CARL GUSTAV JUNG,UM DOS GRANDES GÊNIOS DA PSICOLOGIA PROFUNDA,COM UMA EXTENSA OBRA A PARTIR DE UM MERGULHO NO PRÓPRIO UNIVERSO INTERIOR

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INTRODUÇÃO
Carl Gustav Jung (1875-1961) foi um psiquiatra suíço, fundador da escola da Psicologia Analítica. Desenvolveu os conceitos da personalidade extrovertida e introvertida, de arquétipos e do inconsciente coletivo.
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Carl Gustav Jung (1874-1961) nasceu em Kesswil, na Suíça, no dia 26 de junho de 1875. Filho de um pastor protestante, com quatro anos, mudou-se com a família para a Basiléia, na época, um grande centro cultural da Suíça. Estudou biologia, zoologia, paleontologia e arqueologia. Em 1895 ingressou na Universidade de Medicina da Basiléia e logo despertou o interesse pelos fenômenos psíquicos. Concluiu o curso em 1900.
Carl Gustav Jung iniciou sua vida profissional como assistente do psiquiatra Eugen Bleuler, na Clínica Bugholzli, em Zurique. Em 1902 obteve o doutorado na Universidade de Zurique, com a dissertação “Psicologia e Patologia dos Fenômenos Chamados Ocultos”. Em 1904 montou um laboratório experimental onde iniciou a aplicação de sua tese para o diagnóstico psiquiátrico, através da associação das palavras. Identificou conteúdos psíquicos reprimidos para o qual denominou de “complexo”, estudo esse muito explorado por Freud.
Em 1905 tornou-se livre docente de Psiquiatria na Universidade de Zurique. Em 1907 iniciou seu contato com Freud. Em 1908, juntos com Adler, Jones e Stekel, se reuniram no primeiro Congresso Internacional de Psicanálise. Dois anos mais tarde, o grupo fundou a Associação Internacional Psicanalítica, da qual Jung se tornou o presidente e criou sucursais em vários países.
Depois de vários anos trabalhando juntos, Jung e Freud viram que suas relações estavam chegando ao fim, com Jung de um lado contestando os princípios da análise de Freud sobre a grande influência que os traumas sexuais deixavam na vida humana e por outro lado, Freud não admitia que os fenômenos espirituais fossem usados por Jung como fonte de estudos.
O relacionamento de Jung com Freud acabou de vez quando Jung publicou “Psicologia do Inconsciente” (1911) no qual fez alguns argumentos contra as ideias de Freud. Em 1912 publicou “Símbolos e Transformações da Libido”. Jung procurava entender o significado simbólico dos conteúdos do inconsciente, a fim de fazer a distinção entre a psicologia individual e a psicanálise, deu à sua disciplina o nome de “Psicologia Analítica”.
Carl Gustav Jung seguiu seu caminho e destacou-se no uso de técnicas de estudos dos desenhos e dos sonhos. Ambos relacionados ao inconsciente humano. Publicou “Tipos Psicológicos” e estabeleceu as diferenças entre sua posição e a de Freud. Estudou a simbologia mitológica e religiosa. Publicou dezenas de outros estudos e trabalhos. Aos 80 anos escreveu um livro de memórias, que foi aclamado pela crítica especializada.
Carl Gustav Jung faleceu em Zurique, na Suíça, no dia 6 de junho de 1961.
Jung desenvolveu sua teoria observando o seu próprio universo interior, o qual ele expressa claramente em sua autobiografia “Memórias, Sonhos e Reflexões” (1963). Profundamente interessado em Mitologia, Psicologia e Religião, Jung questionava os dogmas protestantes, e consequentemente entrava em conflito com seu pai, um pastor fervoroso, cuja fé incondicional o filho não compreendia. Este fato motivá-lo-ia a se aprofundar nos estudos religiosos e a tentar aliar religião e ciência, o que culminou na sua formação em Psiquiatria, a qual unia a natureza (ciência) e a alma (psique).
Durante a sua mocidade, interessou-se igualmente por Literatura e Filosofia, especialmente pelas obras de Pitágoras, Empédocles, Heráclito, Platão, Kant, Goethe, e Schopenhaue
Em 1900, Jung foi trabalhar na Clínica Psiquiátrica Burgholzli, em Zurique, dirigida pelo psiquiatra Eugen Bleuler, famoso por suas idéias e compreensão da esquizofrenia.
Ali Jung desenvolveu estudos e pesquisa sobre a associação de palavras para obter o diagnóstico psiquiátrico. Na época, Jung já tratava seus pacientes como seres únicos e não via a patologia de maneira isolada, portanto acreditava que o processo de cada paciente também seria único, não existindo uma receita de tratamento para cada doença.
Após um período estudando com Pierre Janet, em Paris, em 1902, retomou seu trabalho no hospital de Burgholzi, onde, em 1904, montou um laboratório experimental em que implementou o seu célebre teste de associação de palavras para o diagnóstico psiquiátrico.
Seus intensos estudos, aliados a sua natural curiosidade e sede insaciável por conhecimento, levaram-no até a obra de Sigmund Freud (1856-1939), com o qual Jung entrou em ressonância, ao se dar conta de que partilhavam algumas idéias e teorias. Assim, iniciou com Freud uma fértil e longa correspondência (estendendo-se de 1906 a 1913 e posteriormente publicada), que resultou em ampla colaboração e troca de conceitos fundamentais para a evolução da concepção de inconsciente e consequente tratamento de psicopatias.
Carta de Freud a Jung (1913)
Seu primeiro encontro, em 27 de fevereiro de 1907, durou 13 horas e deu início a um relacionamento de aproximadamente 7 anos, rico em troca de confidências, análise de  sonhos e dicussão de casos clínicos.
Porém, tamanha identidade de pensamentos não resistiu a algumas diferenças fundamentais. Jung jamais conseguiu aceitar a insistência de Freud de que as causas dos conflitos psíquicos sempre envolveriam algum trauma de natureza sexual, e Freud não reconhecia como verdadeira a idéia de que o inconsciente é uma instância maior, cujos objetivos vão muito além de somente guardar o material reprimido, traumas e o que não interessa mais para o indivíduo. Assim, o desgaste da amizade foi inevitável, assim como sua ruptura.
Primeira fileira: Sigmund Freud, Stanley Hall, Carl Gustav Jung; segunda fileira: Abraham Brill, Ernest Jones, Sandor Ferenczi. Universidade de Clark, Massachusetts, Estados Unidos da América, Setembro de 1909.
Jung sofreu muito com a separação, como ele mesmo afirma: “Depois da ruptura com Freud, começou para mim um período de incerteza interior, e mais que isso, de desorientação” (JUNG, 1963, p.152). A partir de então, os inúmeros sonhos e imagens que lhe acudiam à mente renderam um rico material a ser integrado que, segundo suas palavras, se não fosse elaborado, lhe traria um sério risco de sucumbir a uma psicose. Porém, sua força de vida e sabedoria o motivavam a tentar buscar e compreender todo aquele material que aflorava, proveniente do seu inconsciente: “Os anos durante os quais me detive nessas imagens interiores constituíram a época mais importante da minha vida e neles todas as coisas essenciais se decidiram. (…) Toda a minha atividade ulterior consistiu em elaborar o que jorrava do inconsciente naqueles anos e que inicialmente me inundara: era a matéria-prima para a obra de uma vida inteira”. JUNG, 1963, p.176.

Congreso Psicoanalítico Internacional de 1911, presidido por Jung (no centro, à direita de Freud).

Foi durante toda esta fase da sua vida que Jung travou o confronto com o seu inconsciente, através da interação da sua consciência com os diversos personagens que surgiram por meio de sonhos, fantasias e imaginação, vivenciando o desenvolvimento do enredo que estas formas inconscientes propunham. A este processo Jung chamou “Imaginação ativa”, um método para que o indivíduo compreenda seu inconscientee com ele interaja, de modo a transformá-lo e por ele ser transformado.
Carl Gustav Jung faleceu no dia 6 de junho de 1961, aos 86 anos, em sua casa, a qual ficava nas margens do lago de Zurique, em Küsnacht. Teve uma vida altamente produtiva, que trouxe contribuições para a Psicologia, Medicina, Antropologia, Sociologia, Arte, Literatura e Mitologia.
Definiu sua vida da seguinte maneira: “Minha vida é a história de um inconsciente que se realizou. Tudo o que nele repousa aspira a tornar-se acontecimento, e a personalidade, por seu lado, quer evoluir a partir de suas condições inconscientes e experimentar-se como totalidade”. JUNG, 1963, p.19.

Jung desenvolveu um sistema teórico que nomeou primeiramente como “Psicologia dos complexos”, e mais tarde chamou de “Psicologia Analítica”, cujo cerne se reporta às diversas maneiras como o inconsciente se expressa, isto é, aos sonhos, à imaginação e a desenhos. Segundo sua teoria, o inconsciente subdivide-se em pessoal e coletivo, sendo aquele formado por material reprimido e complexos, e este constituído por material arquetípico comum a toda a humanidade.

Jung

BIOGRAFIA DE JUNG


Breve Biografia

Carl Gustav Jung – 26.07.1875 / 06.06.1961

Jung nasceu na Turgóvia – Suiça, em 26 de julho de 1875. Seu pai e vários parentes eram pastores, e desde a infância foi afetado por questões religiosas e espirituais.
Jung era muito interessado em filosofia e literatura. Pesquisou as tradições ocidentais que lidavam com o desenvolvimento da consciência. Pesquisou muito sobre símbolos, alquimia, mitos e simbolismos.
Quando jovem foi impressionado por Goethe, Nietzsche.
Em 1900 se formou em medicina, especializando-se em psiquiatra, na Clínica Psiquiatra Burgholzli em Zurique, um dos mais progressivos centros psiquiátricos da Europa Lá desenvolveu importante pesquisa utilizando o teste de associação de palavras, no qual conseguiu comprovar, experimentalmente, a influência de complexos inconscientes na fala. Esta pesquisa o aproximou de Freud.
Em 1902, Jung estudou com Pierre Janet, um notável psiquiatra francês.
Em 1904, Jung montou um laboratório experimental na Clínica Psiquiátrica e desenvolveu o teste de associação de palavras para diagnóstico psiquiátrico.
Em 1905, Jung com trinta anos, tornou-se professor em psiquiatria na Universidade de Zurique e médico efetivo na Clínica Psiquiátrica.
Apesar das fortes críticas apontadas a Freud nos meios científicos e acadêmicos, Jung estava convencido do valor do trabalho de Freud. Em 1906 enviou cópias de seus artigos e de seu primeiro livro e, em seguida, Freud o convidou para ir a Viena.
Em 1907 houve o primeiro encontro com Freud, que durou treze horas, sem pausa. Passaram a trocar correspondências semanais, e Freud passou a considerar Jung seu sucessor. Apesar da amizade, os dois discordavam em pontos fundamentais. Jung não aceitava a insistência de Freud de que as causas da repressão eram sempre traumas sexuais. E Freud, por sua vez, ficava apreensivo com o interesse de Jung pelos fenômenos mitológicos, espirituais e ocultos.
Ao contrário do que muitas pessoas pensam, Jung não foi apenas aluno ou discípulo de Freud. Os dois pesquisadores trabalharam juntos na criação e divulgação da psicanálise. Mas em 1912 rompem definitivamente por divergências teóricas, quando Jung publica Símbolos da Transformação, que incluía sua análise da libido como uma energia psíquica (energia vital), diferente de Freud que defendia libido unicamente como energia sexual. Este rompimento foi doloroso para Jung, mas se manteve fiel às suas convicções. Jung se difere de Freud principalmente pela noção mais alargada da libido e pela introdução do conceito de inconsciente coletivo, e desenvolveu suas próprias teorias sobre processos inconscientes e sobre a análise dos sonhos, criando a Psicologia Analítica (Jung considera analítico todo procedimento que se confronta com a existência do inconsciente) ou Psicologia Junguiana.
Conceitos como complexo, introversão, extroversão, inconsciente coletivo, anima, animus, self, arquétipo, sincronicidade, entre outros, são de sua autoria.
Congresso Psicoanalítico Internacional de 1911,
presidido por Jung no centro, à esquerda de Freud

Veja os principais conceitos de Jung:
– Atitudes: introversão e extroversão
– Funções: pensamento, sentimento, sensação e Intuição
– Imaginação Ativa
– Inconsciente pessoal
– Inconsciente coletivo
– Arquétipos
– Símbolos
– Instinto e vontade
– Complexo/Constelação
– Persona
– Sombra
– Anima e animus
– Self
– Função Transcendente
– Processo de Individuação
– Sincronicidade
A psicologia de Jung está basicamente interessada no equilíbrio entre os processos conscientes e inconscientes. Seu objetivo sempre foi o de ajudar as pessoas a se conhecerem melhor e que através deste conhecimento e da reflexão de seus comportamentos pudessem usufruir de vidas mais plenas e felizes.
Escreveu toda sua obra profundamente comprometido com as manifestações do inconsciente, o que o torna sempre atual e desperta um crescente interesse.
“Ocorre um fato notável na psicoterapia:
você não pode decorar nenhuma receita e aplicá-la 
mais ou menos adequadamente,
mas só é capaz de curar a partir de um ponto central;
este consiste em compreender o paciente 
como um todo psicológico e 
chegar a ele como um ser humano,
deixando de lado toda a teoria e ouvindo atentamente 
o que quer que ele venha a dizer” 
Jung
Para quem quer se aprofundar em sua teoria, a indicação é começar lendo sua autobiografia: Memórias, Sonhos e Reflexões.
No prólogo ele cita: “Minha vida é a história de um inconsciente que se realizou”, nos ensinando o quanto é importante o (re)conhecimento do inconsciente em nossa vida. A leitura desse livro é imprescindível não apenas para uma maior compreensão da vida do criador da Psicologia Analítica, como também para um melhor entendimento de seus conceitos.
Marie-Louise voz Franz foi uma das mais importantes colaboradoras de Jung, e após sua morte desenvolveu um amplo trabalho abordando temas como a alquimia, a interpretação psicológica dos sonhos e dos contos de fadas.
Outra importante analista foi Nise da Silveira, psiquiatra brasileira contrária ao tratamento agressivo nos hospitais psiquiátricos de sua época. Nise criou o Museu de Imagens do Inconsciente – RJ, o qual possui obras de arte manuais e plásticas de pacientes psiquiátricos, relacionando-os com a teoria do seu tutor, C.G. Jung.
Se quiser saber mais sobre Nise da Silveira, acesse a página sobre inconsciente no link abaixo, e veja no final da página:
Dez dias antes de morrer, Jung termina um ensaio para o livro: “O Homem e Seus Símbolos”. Livro que super indico para quem quer estudar mais sobre o inconsciente.
Jung faleceu em 06 de junho de 1961 em Zurique, pouco antes de completar 86 anos.

AS OBRAS COMPLETAS DE JUNG

Devido à metodologia usada por Jung, seus escritos costumam ser de leitura difícil para quem não tem o hábito de ler seus escritos. É recomendável iniciar por algum de seus comentadores, como Nise da Silveira (Jung: vida e obra) e Aniela Jaffé (Memórias, sonhos e reflexões de C. C. Jung).
Os 19 volumes da edição em língua portuguesa foram lançados entre os anos de 1978 e 2003 pela Editora Vozes.
Vol. 1 – Estudos Psiquiátricos: 
Esse volume reúne os primeiros escritos psiquiátricos de Jung sobre os chamados fenômenos ocultos:
– Sobre a psicologia e patologia dos fenômenos chamados ocultos (1902)
– Erros histéricos da leitura (1904)
– Criptomnésia (1905)
– Distimia maníaca (1903)
Vol 2 – Estudos Experimentais:
Contém as contribuições de Jung aos “Estudos diagnósticos de associações”, cujas principais experiências foram realizadas, sob a sua direção, na clínica psiquiátrica da Universidade de Zurique, a partir de 1902 e publicados entre 1904 e 1910. Outros estudos incluídos referem-se aos trabalhos de “Pesquisas Psicofísicas” (1907-1908).
Vol 3 – Psicogênese das Doenças Mentais: 
Os artigos integrantes desse volume pertencem à fase das primeiras publicações de Jung e, na sua maioria, abordam temas psiquiátricos, de modo particular a esquizofrenia.
Vol 4 – Freud e a Psicanálise: 
Reúne os principais escritos de Jung sobre Freud e sobre a psicanálise, destacando as mudanças do seu ponto de vista sobre a ciência freudiana. Contém uma análise detalhada sobre as ideias fundamentais de Jung e as suas diferenças em relação às de Freud.
Vol 5 – Símbolos da Transformação:
Versão completa e definitiva de uma das mais importantes e avançadas obras de Jung, publicada em 1952. O texto original, denominado, Símbolos e transformações da libido data de 1911-12. A elaboração da versão definitiva se estendeu por quase 40 anos. Esse escrito, em que Jung abandona a terminologia da psicanálise e da psiquiatria da época, assinala o ponto de sua ruptura com Freud.
Vol 6 – Tipos Psicológicos: 
Publicado em 1921, busca explicar as diferenças entre as pessoas em suas relações com o mundo. Estuda os mais variados campos do saber, desde a Filosofia até à arte, sob o ponto de vista de seus oito tipos psicológicos.
O capítulo final é um glossário, escrito pelo próprio autor, apresentando suas principais ideias. A sua elaboração, nas palavras do autor, demorou quase vinte anos para ser concluída.
Vol. 7/1 – Psicologia do Inconsciente:
Livro básico para um primeiro contato com a psicologia de C.G. Jung. Estabelece as diferenças entre Freud, Adler e Jung através de um caso clínico. Apresenta também sua hipótese do inconsciente pessoal e coletivo.
Vol. 7/2 – Eu e o Inconsciente:
O livro trata do difícil, perigoso, porém necessário relacionamento entre o eu e o inconsciente. Aborda as maneiras do eu diferenciar-se do psiquismo coletivo no processo de individuação.
Vol. 8/1 – A Energia Psíquica: 
O autor desenvolve neste livro sua teoria da libido como energia psíquica.
Vol. 8/2 – A Natureza da Psique: 
Importante coletânea de artigos que tratam da fundamentação teórica da psicologia de Jung: instintos, arquétipo e imagem arquetípica, concepção do mundo, complexos, função transcendente, personalidade e morte são alguns dos temas desenvolvidos.
Vol. 8/3 – Sincronicidade:
Neste livro Jung lança sua teoria sobre as coincidências significativas.
Vol. 9/1 – Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo:
Contribuição mais original de Jung para a psicologia: a noção de arquétipo e seu correlato, o inconsciente coletivo.
Se quiser, poderá ouvir todo o conteúdo desse livro, é só acessar o link abaixo:
Vol 9/2 – Aion: 
O livro trata do simbolismo e da fenomenologia do arquétipo do si-mesmo.
Vol. 10/1 – Presente e Futuro:
Neste trabalho o autor formula suas críticas sobre a massificação do homem ocidental, esmagado pelo Estado, e sobre a defesa que cada um pode desenvolver através da personalidade.
Vol. 10/2 – Aspectos do Drama Contemporâneo:
Contribuição de Jung para o entendimento psicológico da II Guerra Mundial.
Faz considerações sobre a personalidade de Hitler, considerando-o uma manifestação simbólica do antigo deus germânico Wotan.
Vol. 10/3 – Civilização em Transição: 
Coletânea de ensaios que giram em torno das relações entre o psiquismo e acontecimentos importantes da civilização. O homem moderno, o homem arcaico, a mulher, o bem e o mal, são alguns dos temas estudados.
Vol. 10/4 – Um Mito Moderno sobre Coisas Vistas no Céu: 
Neste trabalho Jung demonstra o surgimento de um novo mito, as necessidades psicológicas que o motivam, e sua roupagem moderna: os discos voadores.
No prefácio Jung escreveu: “Como psicólogo não disponho de recursos que contribuam para a solução do problema sobre a realidade física dos UFOS. Por isso, incumbo-me somente de seus aspectos psíquicos, que, sem dúvida existem, dedicando-me a seguir quase que exclusivamente os fenômenos psíquicos concomitantes”. Lembrando que isso foi escrito em 1958.
Para quem quiser ler em PDF é só acessar o link abaixo:
Vol 11/1- Psicologia e Religião: 
Conferências pronunciadas nos Estados Unidos sobre a importância da religião para o desenvolvimento psicológico do homem.
Vol 11/2 – Interpretação Psicológica do Dogma da Trindade: 
Estudo do simbolismo arquetípico do dogma da Trindade no cristianismo e em outras manifestações religiosas, buscando o significado psicológico da Trindade e sua relação com a quaternidade. Sobre a Quaternidade, Jung dizia: “Essa insistência, no fundo, é a ânsia do arquétipo em se tornar concreto”.
Vol 11/3 – O Símbolo da Transformação na Missa: 
Interpretação da missa sob o ângulo simbólico e arquetípico. Analisa as relações entre o significado do sacrifício e o processo de individuação.
Vol 11/4 – Resposta a Jó: 
Interpretação psicológica do Livro de Jó, enfatizando as relações entre Javé e Jó e o subseqüente surgimento do cristianismo. Jung analisa também a importância simbólica do dogma da assunção de Maria.
Vol 11/5 – Psicologia e Religião Oriental: 
Jung lança um olhar ocidental sobre alguns fenômenos religiosos do oriente e sua importância psicológica: o Livro Tibetano dos Mortos e da Grande Libertação, Ioga, Meditação, Zen-budismo e I Ching.
Vol 11/6 – Escritos Diversos: 
Este volume trata-se de uma reunião de textos, prefácios, cartas, comentários, notas, discursos em congressos internacionais, respostas e esclarecimentos individuais sobre pontos tratados em outros volumes e, de maneira, geral, aprofundamentos sobre questões que, por sua natureza, demandaram que sobre elas se dedicasse novamente por alguma razão.
Vol. 12 – Psicologia e Alquimia: 
Reúne os principais estudos de Jung sobre a alquimia, em que faz relação entre os processos alquímicos e o desenvolvimento da personalidade.
Vol. 13 – Estudos Alquímicos: 
Apresenta a concordância entre os símbolos do mundo das imagens do inconsciente e os símbolos da alquimia. Jung mostrou que as projeções alquimistas constituíam apenas um caso especial e que também o processo da individuação se parecia com o caminho que os alquimistas já haviam trilhado a seu modo em sua época. Assim, o autor não só trouxe à luz do dia aspectos ocultos da ciência alquímica, mas também “o correspondente histórico à psicologia do inconsciente”.
Vol. 14/1 – Mysterium Coniunctionis: 
Obra da fase adiantada de seus estudos, é uma obra complexa sobre a separação e a síntese dos opostos na alquimia e suas relações com o processo de individuação.
Vol. 14/2 – Mysterium Coniunctionis:
Obra da fase adiantada de seus estudos, é uma obra complexa sobre a separação e a síntese dos opostos na alquimia e suas relações com o processo de individuação.
Vol. 14/3 – Mysterium Coniunctionis:
Obra da fase adiantada de seus estudos, é uma obra complexa sobre a separação e a síntese dos opostos na alquimia e suas relações com o processo de individuação.
Vol. 15 – O Espírito na Arte e na Ciência: 
Ensaios de Jung sobre personalidades destacadas e suas contribuições ao conhecimento do homem e da época em que viviam: Paracelso, Freud, Richard Wilhelm, Picasso e James Joyce são estudados, juntamente com dois trabalhos sobre as relações entre a psicologia analítica, a poesia e a literatura.
Vol. 16/1 – A Prática Da Psicoterapia:
Um guia para a compreensão histórica do fenômeno que, por assim dizer, representa a “crux”, ou pelo menos a crucial experiência de qualquer análise razoavelmente completa, ou seja, do fenômeno da transferência, a que Freud já atribuíra uma importância capital.
Vol. 16/2 – Ab-Reação, Análise Dos Sonhos, Transferência: 
Além de um longo trabalho sobre a utilização prática da análise dos sonhos, o livro contém o maior estudo de Jung sobre a transferência, utilizando-se de um texto alquímico medieval para formular novas hipóteses sobre seu significado.
Vol. 17 – O Desenvolvimento da Personalidade: 
Esse volume reúne os trabalhos de Jung sobre psicologia infantil, cuja parte mais importante é constituída por três preleções sobre “psicologia analítica e educação”.
Foram incluídos também os ensaios “O Casamento como Relacionamento Psíquico”, texto que tem sido amplamente estudado e debatido nas questões de terapia de casais. Outro estudo incluído: “sobre a formação da personalidade”.
Este volume é um dos meus preferidos das obras de Jung.
18/1 – Vida Simbólica: 
Este livro apresenta as conferências proferidas por Jung, na Clínica Tavistock, em Londres em 193, perante um auditório de 200 médicos.
Nessas conferências o mestre suíço apresenta os fundamentos de sua teoria psicanalítica.
outra parte deste volume encontramos um estudo com a concepção junguiana dos símbolos e outro sobre a interpretação dos sonhos.
Há também um estudo sobre o ocultismo e os fenômenos espíritas; um amplo estudo sobre a psicogênese das doenças mentais e um parecer crítico sobre a teoria e a obra freudianas.
18/2 – Vida Simbólica: 
Os trabalhos deste tomo (artigos para revistas, prefácios, colaborações em léxicos, conferências, cartas e comentários) em seu conteúdo temático referidos aos diversos volumes das Obras completas, refletem a preocupação constante do pesquisador e terapeuta em contribuir para um melhor entendimento da psique humana.
Índices Gerais:
Este volume, cuja publicação vem complementar o corpo da Obra completa de C.G. Jung, representa, sem dúvida, maior facilidade para o estudo e as pesquisas sobre sua vasta produção, permitindo ao leitor uma visão panorâmica de todos os seus conceitos e assuntos tratados em cada um dos 18 volumes da Obra Completa.

  • OUTROS LIVROS DE C. G. JUNG
– O Homem e seus Símbolos:
Editor: Carl G.Jung e, após a sua morte, Marie-Louise von Franz
Nesse livro, Jung acentua que o homem só se realiza através do conhecimento e da aceitação do inconsciente – conhecimento que ele adquire por intermédio dos sonhos e seus símbolos.
Trata-se do único trabalho de Jung destinado a explicar ao público leigo a sua maior contribuição ao conhecimento da mente humana: a sua teoria a respeito da importância do simbolismo. Particularmente, o simbolismo dos sonhos.
Para quem quer entender mais sobre o inconsciente, esse é o mais indicado.

– O Homem à Descoberta da sua Alma
Estrutura e funcionamento do inconsciente

– Memórias, Sonhos e Reflexões:
Compilação e prefácio de Aniela Jaffé .
É a biografia de Jung. Onde ele explica, entre outros conceitos e arquétipos, seu interesse pela criança interior, ao analisar sua própria infância.
No prólogo ele afirma “A minha vida é a história de um inconsciente que se realizou”. 
A leitura desse livro é imprescindível para uma compreensão adequada da personalidade do criador da psicologia analítica e também para quem quer saber mais como ele analisou a própria infância, voltando a brincar.

– As Cartas: 
Os três volumes das cartas de C. G. Jung contêm aproximadamente 1.000 cartas de cunho sobre tudo científico. Cada um dos volumes é provido de um aparato científico bastante completo: muitas notas explicativas de caráter objetivo e pessoal, remissões às obras de Jung e citação de trechos de cartas por ele recebidas ajudam a compreender as demais obras de Jung.
O primeiro livro começa com as cartas do tempo em que Jung ainda não havia se separado da escola psicanalítica, com cartas a Karl Abraham, Sandor Ferenczi, Sigmund Freud e outros membros do círculo freudiano daquela época.

“Ninguém está livre de sofrimento enquanto nada na torrente da vida. Portanto, só posso repetir: não se preocupe comigo. Sigo o meu caminho e carrego o meu fardo tão bem quanto possível. (…) Não existe nenhuma dificuldade em minha vida que não seja exclusivamente eu mesmo. Ninguém deverá carregar-me enquanto eu puder manter-me sobre meus próprios pés.” 
Carta a Frances Wickes, de 06.11.1926

– O Segredo da Flor de Ouro: Um Livro de Vida Chinesa
Em 1929, Jung e Richard Wilhelm publicaram o livro na tentativa de revelar para o ocidente alguns mistérios importantes da Sabedoria Chinesa.
O livro compara a filosofia taoísta com os conceitos da psicologia analítica da anima e animus, movimento circular, mandala e a desintegração da consciência.

– O Livro Vermelho:
O Livro Vermelho, como era chamado pelo autor, consiste em uma viagem exploratória pelo inconsciente e nunca havia sido divulgado ao público fora do círculo de amigos de Jung.
Foi composto em segredo, só conhecido de alguns poucos íntimos de Jung, pois ele temia não ser levado a sério nos meios científicos, pois o texto era composto de pinturas de visões e conversas que mantinha, ora com seu inconsciente, ora com personagens de outras dimensões.

Livro vermelho
O Livro Vermelho foi escrito entre 1914 e 1930, e retrata fortes experiências psíquicas vividas por Jung durante três anos: sonhos, visões e premonições, que o incomodaram tanto a ponto de decidir suspender as conferências e compromissos médicos. O primeiro, que motivou o registro, é excessivamente perturbador: em 1913, ele viu toda a Europa coberta por sangue e cadáveres.
“Jung julgou estar psiquicamente perturbado. Quando, no ano seguinte, estourou a primeira grande guerra, com seu incontável número de mortos e sofrimento para milhões, percebeu o caráter antecipatório de sua visão”, explica Walter Boechat, revisor da tradução do livro para o português, membro-fundador e ex-presidente da Associação Junguiana Brasileira (AJB).
Todas as grandes obras da tradição ocidental compõem o universo cultural de Jung e o influenciaram de certa forma. É possível perceber grandes influências na composição de O Livro Vermelho: Zaratustra, de Nietzsche, A divina comédia, de Dante, Fausto, de Goethe.
Poderíamos dizer que o livro é um constante oscilar entre os dois tipos de pensamento: o onírico e o mitológico (do inconsciente) e o racional (típico da consciência). A experiência intuitiva criativa aparece em forma de personagens e histórias.
A obra impressiona. Chamado de “o grande livro” devido ao formato – 30 cm x 40 cm, com 10,5 cm de lombada e capa dura, obviamente vermelha –, levou 16 anos para ser finalizado e deu base aos escritos de C. G. Jung. Os manuscritos ilustrados constituem um belo trabalho artístico ligado ao universo inconsciente e à psicologia arquetípica.
Nas 404 páginas do miolo, o leitor encontra um caderno iconográfico com imagens do manuscrito original, reproduções e pinturas feitas pelo próprio autor.
Jung terminou a obra por volta de 1930 e na época optou por não divulgá-la devido ao seu caráter extremamente pessoal. Mesmo depois de sua morte, em 1961, a família de Jung preferiu manter o trabalho oculto. Mas em 2010, depois de mais de dez anos de negociações e preparo, o livro é apresentado ao público.
A edição brasileira é rigorosamente fiel ao projeto original e foi publicado no Brasil pela Editora Vozes, em 2010, quase cinquenta anos após sua morte, como fora sua recomendação.
É o sonho de consumo de todo Analista Junguiano!
Fonte:https://rosemeirezago.com.br/teorias/jung/obras-jung/

BIOGRAFIA DETALHADA

Carl Gustav Jung (/ˈjʊŋ/Kesswil, na Turgóvia, na Suíça, 26 de julho de 1875 — Küsnacht, em Zurique, na Suíça, 6 de junho de 1961) foi um psiquiatra e psicoterapeuta suíço que fundou a psicologia analítica. Jung propôs e desenvolveu os conceitos de personalidade extrovertida e introvertidaarquétipo e inconsciente coletivo. Seu trabalho tem sido influente na psiquiatriapsicologiaciência da religiãoliteratura e áreas afins.
O conceito central da psicologia analítica é a individuação - o processo psicológico de integração dos opostos, incluindo o consciente e o inconsciente, mantendo, no entanto, a sua autonomia relativa.[3] Jung considerou a individuação como o processo central do desenvolvimento humano.[4]
Ele criou alguns dos mais conhecidos conceitos psicológicos, incluindo o arquétipo, o inconsciente coletivo, o complexo, e a sincronicidade. A classificação tipológica de Myers Briggs (MBTI), um instrumento popular psicométrico, foi desenvolvido a partir de suas teorias.
Via a psique humana como "de natureza simbólica",[5] e fez, deste simbolismo, o foco de suas explorações. Ele é um dos maiores estudiosos contemporâneos de análise de sonhos e simbolização.[6] Embora exercesse sua profissão como médico e se considerasse um cientista,[7] muito do trabalho de sua vida foi passado a explorar áreas tangenciais à ciência, incluindo a filosofia oriental e ocidentalalquimiaastrologia e sociologia, bem como a literatura e as artes. Seu interesse pela filosofia e ocultismo levaram muitos a vê-lo como um místico.[7]

Carl Jung
Jung em 1912
Nome completoCarl Gustav Jung
Conhecido(a) porfundar a psicologia analítica
Nascimento26 de julho de 1875
Kesswil, no Cantão de Turgóvia, na Suíça
Morte6 de junho de 1961 (85 anos)
Küsnacht, no Cantão de Zurique, na Suíça
NacionalidadeSuíça suíça
CônjugeEmma Jung[1][2] (1882-1955)
Filho(s)Agathe
Anna
Franz
Marianne
Emma
Ocupaçãopsiquiatraprofessor universitáriopsicólogo
Influências
Influenciados
Ideias notáveisComplexo
Inconsciente coletivo
Arquétipos
Sombra
Anima e Animus
Individuação
Sincronicidade
Assinatura
Carl Jung signature.svg

Vida

Juventude

Kesswil, a cidade natal de Jung.
Os assuntos com que Jung ocupou-se surgiram em parte do seu fundo pessoal, que é vividamente descrito em sua autobiografia, "Memórias, Sonhos, Reflexões" (1961). Ao longo de sua vida, Jung experimentou sonhos periódicos e visões com notáveis características mitológicas e religiosas, os quais despertaram o seu interesse por mitossonhos e a psicologia da religião. Ao lado destas experiências, certos fenômenos parapsicológicos emergiam, sempre para lhe redobrar o espanto e o questionamento.
Por muitos anos, Jung sentiu possuir duas personalidades separadas: um ego público, exterior, que era envolvido com o mundo familiar, e um eu interno, secreto, que tinha uma proximidade especial para com Deus. Ele reconhecia ter herdado isso de sua mãe, que tinha a notável capacidade de "ver homens e coisas tais como são". A interação entre esses egos foi o tema central da sua vida pessoal e contribuiu mais tarde para a sua ênfase no esforço do indivíduo para integração e inteireza.
Seis meses após seu nascimento, os pais de Jung mudaram-se de Kesswill (cantão da Turgóvia), à beira do lago de Constança, e foram morar no presbitério do castelo de Laufen, que domina as quedas do Reno.
O pai, um reverendo, deixou-lhe, como herança, uma  cega que se mantinha a muito custo com o sacrifício da compreensão. A tarefa do filho seria responder a ele com uma fé renovada, baseada justamente no conhecimento tão rejeitado. Além disso, Jung viria a usar as escrituras como referência para a experiência interior de Deus, não como dogmas estáticos à espera de devoção muda, castradores do desenvolvimento pessoal. Ele lamentava que, à religião, faltasse o empirismo, o que alimentaria a sede da personalidade, e que, às ciências naturais, que também tanto o fascinavam devido ao envolvimento com a realidade concreta, faltasse o significado, que saciaria a personalidade.
Os dois aspectos, religião e ciência, não se tocavam, daí sua constante insatisfação, devido ao desencontro das duas instâncias interiores. E foi dessa tentativa de saciar tanto um aspecto quanto o outro, de fazer justiça ao ser como um todo, que decidiu formar-se em psiquiatria: "Lá estava o campo comum da experiência dos dados biológicos e dados espirituais, que até então eu buscara inutilmente. Tratava-se, enfim, do lugar em que o encontro da natureza e do espírito se torna realidade".
Ao longo da sua juventude, interessou-se por filosofia e por literatura, especialmente pelas obras de PitágorasEmpédoclesHeráclitoPlatãoKant e Goethe. Uma das suas maiores revelações seria a obra de Schopenhauer. Jung concordava com o irracionalismo que este autor concedia à natureza humana, embora discordasse das soluções por ele apresentadas.

Primeiros estudos

Jung em 1909.
Já estudante de medicina, decide dedicar-se à então obscura especialidade de psiquiatria, após a leitura ocasional de um livro do psiquiatra Krafft-Ebing. Em 1900, Jung tornou-se estagiário na Clínica Psiquiátrica Burgholzli, em Zurique, então dirigida pelo psiquiatra Eugen Bleuler, famoso pela sua concepção de esquizofrenia.
Seguindo o seu treino prático na clínica, ele conduziu estudos com a associação de palavras. Já nessa época, Jung propunha uma atitude humanista frente aos pacientes. O médico deveria "propor perguntas que digam respeito ao homem em sua totalidade e não limitar-se apenas aos sintomas". Desde cedo, ele já adiantava a ideia do que hoje está ganhando força em todos os campos com o nome de "holismo", o ponto de vista do homem integral. A seus olhos, "diante do paciente só existe a compreensão individual". Por isso, evitava generalizar um método, uma panaceia para um determinado tipo de anomalia psíquica. Cada encontro é único e, sendo assim, não pode incorrer em qualquer tipo de padronização.

Encontro com Sigmund

(Freud)

Em 1902, deslocou-se a Paris, onde estudou com Pierre Janet, regressando no ano seguinte ao hospital de Burgholzli, onde assumiu um cargo de chefia e onde, em 1904, montou um laboratório experimental em que implementou o seu célebre teste de associação de palavras para o diagnóstico psiquiátrico. Neste ínterim, Jung entra em contato com as obras de Sigmund Freud (1856-1939). Jung viu, em Freud, um companheiro para desbravar os caminhos da mente. Enviou-lhe cópias de seus trabalhos sobre a existência do inconsciente, confirmando conce(p)ções freudianas de recalque e repressão. Ambos encantaram-se um com o outro, principalmente porque os dois desenvolviam trabalhos inéditos em medicina e psiquiatria.
Carta de Freud a Jung (de 1913).
A partir de então, Freud e Jung passaram a se corresponder (359 cartas que posteriormente foram publicadas entre 1906 a 1913). O primeiro encontro entre eles, em 27 de fevereiro de 1907, transformou-se numa conversa de treze horas ininterruptas. Depois desse encontro, estabeleceram uma amizade de aproximadamente sete anos, período em que trocavam informações sobre seus sonhos, análises, trocavam confidências e discutiam casos clínicos.
Porém, ao lado de tamanha identidade de pensamento, havia também algumas diferenças fundamentais. Jung jamais conseguiu aceitar a insistência de Freud de que as causas dos conflitos psíquicos sempre envolveriam algum traumade natureza sexual, e Freud não admitia o interesse de Jung pelos fenômenos espirituais como fontes de estudo válidas em si. Nos anos 1930, essa divergência atingiria seu auge, e o rompimento entre eles foi inevitável. Posteriormente, os livros de Freud seriam proibidos e queimados publicamente pelos nazistas, e o autor viu-se obrigado a deixar Viena pouco depois da anexação da Áustria, exilando-se em Londres. No mesmo período, Carl Jung tornar-se-ia uma das faces mais visíveis da psiquiatria alemã da época.

Confronto com o inconsciente

Em 1914, Jung demite-se do seu cargo na API e organiza, junto com Alphonse Maeder, as bases da chamada Escola de Zurique. Após a separação de Freud, Jung sentiu o chão desmoronar-se sob os pés. O sentido da sua vida ficou em primeiro plano. Seguiu-se uma série de sonhos e visões que forneceram material para o trabalho de toda uma vida. Dir-se-ia que, se ele não houvesse se empenhado na integração de todo aquele material que jorrou qual lava derretida, teria, fatalmente, sucumbido a uma psicose. Mas algo nele o impelia a ir adiante na compreensão de tudo que se originava naturalmente de seu inconsciente. Em suas palavras, "Os anos durante os quais me detive nessas imagens interiores constituíram a época mais importante da minha vida e, neles, todas as coisas essenciais se decidiram. (...) Toda a minha atividade ulterior consistiu em elaborar o que jorrava do inconsciente naqueles anos (...)".
Foi durante essa fase de confronto com o inconsciente que ele desenvolveu o que chamou de "imaginação ativa", um método de interação com o inconsciente onde este se investe espontaneamente de várias personificações (pessoas conhecidas e desconhecidas, animais, plantas, lugares, acontecimentos etc.). Na imaginação ativa, interagimos ativamente com elas, isto é, discordando, quando for o caso, opinando, questionando e até tomando providências com relação ao que é tratado, isso tudo pela imaginação. Ela difere da fantasia passiva porque, nesta, não atuamos no quadro mental, de forma a participarmos do drama vivenciado, mas apenas nos contentamos em assistir o desenrolar do roteiro desconhecido. Pela imaginação ativa, existe não só a possibilidade de compreensão do inconsciente, mas também de interação com este, de forma que o transformamos e somos transformados no processo. Um personagem pode nos fazer entender falando explicitamente do motivo de, por exemplo, estarmos com insônia. Esse enfoque trata a psiquecomo uma realidade em si, de forma tão literal interiormente, quanto uma maçã nos é real exteriormente, ao contrário de Freud, que insistia em substituir uma determinada imagem por outra de cunho sexual.

Polêmicas sobre o nazismo

Carl Jung, que alguns acusam de ter sido um simpatizante do nazismo[8], assumiu, em 1933, ano da chegada ao poder de Adolf Hitler, a presidência da "Sociedade Médica Internacional Geral para a Psicoterapia", que contou como administrador, entre outros, com um sobrinho de Hermann Göring. No início de 1934, num artigo "Sobre a situação actual da psicoterapia", Jung afirma que o Judeu, como nómade, não pode jamais criar a sua cultura própria; para desenvolver os seus instintos e talentos, tem de apoiar-se em um "povo anfitrião mais ou menos civilizado". Carl Jung viria mais tarde a deixar aquela organização.
Sejam examinados os fatos. O presidente da Sociedade era Ernst Kretschmer. Quando Hitler ascendeu ao poder, Kretschmer deixou a presidência e os membros da Sociedade, compreensivelmente alarmados, dada a situação da Alemanha, pediram insistentemente a Jung que aceitasse a presidência. Sua autoridade científica e sua condição de suíço representavam verdadeira tábua de salvação. "Deveria eu, perguntou Jung a seus acusadores, na atitude de neutro prudente, retirar-me para a segurança do lado de cá da fronteira e lavar as mãos em inocência, ou deveria, segundo estava bem consciente, arriscar minha pele e expor-me a inevitáveis mal-entendidos, aos quais não poderia escapar todo aquele que, por força de premente necessidade, tivesse de entrar em conta(c)to com os poderes políticos existentes na Alemanha"? Jung decidiu correr os riscos que previra. Sob a presidência de Jung, a Sociedade Médica Internacional de Psicoterapia conseguiu realizar dois congressos fora da Alemanha: um, em Copenhague (1937) e outro em Oxford (1938). Decerto esses encontros, noutros países, representaram verdadeiros respiradouros para muitos cientistas alemães.[9]
Jung interpretou o nacional socialismo, o comunismo e outros "ismos" em geral como fenômenos patológicos, de identidade. Uma irrupção do inconsciente coletivo. "Wotan" havia tomado posse da alma do povo alemão. E quem é Wotan? O deus representativo das forças naturais em desequilíbrio, "um deus das tempestades e da efervescência, desencadeia paixões e apetites combativos". Num ensaio publicado em 1936, Jung traça o paralelo entre Wotan redivivo e o fenômeno nazista. Wotan é uma personificação de forças psíquicas correspondentes a "uma qualidade, um caráter fundamental da alma alemã, um 'fator' psíquico de natureza irracional, um ciclone que anula e varre para longe a zona calma onde reina a cultura". Os fatores econômicos e políticos pareceram, a Jung, insuficientes para explicar todos os espantosos fenômenos que estavam ocorrendo na Alemanha. Wotan reativado no fundo do inconsciente, Wotan invasor, seria a explicação mais pertinente. E estávamos apenas em 1936.
O argumento decisivo é, porém, a atitude dos nazistas em relação a Jung. Com o aparecimento do livro Psicologia e Religião (1940), as autoridades decidiram que toda a sua obra fosse interditada e queimada na Alemanha, bem como nos países ocupados por Hitler.
Outra acusação correlata com a de simpatizante do nazismo foi a de antissemita. Seria desde logo estranho admitir que um psicólogo, com toda sua vida em busca do fundo psíquico comum a todos os homens (inconsciente coletivo) eternamente existente sob as diferentes peculiaridades individuais, locais, nacionais, raciais e históricas, fosse partidário de discriminações entre esses mesmos homens, cujas almas tinham, para ele, igual estrutura básica. Seria, também, extravagante que um antissemita contasse entre seus discípulos mais próximos precisamente com homens de origem semita. Basta lembrar alguns nomesː
  • Erich Neumann, judeu alemão. Chefiava o grupo junguiano em Tel Aviv, em Israel, onde morreu em 1960. Seus livros são originais aplicações da psicologia junguiana. "As origens e a história da consciência", sua obra principal, é prefaciada por Jung.
  • Gerhard Adler, judeu alemão, refugiado do nazismo, um dos mais destacados elementos do grupo junguiano na Inglaterra, coeditor das obras completas de Jung. Adler define esses ataques a Jung como devidos a "completa ignorância ou, pior, a maldade intencional".
  • Roland Cahen, francês de origem semita, é quem chefia a escola junguiana na França e dirige a publicação das obras de Jung em língua francesa.[10]
Em alguns documentos, Jung afirmou, num comentário de época sobre a cultura judaica, que judeus, em geral, são mais conscientes e diferenciados, enquanto os 'arianos' comuns permaneceram próximos à barbárie.[11]
A polêmica teórica mantida por Jung com Freud não chegou ao ponto de Jung fazer referências à origem religiosa ou racial de Freud, com vistas a conquistar a simpatia nazista. Nem no artigo de 1929, em que comparava as duas teorias,[12] nem no discurso de Jung sobre Freud após a morte deste eminente pensador, em 1939, num momento que poderia ser propício a angariar aquele beneplácito. [13]
Sabe-se, também, que o obscurantismo atingiu obras de Jung que não interessavam ao regime nazista, tendo sido suprimidas em 1940 várias edições publicadas na Alemanha e, quando da invasão da França, a Gestapo destruiu as traduções francesas da obra de Jung.[14]
As primeiras providências de Jung quando assumiu a Überstaatliche Ärztliche Gesellschaft für Psychotherapie (Sociedade Médica Internacional para Psicoterapia), acumulando com a entidade suíça, em 1933, foram:
  • A reformulação dos estatutos, para evitar o controle hegemônico por alguma das sociedades nacionais; como a Sociedade Internacional congregava as Sociedades Nacionais da AlemanhaDinamarcaGrã-BretanhaPaíses BaixosSuécia e Suíça, era importante evitar o domínio isolado de uma delas,[15][16] de modo que as demais tivessem participação adequada e dividissem as responsabilidades;
  • A aceitação na Sociedade Internacional dos membros judeus e antinazistas expulsos da Sociedade da Alemanha,[17][18] de modo que eles podiam exercer o seu ofício em outros países e garantir a sua subsistência como profissionais qualificados.
Sobre o editorial nazista publicado na revista editada pela Sociedade Médica Nacional da Alemanha para Psicoterapia, Jung declarou várias vezes que ele não teve ingerência no episódio. Pelas amizades que tinha com muitos representantes das vítimas do preconceitonazista, e pelo conteúdo de sua obra, é extremamente improvável que ele concordasse intelectualmente com o seu conteúdo, sob pena de perder esses relacionamentos.
As acusações sobre Jung, como resultantes de um mal-entendido, teriam sido logo liquidadas de modo definitivo, face a tantas documentações e testemunhos logicamente irrefutáveis. Entretanto, a persistência desses rumores bem indica que, por trás deles, podem fermentar, ainda, as divergências entre Jung e o grande judeu Freud, nunca perdoadas pelos discípulos do mestre ortodoxo. [19]
Primeira fileira:Sigmund FreudStanley Hall, Carl Gustav Jung; segunda fileira: Abraham BrillErnest JonesSandor FerencziUniversidade de Clark, em Massachusetts, nos Estados Unidos, em Setembro de 1909.
Jung em 1910.

Reconhecimento internacional

Em 1938, quando Freud saiu de Viena para Londres, a doutora Iolande Iacobi também emigrou para Zurique, continuou seus estudos com Jung e, posteriormente, foi uma das fundadoras do Instituto C. G. Jung, tendo escrito a introdução às obras completas de Jung.[20]Ainda nesse ano, a Universidade de Oxford, na Inglaterra, concedeu-lhe o título de Doutor Honoris Causa.
Em 1939, Jung renunciou à presidência da Sociedade Médica Internacional para Psicoterapia. Alegou que já tentara por duas vezes anteriores a renúncia, tendo permanecido apenas devido a pedidos dos representantes britânico e neerlandês, somente se retirando quando foram interrompidas as comunicações internacionais e a sua permanência não era mais necessária.[21]
Em 1946, em cerimônia realizada em ZuriqueWinston Churchill pediu que o doutor Jung compusesse a mesa e se sentasse a seu lado.[22] Em abril desse ano, Ernest Harms publicou um artigo cujo título era "Carl Gustav Jung – Defender of Freud and the Jews" na Psychiatric Quarterly[23].
Alguns dos seus mais devotados pupilos – Erich NeumannGerhard AdlerJames Kirsch e Aniela Jaffé – eram Judeus.[24][25][26][27]

Últimos dias

Carl Gustav Jung morreu a 6 de junho de 1961, aos 86 anos, em sua casa, nas margens do lago de Zurique, em Küsnacht, após uma longa vida produtiva, que marcou - e tudo leva a crer que ainda marcará mais - a antropologia, a sociologia e a psicologia, e também, em outros campos como a arte, a literatura e a mitologia.
Encontra-se sepultado no Cemitério da Igreja Protestante, em Küsnacht, no cantão de Zurique, na Suíça.[28]

A psicologia analítica

Anterior mesmo ao período em que estavam juntos, Jung começou a desenvolver um sistema teórico que chamou, originalmente, de "Psicologia dos Complexos", mais tarde chamando-o de "Psicologia Analítica", como resultado direto de seu conta(c)to prático com seus pacientes. O conceito de inconsciente já está bem sedimentado na sólida base psiquiátrica de Jung antes de seu conta(c)to pessoal com Freud, mas foi com Freud, real formulador do conceito em termos clínicos, que Jung pôde se basear para aprofundar seus próprios estudos. O conta(c)to entre os dois homens foi extremamente rico para ambos, durante o período de parceria entre eles. Aliás, foi Jung quem cunhou o termo e a noção básica de "complexo", que foi adotado por Freud.
Utilizando-se do conceito de "complexos" e do estudo dos sonhos e de desenhos, Jung passou a se dedicar profundamente aos meios pelos quais se expressa o inconsciente. Em sua teoria, enquanto o inconsciente pessoal consiste fundamentalmente de material reprimido e de complexos, o inconsciente coletivo é composto fundamentalmente de uma tendência para sensibilizar-se com certas imagens, ou melhor, símbolos que constelam sentimentos profundos de apelo universal, os arquétipos: da mesma forma que animais e homens parecem possuir atitudes inatas, chamadas de instintos ("fato" este negado por correntes de ciências humanas, como por exemplo em antropologia o culturalismo de Franz Boas ), também é provável que em nosso psiquismo exista um material psíquico com alguma analogia com os instintos.

Os tipos psicológicos

Jung sentia que a ênfase da psicanálise nos fatores eróticos era um ponto de vista unilateral, uma visão reducionista da motivação humana e do seu comportamento. Ele propôs que a motivação do homem fosse entendida em termos de uma energia de vida criativa geral - a libido - capaz de ser investida em direções diferentes, assumindo grande variedade de formas. A libido corresponderia ao conceito de energia adotado na Física, a qual pode ser interpretada em termos de calor, eletricidade, motricidade etc. As duas direções principais da libido são conhecidas como extroversão (projetada no mundo exterior, nas outras pessoas e objetos) e introversão (dirigida para dentro do reino das imagens, das ideias, e do inconsciente). As pessoas em quem a primeira tendência direcional predomina são chamadas extrovertidas, e introvertidas aquelas em quem a segunda direção é mais forte.
A sua necessidade em criar uma tipologia psíquica decorreu da questão que nasceu em seu interior acerca de sua divergência com Freud e até com outros profissionais. Ele poderia, assim, ter perguntado: "Por que divirjo de Freud?". A resposta tomou forma na análise que fez das teorias psicológicas de seu mestre e de Adler, também um ex-discípulo de Freud. Para este, as neuroses derivavam de problemas com os instintos, para o outro do próprio ego, no seu sentimento de superioridade ou inferioridade. Um, portanto, extrovertido, e o outro introvertido. Jung também propôs que se poderia agrupar as pessoas de acordo com o seu maior desenvolvimento em uma das quatro funções psicológicas: pensamento, sentimento, sensação, ou intuição. Transformações de libido de uma esfera de expressão para outra - por exemplo, de sexualidade para religião - são realizadas por símbolos que são gerados durante a mudança de personalidade.
A psicologia junguiana também merece outro destaque: o processo de individuação. Conforme Nise da Silveira (2006), todo ser tende a realizar o que existe nele, em germe, a crescer, a completar-se. Assim é para a semente do vegetal e para o embrião do animal. Assim é para o homem, embora o desenvolvimento de suas potencialidades seja impulsionado por forças instintivas inconscientes, isso adquire um caráter peculiar: o homem é capaz de tomar consciência desse desenvolvimento e de influenciá-lo. Precisamente no confronto do inconsciente com o consciente, no conflito como na colaboração entre ambos é que os diversos componentes da personalidade amadurecem e unem-se numa síntese, na realização de um indivíduo específico e inteiro. Essa confrontação "é o velho jogo do martelo e da bigorna: entre os dois, o homem, como o ferro, é forjado num todo indestrutível, num indivíduo. Isso, em termos toscos, é o que eu entendo por processo de individuação" (Jung).
O processo de individuação não consiste num desenvolvimento linear. É um movimento de circunvolução que conduz a um novo centro psíquico. Jung denominou esse centro de "Self" (si mesmo). Quando consciente e inconsciente vêm ordenar-se em torno do Self, a personalidade completa-se. O "Self" será o centro da personalidade total, como o ego é o centro do campo do consciente. O conceito junguiano de individuação tem sido, muitas vezes, deturpado. Entretanto, é claro e simples na sua essência: tendência instintiva a realizar plenamente potencialidades inatas. Mas, de fato, a psique humana é tão complexa, são de tal modo intrincados os componentes em jogo, tão variáveis as intervenções do ego consciente, tantas as vicissitudes que podem ocorrer, que o processo de totalização da personalidade não poderia jamais ser um caminho reto e curto, de chão bem batido. Ao contrário, será um percurso longo e difícil.

A psique objetiva

Jung percebeu que a compreensão da criação de símbolos era crucial para o entendimento da natureza humana. Ele, então, explorou as correspondências entre os símbolos que surgem nas lutas da vida dos indivíduos e as imagens simbólicas religiosas subjacentes e sistemas mitológicos e mágicos de muitas culturas e eras. Graças à forte impressão que lhe causaram as muitas notáveis semelhanças dos símbolos, apesar de sua origem independente nas pessoas e nas culturas (muitos sonhos e desenhos de seus pacientes de variadas nacionalidades exprimiam temas mitológicos longínquos), ele sugeriu a existência de duas camadas da psique inconsciente: a pessoal e a coletiva. O inconsciente pessoal inclui conteúdos mentais adquiridos durante a vida do indivíduo que foram esquecidos ou reprimidos, enquanto o inconsciente coletivo é uma estrutura herdada comum a toda a humanidade composta dos arquétipos - predisposições inatas para experimentar e simbolizar situações humanas universais de diferentes maneiras. Há arquétipos que correspondem a várias situações, tais como as relações com os pais, o casamento, o nascimento dos filhos, o confronto com a morte. Uma elaboração altamente derivada destes arquétipos povoa todos os grandes sistemas mitológicos e religiosos do mundo.
Definida desta forma, no entanto, a psique objetiva não constitui um mecanismo capaz de justificar a ocorrência das sincronicidades, como um dos conceitos fundamentais da psicologia de Carl Gustav Jung. Por isso, ao longo de sua vida, Jung complexificou a noção de psique objetiva, ou inconsciente coletivo, ampliando-a ao ponto de que pudessem ser, nela incluídos, tanto arquétipos universais e conteúdos filogenéticos humanos, quanto criações mentais mais recentes. A psique objetiva tornou-se integrada à vida em todos os seus aspetos, dando conta dos muitos fenômenos integrativos da clínica psicológica, que antes careciam de uma formulação explicativa consistente.[29]
Justamente por força da dificuldade de elaboração deste conceito, Jung acessou conhecimentos da física quântica de sua época, principalmente através de Pauli e Einstein, o que influenciou decisivamente o desenvolvimento posterior da psicologia analítica. O médico conheceu aspetos da teoria da relatividade e da física quântica, especialmente o princípio da incertezada complementaridade e da não localidade, por intermédio principalmente dos físicos Wolfgang Pauli e Albert Einstein, e foi informado das pesquisas em parapsicologia de Joseph Banks Rhine, na Universidade de Duke. Isso, associado a experiências pessoais e de seus pacientes, o levou a sugerir que as camadas mais profundas do inconsciente não dependem das leis de espaçotempo e causalidade, produzindo fenômenos paranormais como a clarividência e a precognição, que passaram a ser estudados pela psicologia.
A estas correspondências entre acontecimentos interiores e exteriores por meio de um significado comum, ele deu o nome de sincronicidade, como estudada hoje no contexto da linha de pesquisa Física e Psicologia. Além disso, fatos ocorridos enquanto tratava seus clientes o fizeram crer que os acontecimentos se dispunham "de tal modo, como se fossem o sonho de uma 'consciência maior e mais abrangente, por nós desconhecida'".[30]
Na qualidade de cientista altamente desapegado e desconfiado do favorecimento que se dá a certas verdades, para ele materialismo e ciência não eram sinônimos. O materialismo não passa do culto a um deus exteriormente concreto por meio da razão, um tipo de nos princípios limitadores das leis físicas. "A razão nos impõe limites muito estreitos e apenas nos convida a viver o conhecido". Para sermos realmente justos, convém recebermos igualmente os aspetos racionais e irracionais da vida. Assim foi o caso da paciente que apresentava uma forte resistência à terapia. A monotonia não escapava a nenhum dos dois, até o dia em que ela lhe relatou o sonho com um escaravelho dourado. Mal acabara de contar-lhe a trama, quando ouviram uma batida na vidraça. Jung, então, enxergou uma espécie de besouro de coloração dourada muito rara naquelas paragens e naquela estação do ano. Daí para diante, a análise deslanchou, ocasionando o renascimento daquela personalidade. Besouro e renascimento... um símbolo egípcio muito antigo.

Sincronicidade


Estátua de Carl Jung em Liverpool.
Instituto C. G. Jung em Zurique, na Suíça, fundado em 1948.
O termo "sincronicidade" é uma tentativa de encontrar formas de explicação racional para fenômenos que a ciência de então não alcançava, tais como os referidos acima, fenômenos não causais que não podem ser explicados pela razão, porém são significativos para o indivíduo que os experimenta.
A construção do conceito de sincronicidade surgiu da leitura que Jung fez de um grande número de obras sobre alquimia e o pensamento renascentista. Jung chegou a possuir grande quantidade de textos alquímicos originais, que o levaram também a usar a expressão Unus mundus em sua autobiografia, e a ideia de anima mundi.
Uma interessante análise da contribuição da psicologia profunda de Freud–Jung para a formação do pensamento ocidental, mostrando como Jung tinha preocupações epistemológicas rigorosas, pode ser vista em Tarnas. Em função disso, tais fenômenos puderam ser examinados, mas apenas como algo psicológico, e não propriamente da natureza, resultando em algumas distorções interpretativas, em inúmeros sentidos.
A crítica de Richard Tarnas é pertinente, pois, embora Jung ressalte a importância da religiosidade como qualidade intrínseca do ser humano, sua teoria apenas valida a experiência religiosa como fenômeno psicológico, uma posição paradoxalmente reducionista, que nega a compatibilidade entre razão e experiência espiritual. Nessa linha, considerou insubstancial o movimento esotérico moderno, como a teosofia e a antroposofia.
A partir da contribuição de Jung, vários desenvolvimentos em diferentes áreas do conhecimento têm ampliado a compreensão da relação entre os processos psíquicos e o mundo exterior. O conceito de inconsciente coletivo, por exemplo, encontra ecos na física do holomovimento de Bohm, na ecopedagogia de Capra, na transdisciplinaridade de Rocha Filho, na alma do mundo de Goswami, nos campos morfogenéticos de Sheldrake, na psicologia profunda e na ecopsicologia norte-americana.

Imagens do inconsciente

No Brasil, Jung teve uma conhecida aluna, a doutora Nise da Silveira, fundadora do «Museu de Imagens do Inconsciente». www.museuimagensdoinconsciente.org.br. Ela escreveu, dentre outros, o livro "Jung: vida e obra", publicado em primeira edição em 1968.

Jung - Uma resposta ao nosso tempo

Na terapia junguiana, que explora extensivamente os sonhos e fantasias, um diálogo é estabelecido entre a mente consciente e os conteúdos do inconsciente. A doença psíquica é tida como uma consequência da separação rígida entre elas. Os pacientes são orientados a ficar atentos aos significados pessoal e coletivo (arquétipo) inerentes aos seus sintomas e dificuldades. Sob condições favoráveis, eles poderão ingressar no processo de individuação: uma longa série de transformações psicológicas que culminam na integração de tendências e funções opostas, e na realização da totalidade. Jung trilhou a individuação, pois havia a necessidade imperiosa nele de ir ao inferno e voltar para poder mostrar o caminho da volta àqueles que ficaram perdidos pelo caminho da vida. Tornou-se, ele, uma resposta sincera e corajosa ao nosso tempo. "Sou, eu próprio, uma questão colocada ao mundo, e devo fornecer minha resposta; caso contrário, estarei reduzido à resposta que o mundo me der".

Breve biografia em tópicos

Emma Jung em 1911.
1875: Nasce na Suíça, a 26 de julho, filho de um pastor;
1895 - 1900: Estuda medicina na Universidade de Basileia;
1900: É assistente de Eugen Bleuler, médico-chefe do Burghölzli (hospital psiquiátrico) em Zurique;
1902: Tese de doutoramento: "Sobre a psicologia e a patologia dos fenômenos ditos ocultos";
1903: Casa-se com Emma. Desta união nascem cinco filhos.
1905 - 1909: Chefe de clínica no Burghölzli;
1905 - 1913: Professor na Faculdade de Medicina de Zurique; aulas de psicologia e psiconeuroses;
1907: "Psicologia da Demência Precoce"; encontro com Freud;
1908: I Congresso Internacional de Psicanálise;
1909: Abertura de clínica particular;
1910 - 1914: Primeiro presidente da Associação Psicanalítica Internacional;
1913: Jung dá o nome à sua psicologia de "Psicologia Analítica"; demissão de seu posto de ensino na Universidade de Zurique;
1914: Conferências em Londres e Aberdeen; é mobilizado para o serviço de saúde;
1916: "Sete Sermões aos Mortos" e "A Função Transcendente"; estudo sobre os gnósticos;
1918 - 1919: Comandante do campo de internação de Soldados ingleses; pintura de mandalas;
1921: "Tipos Psicológicos";
1923: Construção da torre perto do lago de Zurique; Jung trava amizade com Richard Wilhelm (tradutor do "I Ching - O Livro das Mutações");
1925 - 1926: Expedição a Uganda, ao Quênia, às margens do Nilo; visita aos Elgonys no Monte Elgon;
1928: "O Eu e o Inconsciente";
1929: Comentário de "O Segredo da Flor de Ouro";
1932: Prêmio de literatura em Zurique;
1933: Viagem ao Egito e Palestina;
1934: Presidente da Sociedade Médica Geral para Psicoterapia;
1938: Viagem à Índia, a convite do governo britânico; presidente do Congresso Internacional de Psicoterapia, em Oxford; membro da Real Sociedade de Medicina;
1940: "Psicologia e Religião";
1944: Nomeação para a cátedra de Psicologia da Faculdade de Medicina de Basileia; "Psicologia e Alquimia";
1945: Doutor "honoris causa" da Universidade de Genebra;
1948: Inauguração do Instituto C. G. Jung em Zurique;
1951: "Aion";
1952: "Sincronicidade" e "Resposta a Jó";
1955: Morte de sua mulher a 27 de novembro;
1955 - 1956: "Mysterium Conjunctionis";
1957: Começo da redação de "Memórias, Sonhos e Reflexões", com Aniela Jaffé; entrevista na TV para a BBC;
1961: Termina, dez dias antes de morrer, um ensaio para "O Homem e Seus Símbolos"; morre a 6 de junho.

Obras


Devido ao tipo de escrita circular usada por Jung, seus escritos costumam ser de leitura difícil. É recomendável iniciar por algum de seus comentadores, como Nise da Silveira (Jung: vida e obra) e Aniela Jaffé (Memórias, sonhos e reflexões de C. C. Jung). Sobre este, um «comentário». www.rubedo.psc.br.
Abaixo, a Obra Completa de C. G. Jung, lançada no Brasil pela editora Vozes:
  • Volume 1: Estudos psiquiátricos.
  • Volume 2: Estudos experimentais.
  • Volume 3: Psicogênese das doenças mentais.
  • Volume 4: Freud e a psicanálise.
  • Volume 5: Símbolos da transformação.
  • Volume 6: Tipos psicológicos.
  • Volume 7/1: Psicologia do inconsciente.
  • Volume 7/2: O eu e o inconsciente.
  • Volume 8/1: A energia psíquica.
  • Volume 8/2: A natureza da psique
  • Volume 8/3: Sincronicidade.
  • Volume 9/1: Os arquétipos e o inconsciente coletivo.
  • Volume 9/2: Aion - Estudo sobre o simbolismo do si-mesmo.
  • Volume 10/1: Presente e futuro.
  • Volume 10/2: Aspectos do drama contemporâneo.
  • Volume 10/3: Civilização em transição.
  • Volume 10/4: Um mito moderno sobre coisas vistas no céu.
  • Volume 11/1: Psicologia e religião.
  • Volume 11/2: Interpretação psicológica do Dogma da Trindade.
  • Volume 11/3: O símbolo da transformação na missa.
  • Volume 11/4: Resposta a Jó.
  • Volume 11/5: Psicologia e religião oriental.
  • Volume 11/6: Escritos diversos.
  • Volume 12: Psicologia e alquimia.
  • Volume 13: Estudos alquímicos.
  • Volume 14/1: Mysterium Coniunctionis - Os componentes da Coniunctio; Paradoxa; As personificações dos opostos.
  • Volume 14/2: Mysterium Coniunctionis - Rex e Regina; Adão e Eva; A Conjunção.
  • Volume 14/3: Mysterium Coniunctionis - Epílogo; Aurora Consurgens.
  • Volume 15: O espírito na arte e na ciência.
  • Volume 16/1: A prática da psicoterapia.
  • Volume 16/2: Ab-reação, análise dos sonhos, transferência.
  • Volume 17: O desenvolvimento da personalidade.
  • Volume 18/1: A vida simbólica
  • Volume 18/2: A vida simbólica
  • Cartas de Carl Gustav Jung.
  • O Homem e seus Símbolos. Obra para leigos, organizada por Jung e escrita por ele e seus colaboradores, com artigos de Aniella Jaffé, Marie-Louise fon Franz e outros.
  • O Segredo da Flor de Ouro: Um Livro de Vida Chinesa.
  • Memórias, Sonhos e Reflexões. Autobiografia escrita em conjunto com Aniela Jaffé.
  • O Livro Vermelho.

Alguns termos empregados por Jung na descrição da psique

AlmaAmplificaçãoAnálise
AnimaAnimusArquétipo
Circum-ambulaçãoCompensaçãoComplexo
ConsciênciaDesintegraçãoDiferenciação
DissociaçãoEgoExtroversão
Fantasia passivaFunção auxiliarFunção inferior
Função IntuiçãoFunção PensamentoFunção Sensação
Função SentimentoFunção superiorFunção transcendente
Funções da consciênciaImaginação AtivaInconsciente coletivo
Inconsciente pessoalIndividuaçãoInflação
InstintoIntegraçãoIntroversão
LibidoPersonalidade manáMandala
Método redutivoMétodo sintético (construtivo)Mito
NeuroseNuminosoOpostos
Participação MísticaPerda da almaPersona
PersonificaçãoPonto de vista prospectivo (finalista)Possessão
ProjeçãoProjeçãoPsicoide
Psicologia AnalíticaPsicosePsique
Psique objetivaPuer AeternusRealidade psíquica
RegressãoSacrifícioSelf (Si-mesmo)
SignificadoSímboloSincronicidade
SombraSonhosTipos psicológicos
TotalidadeTransformaçãoUnus Mundus

Ver também

Wikiquote
Wikiquote possui citações de ou sobre: Carl Gustav Jung

Referências

  1.  «Scielo». www.scielo.br - Arquivos de Neuro-Psiquiatria. Página acessada em 26 de julho de 2011.
  2.  «Psicologia.org». www.psicologia.org.br - Carl Gustav Jung. Página acessada em 26 de Julho de 2011.
  3.  Memories, Dreams, Reflections, p. 209.
  4.  «Jung's Individuation process». soultherapynow.comRetrieved on 2009-2-20
  5.  Aniela Jaffé, foreword to Memories, Dreams, Reflectionsp. x.
  6.  Dunne, Clare (2002). «Prelude». Carl Jung: Wounded Healer of the Soul: An Illustrated Biography (em inglês). [S.l.]: Continuum International Publishing Group. p. 3. ISBN 978-0-8264-6307-4. Consultado em 26 de julho de 2013
  7. ↑ Ir para:a b Lachman, Gary (2010). Jung the Mystic. Nova Iorque: Tarcher/Penguin. p. 258. ISBN 978-1-58542-792-5
  8.  «pandc.ca/?cat=carl_jung&page=jung_nazis». pandc.ca
  9.  Silveira, 1981.
  10.  Silveira, 1981.
  11.  Lomeli, 1999.
  12.  Gallard, 1994 apud Medweth, 1996
  13.  Medweth, 1996.
  14.  Medweth, 1996.
  15.  Lomeli, 1999
  16.  McGuire e Hull, 1982
  17.  Lomeli, 1999
  18.  McGuire e Hull, 1982
  19.  Silveira, 1981
  20.  McGuire e Hull, 1982, p. 52
  21.  apud Loneli
  22.  Lomeli, 1999.
  23.  McGuire e Hull, 1982, p. 70
  24.  Medweth, 1996
  25.  «Lomeli». www.cge.udg.mx, 1999
  26.  «Medweth». www.sfu.ca, 1996
  27.  McGuire, William e Hull, R.F.C. (1982). C.C.Jung: entrevistas e encontros. São Paulo: Cultrix.
  28.  Carl Gustav Jung (em inglês) no Find a Grave
  29.  Rocha Filho, 2007.
  30.  Obras Completas Vol. VIII, p. 450.

Bibliografia

Todas as citações entre aspas que se encontram acima foram extraídas do livro "Memórias, Sonhos e Reflexões", autobiografia de Jung, Editora Nova Fronteira S.A., exceto as que explicitamente referem-se a outras obras.
  • JUNG, C. G. Phénomènes occultes. Paris: Ed. Montaigne, 1939.
  • ROCHA FILHO, J.B. Física e Psicologia. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003, 4a ed. (Google Books)
  • GALVÃO JR., J.C. Sobre a "exceção humana" – Carta a Lacan, Jung, Schmitt. São Paulo: Liber Ars, 2012.

Fonte:Wikipédia

Ligações externas

O Commons possui uma categoriacontendo imagens e outros ficheiros sobre Carl Gustav Jung

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