridas no nascimento e ainda definida pelas características ambientais, como a idade e os hábitos alimentares.


O desenvolvimento da microbiota intestinal humana é um processo complexo que já começa durante a gestação. Alguns estudos detectaram bactérias no mecônio (as primeiras fezes do bebê), no cordão umbilical e no líquido amniótico.


Ao nascer a colonização da microbiota ocorre de acordo com o tipo de parto (normal ou cesárea); amamentação (aleitamento materno exclusivo ou artificial) e pelas medidas de higiene.


A comunidade bacteriana desempenha funções importantes no nosso organismo, dentre elas, destaca-se:

  • antibacteriana/protetiva

  • imunomoduladora

  • nutricional

  • metabólica


Além disso, há a formação de uma barreira de proteção natural ao longo do trato gastrointestinal, por bactérias alocadas no intestino por sítios de ligação determinados pela genética.



Bactérias da microbiota intestinal


Os microrganismos são classificados em categorias hierárquicas, chamados de níveis taxonômicos. Os níveis taxonômicos mais importantes e estudados, sob o ponto de vista clínico dos estudos de microbioma intestinal, são Espécie, Gênero, Família e Filo.


taxonomia das bactérias

De forma geral, quatro principais filos colonizam o trato gastrointestinal humano: Bacteroidetes, Firmicutes, Proteobacteria e Actinobacteria representando 98% da microbiota intestinal. Sabe-se que mais de 90% da composição bacteriana intestinal considerada saudável é representadas por Bacteroidetes e Firmicutes.


Estima-se que 30-40 espécies de bactérias dominam o ecossistema intestinal, as quais pertencem aos gêneros Bacteroides, Bifidobacterium, Eubacterium, Fusobacterium, Clostridium e Lactobacillus.


As principais bactérias que compõe a microbiota entérica também podem ser agrupadas pela atuação no nosso organismo: benéficas/probióticas e patogênicas.


Como exemplo de bactérias benéficas/probióticas temos as Bifidobactérias e os Lactobacilos (gêneros Bacteroides, Bifidobacterium e Lactobacillus), e para as patogênicas podem ser citadas a família Enterobacteriaceae e o gênero Clostridium.


Outros gêneros são habitualmente encontrados na microbiota intestinal como Eubacterium, Fusobacterium, Peptostreptococcus e Ruminococcus.


A função adequada da microbiota intestinal depende de uma composição de grupos de bactérias em equilíbrio, logo, mudanças na razão entre esses filos ou a inclusão de novos grupos bacterianos levam a um desequilíbrio da microbiota intestinal.


Com o passar dos anos, a composição da microbiota intestinal varia. Nos primeiros três anos de idade, os microrganismos que habitam o intestino dependem essencialmente da interação da criança com o ambiente. A partir dessa idade, a microbiota intestinal apresenta semelhança importante com aquela observada nos indivíduos adultos.


criança assoprando uma planta

Geralmente, na fase adulta, a microbiota fica relativamente estável sendo mais difícil a colonização por um microrganismo que não fazia parte da microbiota original do indivíduo.



Vamos conhecer um pouco sobre os 4 filos com maior ocorrência na microbiota intestinal humana:


Filo Bacteroidetes


Os Bacteroidetes são um dos filos predominantes no intestino humano e consistem principalmente de bactérias gram negativas. Esse grupo de bactérias possui características fermentativas e com capacidade de modular o sistema imune de forma benéfica.


No filo Bacteroidetes, dois gêneros bacterianos são prevalentes: Bacteroides e Prevotella, associados à manutenção da saúde intestinal e prevenção de doenças. Apesar das espécies do gênero Bacteroides serem mais frequentemente encontradas e mais abundantes, quando há presença de Prevotella este gênero se torna prevalente.


A maior abundância de Prevotella é tradicionalmente associada ao maior consumo de carboidratos, fibras e açúcares simples, enquanto que a abundância de Bacteroides usualmente é associado a dietas ricas em proteínas e gorduras saturadas.

As espécies do gênero Bacteroides, quando em desequilíbrio na microbiota intestinal, podem ser responsáveis por infecções significativas e podem estar associadas a doenças inflamatórias intestinais, como a Doença de Crohn.


Outro fato importante é a relação direta entre a colonização e o tipo de parto, pois é no momento da passagem pelo canal vaginal onde se adquire o maior número de bactérias benéficas, como Bifidobactérias e Bacteroidetes.


Filo Firmicutes


O filo Firmicutes contém mais de 200 gêneros de bactérias, que incluem várias espécies de Lactobacillus, e de Clostridium.

A grande maioria das Firmicutes são gram-positivas, ao contrário das Bacteroidetes que são gram-negativas. Possui tanto gêneros com atividade imunomodulatória benéfica, tais como Clostridium e Lactobacillus, como também espécies relacionadas a indução da inflamação, que estão diretamente associados a algumas doenças crônicas.


O principal modulador da microbiota intestinal é a alimentação, portanto, alimentos com elevados teores de gorduras saturadas e poli-insaturadas proporcionam um ambiente propício para ocorrência deste filo.


O consumo de calorias em excesso leva à proliferação de Firmicutes, permitindo a extração e estocagem de nutrientes com maior eficiência, auxiliando no ganho de peso.


Por outro lado, a ingestão de fibras, frutas e hortaliças, proporciona o aumento da produção de derivados da fermentação de carboidratos resultando um ambiente desfavorável para elas.


Algumas bactérias do gênero Clostridium são consideradas benéficas com propriedades probióticas, entretanto, outras foram associadas a condições patológicas como botulismo em bebês ou enterocolite necrosante em recém-nascidos prematuros.


A presença da bactéria Clostridium symbiosum na microbiota intestinal pode ser considerada um biomarcador para para a detecção precoce e não invasiva do câncer colorretal.

Filo Proteobacteria


A microbiota intestinal de indivíduos saudáveis apresenta uma proporção aproximada de até 5% do filo Proteobacteria.


Sob um estado clínico saudável ou assintomático, o aumento da proporção do filo Proteobacteria no intestino humano pode ser uma resposta transitória a alterações de fatores externos, como a dieta e outras intervenções. Entretanto, um aumento crônico do filo Proteobacteria é indicativo de uma comunidade microbiana instável.

Dentro deste filo encontram-se indivíduos da família Enterobacteriaceae como a Escherichia coli, considerada uma bactéria comensal e a sua presença em indivíduos assintomáticos pode ser habitual, entretanto em altas proporções pode estar associada a alterações funcionais e Doença Inflamatória Intestinal (DII).
Fonte:https://www.biome-hub.com/post/conhecendo-as-bact%C3%A9rias-da-microbiota-intestinal

A importância do estudo da microbiota intestinal

Atualizado: 19 de Mai de 2020

Você sabia que nosso estilo de vida, nosso nível de estresse e a nossa alimentação, têm muito a nos dizer sobre o nosso microbioma?

Desenho de um intestino gigante sen do examinado por três cientistas

O microbioma é o conjunto dos genes (genomas) de todos os microrganismos presentes em um habitat, levando em consideração as condições ambientais circundantes. O microbioma intestinal é composto por trilhões de microrganismos que podem conviver em simbiose com o ser humano, ou seja, sem causar qualquer tipo de doença ou malefício ao seu bem-estar. Pelo contrário, auxiliam desde o nascimento, na manutenção de funções fisiológicas.


O trato gastrointestinal humano apresenta diferentes composições bacterianas, sendo estas definidas geneticamente e/ou por características individuais e ambientais. Cada indivíduo possui uma microbiota intestinal única, que se desenvolve de acordo os hábitos de vida, uso de medicamentos, estresse e, até, a localização geográfica. Outro fator importante na alteração da microbiota intestinal é a dieta. Nossa alimentação pode afetar a sobrevivência e metabolismo dessas bactérias, causando alterações no padrão de colonização bacteriano.


Esses microrganismos podem auxiliar:

  • na manutenção da integridade da mucosa intestinal

  • em uma melhor absorção de nutrientes

  • no controle de proliferação de bactérias que podem ocasionar doenças


Além disso, uma microbiota saudável é capaz de produzir vitaminas, promover melhor absorção de nutrientes e fermentar fibras que levem à produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), moléculas com atividade anti-inflamatória.


Por que conhecer a microbiota intestinal


Porque as bactérias intestinais impactam diretamente na saúde, bem estar e longevidade dos indivíduos. A microbiota intestinal é uma das mais complexas de se entender e a menos conhecida. Isso porque ela facilmente sofre alterações resultantes de algumas doenças, da composição de uma dieta ou até mesmo de distúrbios gastrointestinais (aqueles que atingem os órgãos do sistema digestivo).


Desenho de um intestino em uma tela gigante. Dois cientistas apontando e estudando suas funções

A microbiota intestinal atua na absorção de nutrientes e medicamentos, além da síntese de vitaminas, como B12 e K. Ela também modula o sistema endócrino e com isso acaba influenciando o metabolismo do indivíduo. Modula também o sistema imune, ou seja, mantém a microbiota em equilíbrio ajudando a proteger contra microrganismos patogênicos.


Além disso, a microbiota intestinal também produz neurotransmissores que atuam no Sistema Nervoso Central, podendo influenciar em diversos aspectos da saúde, desde o comportamento até o próprio metabolismo. A alteração na composição da microbiota pode estar associada a várias doenças ou disfunções como as disbioses, que são caracterizadas por apresentar uma diversidade bacteriana reduzida.


O desequilíbrio da microbiota intestinal acarreta uma modificação nas funções que antes funcionavam de forma harmônica e pode levar a processos inflamatórios, favorecendo a permeabilidade intestinal e reduzindo a capacidade de absorção pelo intestino de nutrientes importantes, além de causar uma carência de vitaminas, principalmente do complexo B, além de vitaminas A, C e D. Além de causar alterações clínicas como a diarreia (associada a infecções ou ao tratamento por antibióticos), a alergia alimentar, o eczema atópico, doenças inflamatórias intestinais, artrite, entre outras.


Com a permeabilidade intestinal prejudicada, ocorre o aumento dos níveis de lipopolissacarídeos (LPS) circulantes que induzem inflamação e resistência à insulina. Além disso, indivíduos que apresentam uma baixa diversidade bacteriana apresentam quadros inflamatórios quando comparados com indivíduos com alta diversidade bacteriana.


As doenças inflamatórias intestinais


uma balança gigante, com bactérias em equilíbio, sobre uma mesa. Dois cientistas sentados a mesa trabalhando

Em pessoas saudáveis, o intestino mantém um certo equilíbrio, em que as bactérias relacionadas a saúde intestinal superam as causadoras de doenças.


A utilização de antibióticos, mudanças na dieta, quimioterapia para o câncer e processos infecciosos do trato gastrointestinal (TGI) podem alterar permanentemente ou transitoriamente o ecossistema intestinal.


A composição de bactérias colonizadoras da microbiota pode sofrer desequilíbrios e reações inflamatórias, ocasionando síndromes intestinais. Essas, são altamente incidentes na população mundial e uma ameaça ao bem-estar do ser humano.


Alguns sintomas como distensão abdominal, náuseas, diarreia, dentre outros, usualmente, são uma das maiores queixas de pacientes com problemas gastrointestinais ao procurar um profissional da saúde. Exemplos são a Doença de Crohn e a colite ulcerativa, as chamadas doenças inflamatórias intestinais (DIIs).


Vários estudos demonstraram que, a disbiose pode causar inflamação intestinal, característico da DII. Além disso, certas bactérias como a a Escherichia coli, a Fusobacterium e a Campylobacter podem estar relacionadas com o desenvolvimento da DII.


A microbiota intestinal tem mostrado grande influência na saúde e doença do hospedeiro. Dessa forma, tem grande importância a sua estabilização e manutenção completa desde a infância até a vida adulta, com o intuito de sofrer menos interferência dos fatores internos e externos que desencadeiam alterações da microbiota e que podem levar a determinadas patologias.

Fontes:


[1] Gilbert JA, Blaser MJ, Caporaso JG, Jansson JK, Lynch SV, Knight R. Current understanding of the human microbiome. Nature Medicine 2018;24:392–400.


[2] Maria Siniagina, MariaMarkelov, Alexander Laikov, Eugenia Boulygina, Dilyara Khusnutdinova, Anastasia Kharchenko, Albina Misbakhova, Tatiana Grigoryeva. Cultivated Escherichia coli diversity in intestinal microbiota of Crohn's disease patients and healthy individuals: Whole genome data. Available online 5 December 2019. https://doi.org/10.1016/j.dib.2019.104948


[3] Arnoriaga-Rodríguez, M., Fernández-Real, J.M. Microbiota impacts on chronic inflammation and metabolic syndrome - related cognitive dysfunction. Rev Endocr Metab Disord 20, 473–480 (2019) doi:10.1007/s11154-019-09537-5


4] Milani, Christian et al. “The First Microbial Colonizers of the Human Gut: Composition, Activities, and Health Implications of the Infant Gut Microbiota.” Microbiology and molecular biology reviews : MMBR vol. 81,4 e00036-17. 8 Nov. 2017, doi:10.1128/MMBR.00036-17


[5] Ottman N., Smidt H., de Vos W.M., Belzer C. The function of our microbiota: Who is out there and what do they do? Front. Cell. Infect. Microbiol. 2012;2:104. doi: 10.3389/fcimb.2012.00104.


[6] Barko P.C., McMichael M.A., Swanson K.S., Williams D.A. The Gastrointestinal Microbiome: A Review. J. Vet. Intern. Med. 2018;32:9–25. doi: 10.1111/jvim.14875.


[7] Sekirov I., Russell S.L., Antunes L.C., Finlay B.B. Gut microbiota in health and disease. Physiol. Rev. 2010;90:859–904. doi: 10.1152/physrev.00045.2009.
Fonte:https://www.biome-hub.com/post/a-import%C3%A2ncia-do-estudo-da-microbiota-intestinal

Como as dietas interferem na microbiota intestinal

Atualizado: 19 de Mai de 2020

#MicrobiotaIntestinal #Enterotipos #ModulaçãoIntestinal #Dietas



Inúmeras dietas são conhecidas hoje em dia, dentre elas estão as dietas vegana, vegetariana, glúten-free, mediterrânea, cetogênica entre outras. Mas até que ponto essas dietas interferem na composição da microbiota intestinal?


Esse tema tem sido alvo de inúmeros estudos nos últimos anos e hoje se sabe que um dos fatores principais que regulam a composição e fisiologia da microbiota intestinal são os carboidratos presentes no intestino e provenientes da dieta ou do muco intestinal.


No início da colonização da microbiota, os carboidratos disponíveis são provenientes do leite materno. A microbiota inicial tem basicamente quatro filos de microrganismos: Bacteroidetes, Proteobacteria, Firmicutes e Actinobacteria.


Em crianças que são amamentadas exclusivamente com o leite materno existe a predominância dos gêneros Lactobacillus e Bifidobacterium. Crianças que tomam fórmulas comerciais têm menos Lactobacillus e Bifidobacterium e um aumento significativo de Clostridium, Bacteroides e de membros da família Enterobacteriaceae. Ao serem introduzidos na alimentação, cereais, frutas e vegetais, outros microrganismos aparecem.


Dentre eles as bactérias gram-negativas como os Bacteroides, espécies do filo Firmicutes e as Actinobactérias. Nas bactérias dos adultos predominam os filos Firmicutes e Bacteroidetes. Essas análises mostram que o tipo de alimentação é um fator importante para a composição da microbiota intestinal.


Microbiota Intestinal


A microbiota existente nos seres humanos evoluiu de uma relação simbiótica que trouxe inúmeros benefícios, incluindo proteção contra patógenos, manutenção da integridade da barreira intestinal, contribuição de nutrientes, como vitaminas (vitamina K e B) e produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC). 


A composição da microbiota intestinal é única em cada indivíduo, composta de bactérias distintas, em sua maioria não patogênicas que são adquiridas no nascimento e a outra parte é definida pelas características ambientais, como a idade, os hábitos alimentares, que resultam numa grande variedade e torna a microbiota única para cada indivíduo.  


Quando comparamos geneticamente dois indivíduos é possível verificar que eles são 99,9% semelhantes, porém, ao compararmos a geneticamente seus microbiomas intestinais verifica-se que são de 80 a 90% diferentes. Através da identificação da diversidade de bactérias que compõem a microbiota, por meio do sequenciamento do DNA, é possível conduzir a modulação que elas podem sofrer.


O microbioma pode ser categorizado em três enterotipos, caracterizados pela abundância dominante de grupos de bactérias dos gêneros:


  • Bacteroides - mais pró-inflamatório e possivelmente relacionado ao risco aumentado de síndrome metabólica e outras condições patológicas

  • Prevotella - considerado principalmente anti-inflamatório e protetor

  • Ruminococcus - importância biológica é menos evidente

Predominantemente, as bactérias que compõem a microbiota são pertencentes aos filos Firmicutes e Bacteroidetes. 


Estudo recente em humanos detectou a presença mais frequente de dois enterotipos na microbiota intestinal: o tipo 1, rico em Bacteroides, fortemente associado ao consumo de proteína animal e gordura saturada, e o tipo 2, rico em Prevotella, associado à dieta baseada em carboidratos (cereais), composta por açúcares simples e fibras.


A composição da microbiota intestinal muda ao longo da vida e múltiplos fatores podem alterar essa composição como: estilo de vida, fatores ambientais, incluindo dieta, principalmente no que se refere ao teor excessivo de gorduras. A alteração na composição pode estar associada a várias doenças ou disfunções como as disbioses, que são caracterizadas por apresentar uma diversidade bacteriana reduzida, podendo afetar a permeabilidade intestinal.


Com a permeabilidade intestinal prejudicada, ocorre o aumento dos níveis de lipopolissacarídeos (LPS) circulantes que induzem inflamação e resistência à insulina. Além disso, indivíduos que apresentam uma baixa diversidade bacteriana apresentam quadros inflamatórios quando comparados com indivíduos com alta diversidade bacteriana. 


Dietas X microbiota intestinal


A dieta é um fator importante e determinante das características do tipo de colonização intestinal. Essa colonização é influenciada pelos hábitos alimentares de longo prazo, e também podem ser alteradas quando submetidas a intervenções de curto prazo. A composição da dieta parece ter efeitos agudos e de longo prazo no ecossistema da microbiota intestinal. Diferentes padrões alimentares de longo prazo, como dietas vegetarianas/veganas e onívoras, têm influência significativa na composição da microbiota intestinal. 

Para evitar inúmeros distúrbios, é importante entender melhor o papel da dieta na microbiota intestinal. Estudos que relacionam o tipo de dieta com a composição da microbiota intestinal mostraram que indivíduos que seguiam uma dieta rica em fibras e pobre em gordura (basicamente vegetariana), tinham maior diversidade bacteriana e níveis mais elevados de Prevotella e AGCC nas fezes, em comparação a indivíduos que tinham uma dieta moderna, rica em gorduras e pobre em fibras.


Esses indivíduos com dieta rica em gorduras e pobre em fibras, apresentavam uma baixa diversidade, uma maior quantidade de bactérias do filo Firmicutes e uma menor quantidade de AGCC fecais. Embora as fibras solúveis prebióticas e os probióticos sejam os fatores alimentares mais estudados associados a modulação intestinal, outros nutrientes e diferentes hábitos alimentares também podem afetá-la.


O uso de probióticos e prebióticos na alimentação pode ser medida preventiva ou terapêutica, por favorecer uma composição saudável e maior funcionalidade da microbiota, diminuindo LPS circulante, e portanto, a endotoxemia e a inflamação crônica.*



A alta ingestão de fibras também favorece o crescimento de espécies que fermentam fibras em metabólitos como ácidos graxos de cadeia curta, incluindo acetato, propionato e butirato. Os efeitos positivos para a saúde dos AGCC são inúmeros, incluindo:



  • Imunidade aprimorada contra patógenos

  • Integridade da barreira hematoencefálica

  • Fornecimento de substratos energéticos

  • Regulação das funções críticas do intestino.


Estudos comparando as dietas de crianças africanas, que possuem uma alimentação rica em fibras, com crianças europeias com uma alimentação baixa em fibras, mostraram diferenças significativas. No primeiro grupo, a microbiota mostrou ser formada mais por espécies de Bacteroidetes e Actinobacterias do que por Firmicutes e Proteobacteria. O oposto foi observado nas crianças europeias.


Também foram observadas diferenças nos gêneros encontrados: nas crianças africanas predominam o Prevotella e Xylanibacter, enquanto nas europeias, os gêneros Bacteroides e Alistipes prevalecem dentro dos Bacteroidetes, comprovando que as alterações na composição da microbiota são influenciadas diretamente pelo que é consumido nas dietas.


*É importante ressaltar que a suplementação de probióticos, prebióticos e simbióticos, assim como a dieta, devem ser feitos por um profissional qualificado, pois o uso incorreto pode causar resultados diferentes dos desejados.
Fonte:https://www.biome-hub.com/post/como-as-dietas-interferem-na-microbiota-intestinal

Glossário do microbioma

Atualizado: 20 de Out de 2020

Vamos falar sobre conceitos?




A microbiologia é a ciência que estuda os organismos vivos não visíveis ao olho nu. Se enquadram dentro de grupo os vírus, as bactérias, protozoários, leveduras e fungos microscópicos.


Com o surgimento da era do Microbioma surgiram novos conceitos. O termo microbioma tem origem nos biomas ecológicos (cerrado, pampas, amazônia…), mas se refere ao bioma microscópico, ou seja, a interação dos microrganismos e o ambiente onde está inserido, como por exemplo, o microbioma intestinal.


O mais importante é entender que a composição da microbiota, e consequentemente o microbioma, pode ser bastante variável entre diferentes indivíduos, diferentes sítios do corpo ou mesmo ao longo do tempo.


Nessa perspectiva, é importante elucidarmos alguns conceitos:


  • Gene: é um segmento de uma molécula de DNA responsável pelas características herdadas geneticamente.

  • Genoma: é o material genético de um determinado organismo.

  • Metagenoma: é o material genético total existente em uma determinada amostra, de todos os organismos nessa amostra presentes.

  • Microrganismos: pequenos organismos, muitas vezes unicelulares, incluindo bactérias, arqueas, vírus, leveduras, bolores, fungos, algas e plâncton.

  • Bactérias Patogênicas: são aquelas capazes de produzir doenças infecciosas aos seus hospedeiros sempre que estejam em circunstâncias favoráveis.

  • Prebióticos: são componentes alimentares (carboidratos) não digeríveis que afetam beneficamente o hospedeiro, por estimularem seletivamente a proliferação ou atividade de populações de bactérias desejáveis no cólon.

  • Probióticos: refere-se às bactérias benéficas que habitam o intestino e são parte integrante das funções gastrointestinais.

  • Simbióticos: é a combinação em quantidades variadas de prebióticos e probióticos.

  • Modulação Intestinal: é um conjunto de intervenções aplicadas ao trato gastrointestinal (TGI), com o objetivo principal de (re)equilibrar a composição microbiana do intestino, em termos qualitativos e quantitativos, e tendo como fim último a promoção da saúde do organismo do hospedeiro.

  • Disbiose: condição da microbiota intestinal em que um ou alguns microrganismos potencialmente nocivos estão presentes em grandes quantidades, criando, portanto, uma situação propensa a doenças, ou resultando em outras perturbações perceptíveis da microbiota, como fezes líquidas, infecções gastrointestinais ou inflamações.

  • O estado de disbiose: desequilíbrio da microbiota caracterizado pela queda da diversidade de bactérias, com o aumento da proporção de bactérias patogênicas.

  • Eubiose: anteriormente denominada “normobiose”, trata-se da composição de uma microbiota estável ou balanceada em um indivíduo saudável. Ainda não se sabe como se constitui exatamente a eubiose e, portanto, não há uma definição geral em relação à composição ou função bacteriana.

  • Patobiontes: bactérias que habitualmente não causam danos à saúde, porém, em algumas situações, como o desequilíbrio na microbiota intestinal, possuem um potencial de induzir processos inflamatórios.

  • Microbiota intestinal: é a complexa comunidade de microrganismos (bactérias, fungos, vírus e etc) que habitam nosso trato gastrointestinal.

  • Microbioma intestinal: é o conjunto de todos os genomas (genes) desses microrganismos, levando em consideração seu habitat e as condições ambientais de onde eles estão.

  • Probiome: é um teste molecular capaz de detectar a complexa comunidade de bactérias que compõe a microbiota intestinal, através do sequenciamento do DNA dessas bactérias.


Agora que todos os conceitos estão claros para você, fica mais fácil o entendimento dos textos sobre a temática microbioma humano.


Caso você ainda tenha alguma dúvida sobre conceitos relacionados, envie para o e-mail contact@biome-hub.com. Esse texto será atualizado sempre que necessário.
Fontes:

Marchesi, J.R., Ravel, J. The vocabulary of microbiome research: a proposal. Microbiome 3, 31 (2015) doi:10.1186/s40168-015-0094-5

MInistério do Meio Ambiente. https://www.mma.gov.br/estruturas/chm/_arquivos/Aval_Conhec_Cap2.pdfhttps://www.biome-hub.com/post/gloss%C3%A1rio-do-microbioma

A interação entre o microbioma oral e a saúde intestinal

Atualizado: Jan 11

Existem fortes evidências que sugerem uma ligação entre o microbioma oral e a saúde intestinal.


menina sorrindo com destaque nos microrganismos presentes na boca

Quem diria que as bactérias presentes na boca poderiam afetar o equilíbrio do microbioma intestinal? Algumas espécies de bactérias orais conseguem resistir a ação do ácido gástrico presente no estômago e chegam ao intestino, enquanto outras entram na corrente sanguínea e avançam para o cólon.


As bactérias mais prevalentes na cavidade oral são membros dos filos Firmicutes, Proteobacteria e Actinobacteria. No entanto, ao contrário do intestino, o ecossistema bacteriano oral é relativamente estável e não está sujeito a mudanças significativas. Algumas bactérias orais, como Porphyromonas gingivalis , estão associadas à disbiose intestinal.


Na boca, essas bactérias que causam periodontite - uma inflamação e infecção das gengivas -, mas também estão ligadas a uma série de doenças graves associadas ao desequilíbrio no microbioma intestinal. Isso ocorre pois existe a possibilidade de bactérias associadas a cáries e doenças da gengiva chegarem ao intestino e afetarem o equilibrio do microbioma intestinal.

O microbioma intestinal


O microbioma intestinal é um ecossistema complexo que consiste principalmente de bactérias que vivem em harmonia com o corpo humano. Esse microbioma fornece uma série de benefícios, como:

  • fortalecer a barreira intestinal,

  • apoiar o sistema imunológico,

  • fornecer energia e

  • protegê-lo de patógenos oportunistas que podem deixá-lo doente.


É importante entender que a microbiota intestinal é composta por microrganismos que convivem conosco de forma harmoniosa e que até podem nos fazer bem quando mantidos em equilíbrio (chamados de simbiontes ou comensais). A função adequada da microbiota intestinal depende de uma composição estável.


Mesmo que o intestino tenha uma série de barreiras para impedir a entrada de patógenos, como ácido gástrico presente no estômago, bactérias probióticas e células imunológicas, as bactérias da microbiota oral ainda podem entrar e desequilibrar esse ecossistema. Quando a microbiota intestinal está desequilibrada, isso é conhecido como disbiose e está relacionado a uma série de problemas de saúde.


Como as bactérias da microbiota oral conseguem chegar até o estômago e intestino?


A saliva é o principal transportador de bactérias orais. Composto por 98% de água, as glândulas salivares humanas podem produzir até 1,5 litros por dia. Este líquido essencial mantém a boca hidratada e ajuda a digerir os alimentos.


As bactérias orais podem ser carreadas pela saliva e se espalhar por todo o corpo, incluindo o intestino. Pessoas com doenças na gengiva podem engolir uma grande quantidade de Porphyromonas gingivalis todos os dias. Esta bactéria é particularmente resistente a condições adversas porque pode resistir à acidez do estômago e chegar ao intestino. Aqui, ela pode acionar o sistema imunológico e promover inflamação, os quais podem alterar a composição do microbioma intestinal, resultando em disbiose.

Em algumas doenças graves, quantidades aumentadas de bactérias orais foram observadas no intestino, sugerindo que há uma ligação entre os dois. Em particular, medicamentos para refluxo gástrico crônico, chamados inibidores da bomba de prótons (IBP), também podem facilitar a passagem de microrganismos da boca para o intestino, pois reduzem a produção de ácido gástrico considerado uma barreira microbiana importante.

Microbiota oral e a barreira intestinal


O funcionamento adequado da microbiota intestinal depende de uma composição estável. Logo, uma alteração entre os diferentes grupos de bactérias presentes na microbiota ou a proliferação de novos grupos bacterianos podem levar a um desequilíbrio da mesma.


As bactérias da microbiota intestinal ficam restritas ao intestino graças a uma parede impermeável de células que impede que elas escapem e caiam na corrente sanguínea. Há situações em que a membrana que protege o intestino fica danificada (ou permeável), permitindo que substâncias tóxicas e bactérias intestinais caiam na corrente sanguínea.

O desequilíbrio da microbiota intestinal acarreta uma cascata de alterações nas funções do organismo que antes atuavam de forma harmônica, levando a processos inflamatórios, e consequentemente, favorecendo a permeabilidade intestinal.


Um estudo mostrou que uma única administração de P. gingivalis altera significativamente a composição do microbioma intestinal e afeta a função e integridade da barreira intestinal.

O que isso significa para o seu intestino? Quando o revestimento intestinal é comprometido, nossos microrganismos intestinais podem escapar e acabar em locais a que não pertencem, como outros órgãos. À medida que se acumulam nessas áreas, as toxinas e metabólitos secretados podem levar à reações inflamatórias que danificam os tecidos e levam ao desenvolvimento de condições crônicas.


O papel da disbiose oral e outras doenças


A disbiose oral também está associada a outras doenças crônicas, incluindo a artrite reumatoide. Os mecanismos pelos quais esta doença e a periodontite estão ligadas são semelhantes, pois as bactérias patogênicas causam inflamação e perda óssea.


Alguns estudos mostraram que o desequilíbrio da microbita intestinal e oral estão intimamente relacionados ao desenvolvimento de doenças hepáticas. Ao comparar a composição dos microbiomas intestinais de pessoas saudáveis ​​e aquelas com cirrose hepática, constatou-se que as últimas apresentam altos níveis de bactérias orais em seus intestinos.


Em última análise, uma grande abundância de bactérias da microbiota oral no intestino pode ter consequências negativas para a saúde.

Felizmente, adotar uma boa higiene bucal pode ser positivo tanto para sua saúde bucal quanto para a saúde em geral.


Existem dentistas de planos odontológicos que sabem identificar o surgimento de tais bactérias e conseguem reconhecer como elas podem interferir em todo o processo da saúde da boca e do corpo.


Por isso, se faz necessário não só os cuidados que temos em casa, mas também o acompanhamento regular de um profissional. É ele quem poderá identificar quando algo não está indo bem da nossa boca e indicar os melhores tratamentos e precauções.


dentista tratando os dentes de um paciente

Você pode encontrar um dentista especializado através de convênios odontológicos, por exemplo, ou procurar por profissionais clínicos. O importante mesmo é não esquecer de fazer sempre um acompanhamento da sua saúde bucal.


Além disso, a ingestão de uma dieta saudavél (e, portanto, fibras e nutrientes dietéticos) ajudará a manter as bactérias intestinais que promovem a saúde. Isso aumentará a atividade das bactérias, fortalecerá a barreira intestinal e apoiará o sistema imunológico.


Fontes:


Abed, J et al. Fap2 Mediates Fusobacterium nucleatum Colorectal Adenocarcinoma Enrichment by Binding to Tumor-Expressed Gal-GalNAc, 2016

Allaker, R, P and Stephen, A, S. Use of Probiotics and Oral Health, 2017* Bruno, G et al. Proton Pump Inhibitors and Dysbiosis: Current Knowledge and Aspects to be Clarified, 2014


Chelakkot, C et al. Mechanisms Regulating Intestinal Barrier Integrity and Its Pathological Implications, 2018


Flynn, K, J et al. Metabolic and Community Synergy of Oral Bacteria in Colorectal Cancer, 2016


Kato, T et al. Oral Administration of Porphyromonas gingivalis Alters the Gut Microbiome and Serum Metabolome, 2018


Lu, M et al. Oral Microbiota: A New View of Body Health, 2019


Nakajima, M et al. Oral Administration of P. gingivalis Induces Dysbiosis of Gut Microbiota and Impaired Barrier Function Leading to Dissemination of Enterobacteria to the Liver, 2015


Neves, A, L et al. Metabolic Endotoxemia: A Molecular Link Between Obesity and Cardiovascular Risk, 2013


Olsen, I and Yamazaki, K. Can Oral Bacteria Affect the Microbiome of the Gut, 2019


Shang, F, M and Liu, H, L. Fusobacterium nucleatum and Colorectal Cancer: A Review, 2018


Tam, J et al. Obesity Alters Composition and Diversity of the Oral Microbiota in Patients with Type 2 Diabetes Mellitus Independently of Glycemic Control, 2018


The Marshall Protocol Knowledge Base. Microbes in the Human Body, 2020


Thursby, E and Juge, N. Introduction to the Human Gut Microbiota, 2017


Tiwari, M. Science Behind Human Saliva, 2011
Fonte:https://www.biome-hub.com/post/a-intera%C3%A7%C3%A3o-entre-o-microbioma-oral-e-a-sa%C3%BAde-intestinal

Probióticos: vilões ou mocinhos?

Atualizado: 19 de Mai de 2020

Entenda quando eles devem ser, ou não, consumidos


Homem com dor estomacal. Comprimidos e capsulas de remédio e probiótico circulando o homems

Nos últimos anos os probióticos estão cada vez mais populares pela sua capacidade de equilibrar a microbiota intestinal e melhorar o bem-estar. Em pessoas saudáveis, o intestino mantém um certo equilíbrio, em que as bactérias relacionadas a saúde intestinal superam as causadoras de doenças. No entanto, quando ocorre uma diminuição nos níveis de bactérias benéficas, pode ocorrer um desequilíbrio, ou seja, uma disbiose.


Uma microbiota intestinal desbalanceada pode causar alterações clínicas como a diarreia (associada a infecções ou ao tratamento por antibióticos), a alergia alimentar, o eczema atópico, doenças inflamatórias intestinais, artrite, entre outras. Sendo assim, a correção das proporções de microrganismos de uma microbiota em desequilíbrio constitui a base da terapia por probióticos.


Embora haja evidências e conhecimento crescente sobre probióticos, não é uma tarefa fácil para os profissionais da saúde escolherem o probiótico mais apropriado para cada caso. Isso ocorre porque o termo "probiótico" é um nome genérico que agrupa uma enorme quantidade de cepas bacterianas e outros microrganismos.


Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), os probióticos são definidos como “microrganismos vivos que, ingeridos em quantidades adequadas, têm efeitos benéficos no organismo”.


Esses microrganismos pertencem a diferentes gêneros e espécies, como bactérias e leveduras, que podem contribuir para a manutenção do equilíbrio da nossa microbiota, sendo frequentemente utilizados no tratamento e prevenção de sintomas ou desconfortos digestivos. Entretanto, para que as cepas sejam qualificadas como probióticas seus efeitos benéficos para o hospedeiro devem ter sido comprovados cientificamente.


A maioria dos probióticos é constituída de bactérias ácido-láticas, que crescem em baixa concentração de oxigênio (microaerofilia). São espécies ácido-láticas os gêneros Lactobacillus, Bifidobacterium, Enterococcus, Lactococcus, Leuconostoc, Pediococcus, SporoLactobacillus e Streptococcus. Mais raramente outras espécies não ácido-láticas, tais como, Bacillus cereus, Escherichia coli e Propionibacterium freudenreichii; e as leveduras Saccharomyces cerevisiae e Saccharomyces boulardii podem fazer parte da formulação de probióticos também.


microrganismos variados

Quais os benéficos do uso de probióticos?


Em geral, os microrganismos probióticos agem de várias maneiras, incluindo modulação da função imunológica, produção de ácidos orgânicos e compostos antimicrobianos, interação com a microbiota residente e melhorando a integridade da barreira intestinal.


Os probióticos auxiliam a recompor a microbiota intestinal, através da adesão e colonização da mucosa intestinal. Esta ação impede a adesão e subsequente produção de toxinas ou invasão das células epiteliais, a fina camada de células cuja função é proteger o corpo contra toxinas e bactérias patogênicas.


Adicionalmente, os probióticos competem com as bactérias indesejáveis pelos nutrientes disponíveis no nicho ecológico. O hospedeiro fornece as quantidades de nutrientes que as bactérias intestinais necessitam e estas indicam ativamente as suas necessidades.


Essa relação simbiótica impede uma produção excessiva de nutrientes, a qual favoreceria o estabelecimento de competidores microbianos com potencial patogênico ao hospedeiro. Além disso, os probióticos podem impedir a multiplicação de seus competidores, através de compostos antimicrobianos, principalmente as bacteriocinas.


Há situações específicas em que os probióticos podem ser úteis, como reduzir a gravidade da diarreia após a exposição a patógenos e ajudar a restaurar a microbiota intestinal ou vaginal após o tratamento com antibióticos.

A maioria dos probióticos são seguros para a maior parte da população, porém sempre é importante consultar um profissional de saúde. Pacientes que possuem alguma desordem autoimune, enfermidade grave ou crianças pequenas devem sempre consultar um profissional de saúde.




Todo cuidado é pouco!


Se você é uma pessoa saudável e deseja consumir probióticos porque imagina que isso possa melhorar sua microbiota, a melhor coisa a fazer é consultar com um médico ou um nutricionista. O consumo de probióticos sem prescrição pode agravar eventuais sintomas gastrointestinais. Isso porque cada tipo de probiótico tem indicação e dose específicas e deve ser usado por tempo determinado.


médica prescrevendo remédio para sua paciente

Embora sejam considerados eficazes e seguros por vários estudos científicos, os probióticos trazem preocupação a órgãos reguladores como a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), principalmente pela complexidade do microbioma onde eles atuam.


Em contrapartida, estudos mostram que existem situações em que é melhor evitá-los. Um desses estudos, publicado na revista no Proceedings of National Academy of Sciences (PNAS), concluiu que as bactérias presentes nos probióticos são, sim, saudáveis para algumas pessoas. Mas em alguns casos é capaz de prejudicar a saúde.


A justificativa para a diferença nos resultados está relacionado à integridade do epitélio intestinal. Uma vez que a barreira intestinal tenha sido danificada, os probióticos podem ser prejudiciais como qualquer outra bactéria patobionte, e dessa forma prejudicar as funções intestinais.

Ao optar por um tratamento com probiótico, é importante esclarecer o efeito desejado para a saúde e, assim, escolher o produto que contenha as bactérias mais adequadas para cada situação. Os probióticos não devem ser indicados como uma fórmula pronta, e sim, de uma forma individualizada.


*O conteúdo deste blog é para fins educacionais e não se destina a oferecer aconselhamento médico pessoal. Você deve consultar o seu médico ou outro profissional de saúde qualificado com qualquer dúvida que possa ter em relação a uma condição médica. Nunca desconsidere o aconselhamento médico profissional ou demore em procurá-lo por causa de algo que você leu neste blog. Não recomendamos nenhum produto.


Fontes:


Ana M Valdes, Jens Walter, Eran Segal, Tim D Spector. Role of the gut microbiota in nutrition and health. BMJ 2018;361:k2179. doi: https://doi.org/10.1136/bmj.k2179


Coppa GV, Bruni S, Morelli L, Soldi S, Gabrielli O. The first probiotic in humans: human milk oligosaccharides. J Clin Gastroenterol. 2004;38:S80-3.


Sanders, M. E., Merenstein, D. J., Reid, G., Gibson, G. R., & Rastall, R. A. . Probiotics and prebiotics in intestinal health and disease: from biology to the clinic. Nature Reviews Gastroenterology & Hepatology. Oct;16(10):605-616. 2019. doi:10.1038/s41575-019-0173-3


Harvard School Public Health https://www.hsph.harvard.edu/nutritionsource/microbiome/


Woojung Shin, Hyun Jung Kim. Intestinal barrier dysfunction orchestrates the onset of inflammatory host–microbiome cross-talk in a human gut inflammation-on-a-chip. Proceedings of the National Academy of Sciences Nov 2018, 115 (45) E10539-E10547; doi: 10.1073/pnas.1810819115


Koutnikova H, Genser B, Monteiro-Sepulveda M, et alImpact of bacterial probiotics on obesity, diabetes and non-alcoholic fatty liver disease related variables: a systematic review and meta-analysis of randomised controlled trialsBMJ Open 2019;9:e017995. doi: 10.1136/bmjopen-2017-017995
Fonte:https://www.biome-hub.com/post/probi%C3%B3ticos-vil%C3%B5es-ou-mocinhos


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