AMOR,MEDICINA E MILAGRES - TRECHOS DO LIVRO DE UM FAMOSO CIRURGIÃO AMERICANO SOBRE A CURA "ESPONTÂNEA" DE DOENÇAS GRAVES

Bernie S. Siegel, M.D.

A cura espontânea de doentes graves, segundo a experiência de um famoso cirurgião norte-americano.
Tradução de João Alves dos Santos
Título original: Love, Medicine and Miracles
Copyright © B. H. Siegel, S. Korman e A. Schiff - curadores do The Bernard S. Siegel, M. D., Children's Trust. Todos os direitos reservados

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Siegel, Bernie S.
Amor, medicina e milagres / Bernie Siegel; tradução João Alves dos Santos. - São Paulo: Best Seller, 1989.
1. Controle (Psicologia) 2. Cura 3. Espírito e corpo 4. Medicina e psicologia 1. Título.
Fotocomposto na Editora Nova Cultural Ltda. Impressão e Acabamento: Gráfica Círculo

Sinopse:"Numa crítica ao distanciamento entre médico e paciente e à frieza de muitas das mais modernas e sofisticadas técnicas de tratamento, o autor busca propor um caminho para a cura no qual o amor - pela vida e por si mesmo -, a coragem e a autoconsciência possam operar milagres no tratamento de doentes especiais."

Ao Ato de Criação
A meus pais, Si e Rose, por me ensinarem o amor e a esperança
A minha mulher, Bobbie, pelo apoio que me deu, pela presença constante, pela vontade de aprender e de amar
A meus sogros, Merle e Ado, pela coragem e pelo bom humor
A meus filhos, Jonathan, Jeffrey, Stephen e os gêmeos Carolyn e Keith, pelo amor e pela beleza que emprestaram. a nossa vida
A meus companheiros doentes especiais, pacientes e amigos, pelo tempo que despenderam para me ensinar, apoiar e aceitar
A Victoria Pryor, Carol Cohen e Gary Selden, por perceberem de quanta estima, boa vontade e generosidade um cirurgião precisa para completar um livro

Sumário

INTRODUÇÃO 9

PRIMEIRA PARTE - Conscientizando-se do Corpo 1. O Ouvinte Privilegiado 21 2. A Participação na Cura 49 3. A Doença e a Mente 87 4. A Vontade de Viver 128
SEGUNDA PARTE - O Corpo Atento à Mente 1. O Início da Jornada 161 2. Concentrando a Mente para a Cura 186 3. As Imagens na Doença e na Cura 198 4. Tornando-se Especial 203 5. O Amor e a Morte 256

APÊNDICE 280

Amor, Medicina e Milagres trata de realidades concretas, embora os nomes, a localização e as características ind:v: duais tenham sofrido alterações em respeito à privacidade das pessoas.
Introdução
Que na realidade a mente governa o corpo, apesar de a biologia e a medicina não prestarem atenção a isso, é o fato mais essencial que conhecemos sobre o processo da vida.
Anos atrás, um grupo de enfermeiras de um hospital próximo pediu-me que falasse com
Jonathan, médico em que se detectara, pouco antes, um câncer no pulmão. Quando da internação, Jonathan estava em boas condições físicas e de bom humor, brincando com todas as enfermeiras. Mas, ao saber do diagnóstico, entrou em profunda depressão, retraindo-se.
Conversei com ele sobre a correlação entre atitude e doença. Debatemos a experiência de
Norman Cousin, com uma suspeita de tuberculose (TB, no jargão médico), que ele descreveu em Anatomia de uma Doença:
Minha primeira experiência com um diagnóstico médico desanimador aconteceu aos 10 anos de idade, quando me mandaram para um sanatório de tuberculosos. Eu estava magro e muito fraco, parecendo mesmo tomado por séria moléstia. Descobriu-se, mais tarde, que os médicos haviam se enganado, interpretando uma calcificação normal como indícios de TB, pois, naquela época, as radiografias não constituíam uma base totalmente segura para diagnósticos complexos. Em todo o caso, passei seis meses no sanatório.
Para mim, o mais interessante nessa experiência tão precoce foi verificar que os doentes se dividiam em dois grupos: o dos que confiavam em sua capacidade de recuperação (e de retomada de uma existência normal) e o dos que se resignavam ante uma enfermidade prolongada e mesmo fatal. Nós, os que aderíamos à expectativa otimista, tornamo-nos excelentes amigos, envolvidos em atividades criadoras e pouco ligados aos doentes resignados com o pior. Quando entrava um novato no hospital, fazíamos todos os esforços para atraí-lo para nosso lado, antes que a brigada do desânimo entrasse em ação.
Impressionou-me a constatação de que os meninos de meu grupo tinham uma porcentagem de "alta por cura" bem mais elevada do que os do outro grupo. Já aos 10 anos eu estava sendo filosoficamente condicionado, tomando consciência do poder da mente na luta contra a doença. As lições que aprendi acerca da esperança desempenharam importante papel em minha completa recuperação e nos sentimentos que desde então alimento sobre o caráter precioso da vida.
- Sei de tudo isso - comentou Jonathan. - Também estive tuberculoso e me disseram que precisaria ficar dois anos num sanatório. Mas eu respondi que não, que estaria de volta para passar o Natal com a família. E, de fato, seis meses depois, no dia 23. de dezembro, recebi alta.
- Você pode proceder do mesmo jeito com o câncer - encorajei. Duas semanas mais tarde, no entanto, Jonathan estava morto. A viúva teve a gentileza de agradecer meus esforços e explicou que o marido não queria lutar pela recuperação porque a vida e o trabalho haviam perdido todo o significado para ele.
Sir William Osler, brilhante médico e historiador da medicina canadense, dizia que a contração da tuberculose relaciona-se mais com o que se passa na mente do enfermo do que com aquilo que ocorre em seus pulmões. Estava repetindo Hipócrates, que considerava mais fácil saber que gênero de pessoa tem determinada doença do que descobrir que gênero de doença tem deter-minada pessoa. Louis Pasteur e Claude Bernard, dois gigantes da biologia do século 19, polemizavam a respeito do fator mais importante na doença: seria o "terreno" o organismo humano - ou o germe? Em seus últimos momentos de vida, Pasteur admitiu que Bernard tinha razão ao declarar que era o "terreno".
Não obstante a capacidade de percepção desses grandes vultos, a medicina ainda se concentra na doença, enveredando por uma orientação falsa. Os médicos continuam procedendo como se fosse a doença que ataca as pessoas, em vez de compreender que as pessoas é que contraem a doença, por se tornarem suscetíveis a sua causa, à qual todos nós sempre estamos expostos. Embora os médicos de primeira ordem saibam disso muito bem, a medicina em geral raramente estuda as pessoas que não adoecem. Poucos médicos procuram saber como a atitude do paciente em relação à vida modela a duração e a qualidade da vida.
É imensa a variedade dos pacientes. Alguns se recusam a alterar sua forma de viver para aumentar as possibilidades de cura. Quando lhes dou a escolher entre operar e mudar de vida, 80 por cento respondem:
- Opere. Custa menos. Só preciso procurar uma babá para a semana em que estiver no hospital.
No extremo oposto estão aqueles que chamo de pacientes especiais, os sobreviventes. Não aceitam a derrota - como certa mulher entregue a meus cuidados, diabética, cega e com câncer, que sobreviveu a todas as previsões estatísticas e hoje passa a maior parte do tempo ao telefone encorajando outros pacientes. Ela e outros enfermos especiais ensinaram-me que a mente pode afetar de modo singular o corpo e que a doença física não limita a capacidade de amar.
A teoria de Freud segundo a qual ao instinto de conservação se opõe uma espécie de instinto de morte foi refutada por vários psicólogos mais recentes. No entanto, muita gente vive como se quisesse abreviar o tempo de vida. Já os pacientes especiais superam as pressões, os conflitos e os hábitos que levaram outros a agir de acordo com essa consciente ou inconsciente "vontade de morrer". Ao contrário, tudo o que os pacientes especiais pensam e fazem destina-se a levar avante a causa da vida.
Creio que existem dentro de nós mecanismos biológicos de "vida" e de "morte". A pesquisa científica de outros médicos e minha própria experiência clínica diária convenceramme de que o estado de espírito altera o estado físico, agindo por meio do sistema nervoso central, do sistema endócrino e do sistema imunológico. A paz de espírito envia ao corpo uma mensagem de "viva", ao passo que a depressão, o medo e o conflito por resolver transmitem- lhe a mensagem de "morra". Portanto, todas as curas são científicas, embora a ciência ainda não seja capaz de explicar exatamente como ocorrem os inesperados "milagres".
Os pacientes especiais manifestam a vontade de viver da forma mais vigorosa. Tomam conta de sua vida como jamais fizeram antes, esforçando-se para conquistar a saúde e a paz de espírito. Não deixam a iniciativa por conta dos médicos, que passam a ser vistos apenas como membros de uma equipe que exige o máximo em técnica, engenho, dedicação e vistas largas. Se não estiverem satisfeitos, os pacientes especiais mudam de médico. Mas, ao mesmo tempo, mostram-se carinhosos e compreendem as dificuldades que o médico enfrenta. Na maioria dos casos, aconselho o doente insatisfeito a dar um abraço no médico. Isso normalmente torna o médico mais solícito, pois ele passa a ver e tratar o paciente como indivíduo, e não como uma doença.
Certa paciente disse que voltou ao médico com meu conselho na cabeça, mas não conseguiu abraçá-lo.
- Em vez disso, lancei-lhe o olhar mais compassivo que pude - comentou ela. - Então, o médico sentou-se e ficou falando que precisava perder peso, fazer mais exercício. E, afinal, foi ele quem me abraçou!
Se o abraço não der certo, é tempo de procurar outro clínico, pois muita gente sofre horrores por causa de seu relacionamento com o médico.
Todo mundo pode ser um paciente especial, e a melhor ocasião para começar é antes de ficar doente. Muitas pessoas não utilizam plenamente sua força vital até que uma moléstia quase fatal obrigue a isso. Mas não está escrito que deva ser um despertar de última hora. O poder da mente se encontra sempre à disposição, e seu espaço de manobra mostra-se maior antes da ameaça de um desastre. É
um processo que não exige submissão a qualquer fé religiosa ou sistema psicológico em particular.


A maior parte das experiências aqui abordadas trata de casos de câncer, a doença ameaçadora mais comum em minha vida profissional. Mas os mesmos princípios se aplicam a todas as enfermidades.
O problema fundamental da maioria dos pacientes é a incapacidade de se amar, já que não foram amados durante algum período decisivo de sua vida. Em geral esse desamor ocorre na infância, quando as relações com os pais estabelecem a forma característica de reagir à tensão. Na idade adulta, repetimos essas reações e, assim, nos tornamos vulneráveis à doença, cuja natureza específica depende muitas vezes de nossa personalidade. A capacidade de nos amarmos, juntamente com a de amar a vida, aceitando por inteiro que ela não dura para sempre, permite melhorar sua qualidade. Como cirurgião, meu papel consiste em ganhar tempo para que as pessoas possam se curar por si mesmas. Procuro ajudá-las a ficar bem e, ao mesmo tempo, compreender por que adoeceram. A partir daí, poderão obter uma verdadeira cura e não uma simples reversão de determinada moléstia.
Este livro constitui um guia para semelhante transformação e um registro da forma pela qual meus pacientes me educaram. Procuro agir como uma ponte para o amor pela vida que eles dolorosamente adquiriram e que nos ensina a lutar eficazmente por nossa saúde. Não dou apenas conselhos sobre o que fazer, embora eles sejam muitos; apresento um guia, repito, para essa parte de nós mesmos em condições de lazer a melhor opção e de ordenar à vontade que a siga. Tenho a esperança de chegar além do espírito racional, já que os milagres não provêm do frio intelecto. Provêm da descoberta de nosso eu autêntico e da perseverança naquilo que sentimos ser nosso verdadeiro rumo.
Se o leitor esta sofrendo de alguma doença que lhe ameace a vida, a transformação de que estou falando pode salvá-lo ou prolongar-lhe a sobrevivência para muito além das expectativas da medicina. No mínimo, permitirá maior proveito do tempo que lhe resta. Se o problema de saúde do leitor é de menor importância, ou se não estiver doente mas também não estiver gozando realmente a vida, os princípios que adquiri junto de pacientes especiais podem trazer-lhe alegria e ajudá-lo a evitar qualquer doença. Se o leitor é médico, espero que o livro lhe proporcione algumas estratégias de que há muito vem sentindo necessidade, técnicas que a formação universitária não lhe incutiu. Raramente os médicos percebem que falam aos pacientes cancerosos de modo distinto do que usam com os outros. A um enfartado explicamos que deve mudar de hábitos - começar uma dieta, praticar exercícios e assim por diante -, participando de sua própria cura. Mas, se o paciente sofrer de câncer, os médicos, na maioria, dirão: "Se este tratamento não der certo, não sei mais o que fazer". Precisamos aprender a dar aos pacientes a oportunidade de participar na recuperação de qualquer tipo de doença.
Não estou querendo dizer que sou melhor que os outros médicos, mas eu me sentia um fracasso até que os pacientes me ensinaram que na medicina há mais do que drágeas e incisões.
Sei que os consultórios vivem lotados de pessoas que esgotaram a energia de meus colegas e continuam enfermas. Conheço a dor que os médicos sentem. Temos todos os problemas que os outros têm, mais aquele que a faculdade nos inculca: o papel de mecânico salva-vidas. Por ele, a doença e a morte são falhas nossas. Ninguém vive para sempre, mas o objetivo não é a morte- é a vida. E a morte não é um fracasso. Fracasso é a incapacidade de assumir o desafio da vida.
Deixe que lhe apresente pacientes capazes de repor sua energia, aqueles que ficaram bons quando ninguém supunha que isso fosse possível. Gostaria de demonstrar como aprender com os pacientes de maior êxito e ajudar os outros a despertar de novo a "vontade de viver". O processo contribuirá inevitavelmente para ajudar o leitor médico a curar-se e a fazer de si mesmo um terapeuta mais bem-sucedido.
Temos de eliminar do nosso vocabulário a palavra "impossível". Conforme observou
David Ben-Gurion, em outro contexto: "Quem realmente não acredita em milagres não é realista". Além disso, há uma lição na forma como nos desorientamos com expressões como "remissão espontânea" e "milagre". Elas indicam que o paciente deve estar feliz por ter sarado, mas a verdade é que a cura se deu graças a um trabalho árduo. Não é um ato de Deus. Algo que, para uma geração, é milagroso, talvez seja um fato científico, para outra. Não feche os olhos para acontecimentos imensuráveis: eles ocorrem graças a uma energia interior que todos possuímos. Eis aí a razão pela qual prefiro expressões como "cura criadora" ou "cura auto-induzida", que enfatizam o papel ativo do doente. Vejamos como esses doentes especiais agem para se curar.
Dr. Bernie S. Siegel New Haven, Connecticut, Abril de 1986
- Tudo o que estou dizendo é que não devemos nos comportar como coelhos e depositar confiança completa nos médicos. Eu, por exemplo, estou lendo este livro - disse Kostoglotov.
Pegou um grande livro aberto no cadeirão próximo à janela e anunciou: - De Abrikosov e Stryukov, Anatomia Patológica, um manual de medicina. Reza aqui que a ligação entre o desenvolvimento de tumores e o sistema nervoso central foi até agora muito pouco estudada. E a ligação é uma coisa espantosa! Está descrita com todas as palavras.
Folheando, localizou o trecho: - "Raras vezes acontece, mas há casos de cura auto-induzida." Entendeu a colocação? Não é recuperação por meio de tratamento, mas cura de verdade. Compreende?
Sentiu-se um alvoroço na enfermaria, como se a "cura auto-induzida" tivesse batido asas para fora do grande livro aberto, qual borboleta das cores do arco íris, para que todos a vissem - e todos ergueram a fronte e as faces à espera do toque salvador, à medida que ela voejava.
- Auto-induzida - disse Kostoglotov, deixando o livro de lado e abanando as mãos com os dedos afunilados. - Isso quer dizer que, de súbito, por qualquer razão desconhecida, o tumor parte em direção oposta: vai se reduzindo, se decompondo e, finalmente, desaparece!
Compreende?
Estavam todos em silêncio, embasbacados com o conto de fadas. Um tumor, nosso próprio tumor, o tumor destrutivo que nos estraçalhava a vida, repentinamente entra em processo de drenagem, seca e morre por si mesmo?
Estavam todos em silêncio, ainda de cabeça erguida para a borboleta. Só o desanimado do
- Suponho que, para isso, é necessário tera consciência limpa.
Podduyev, fazendo estalar a cama, resmungou, com uma obstinada expressão de desespero na face:
ALEKSANDR I. SOLJENÍTSIN Pavilhão dos Cancerosos
Primeira Parte Conscientizando-se do Corpo
1 O Ouvinte Privilegiado
Uma nova filosofia, uma forma de vida, não se dá por nada. É preciso pagar caro por ela, e só a adquirimos com muita paciência e grande esforço.
Na faculdade de medicina não se toca no assunto dos doentes especiais, pela qual só me interessei ao fim de extenso período de infelicidade e de mergulho na alma de minha profissão. Não recebi uma única aula sobre cura e carinho, como falar aos pacientes ou por que ser médico. Não me curaram durante o curso, mas esperavam que eu curasse os outros.
No começo da década de 70, com mais de dez anos de experiência como cirurgião, estava achando meu trabalho muito cansativo. Não era um caso típico de cansaço mortal, pois eu me encontrava em condições de enfrentar os intermináveis problemas, a intensidade das tarefas e as constantes decisões de vida ou morte. Mas fora preparado para pensar que todo meu trabalho consistia em fazer maquinalmente coisas para deixar as pessoas melhor, para salvarlhes a vida. É assim que se avalia o êxito de um médico. Como as pessoas nem sempre melhoram e todas acabam morrendo, algum dia, era de esperar que eu me sentisse um fracasso. Intuitivamente, sentia que deveria haver algum meio de ajudar os casos "sem esperanças", indo além de meu papel de mecânico. No entanto, precisei dedicar anos a laboriosas conquistas até descobrir o que fazer.
No começo, esperava enfrentar novos problemas todos os dias. O desafio era excitante, pois quebrava a rotina. Ao fim de alguns anos, porém, os próprios desafios se tornaram monótonos. Claro que eu apreciaria um dia dos bons, em que tudo corre pelo figurino e surgem apenas casos rotineiros. No entanto, não havia dias "normais". Só muito mais tarde passei a me interessar pelas emergências e até pelo colapso do atendimento hospitalar como oportunidades extraordinárias para ajudar os outros.
Não ha cirurgiões perfeitos. Procuramos fazer o melhor e lutar contra as complicações.
Elas são desalentadoras, mas contribuem para que mantenhamos os pés na terra e não comecemos a nos ver como deuses. O caso que mais abalou a fé que eu depositava em mim mesmo, no início da carreira, foi o dano causado ao nervo facial de uma menina que operei. Ao vê-la com a metade do rosto paralisada, tive vontade de me esconder para sempre. Desfigurar alguém constitui experiência chocante sobretudo para quem se especializou em cirurgia com o objetivo de ajudar os outros. Infelizmente, eu ainda não aprendera que minha reação típica de médico - esconder a dor quando algo de errado acontece - não era boa para ninguém.
A pressão nunca afrouxava. Quando um paciente dava entrada no centro cirúrgico com uma séria hemorragia, a equipe ficava tensa, em pânico - até que o cirurgião chegava. A partir daí, era meu estômago que se contorcia, enquanto todos relaxavam. Eu não podia transferir o problema a ninguém: tudo o que me restava era refluir para dentro de mim, em busca de tranqüilidade. Na hora de iniciar uma cirurgia, o suor porejava. Mas, à medida que as coisas iam ficando sob controle, eu esfriava, embora as luzes continuassem quentes como antes. Sentia-me desesperadamente sozinho, esperando de mim mesmo a perfeição. E voltava para casa ainda tenso. Dias antes de uma operação difícil, ficava remoendo o problema no espírito, rezando para que tudo desse certo. Depois dela, ainda que tudo tivesse corrido bem, costumava acordar de madrugada pondo em dúvida minhas decisões. Hoje em dia, após tantos anos da educação que recebi dos doentes, sinto-me apto a tomar qualquer decisão, a mantê-la e a segui-la, certo de que estou fazendo o melhor que posso. Como um pastor evangélico que se sentisse sozinho por não ter aprendido a falar com Deus, o médico se isola, se não aprender a falar com os pacientes.
Uma das dificuldades mais sofridas é o escasso tempo que temos para dedicar à família. O atleta pode tomar um banho de chuveiro e ir para casa, após o jogo, mas a regra, para os médicos, é uma jornada de trabalho sem fim. Fui obrigado a aceitar a idéia de que um fim de semana com a família era um prêmio, e não alguma coisa com que pudesse contar. Estava, aliás, experimentando uma culpa dupla: gazetear algumas horas era como se estivesse roubando um tempo que pertencia aos doentes, ao passo que os expedientes de dezesseis horas significavam roubar um tempo que pertencia a minha mulher e a nossos filhos. Não sabia de que maneira remir a culpa ou unificar minha vida. Muitas vezes, à noite, já em casa, o cansaço era demasiado para que eu pudesse desfrutar do convívio familiar. Certa vez, estava tão exausto que, ao levar a empregada doméstica para sua casa, tomei automaticamente o rumo do hospital. Talvez ela tenha imaginado que eu a estivesse raptando.
Até as horas que eu conseguia passar em casa pareciam estar sempre a ponto de serem interrompidas. As crianças estavam constantemente perguntando se eu seria chamado naquela noite e todos ficavam tensos quando isso acontecia, porque a tarde com a família não duraria muito. A campainha do telefone - que, para a maioria das pessoas, emite um som amistoso - implicava, para nós, ansiedade e separação.
Uma das provações mais dilacerantes que o médico experimenta reside no fato de a morte sobrevir quase sempre no meio da noite, particularidade que hoje compreendo. Não há como evitar uma crispação nervosa quando um paciente em coma dois dias falece às 2 horas da madrugada, sendo preciso acordar o médico e a família para dar a notícia. "Por que os mortos não têm um pouco de respeito pelos vivos?", pensamos nós. São raros os profissionais da medicina que fazem menção a essa hostilidade, pois nos sentimos culpados por ela. A estafa aumenta com a obrigação de chegar animado e alerta à sala de cirurgia às 7 horas, não obstante os problemas familiares e dois ou três telefonemas durante a noite.
No dia de ano-novo de 1974, comecei a escrever um diário. No início, quase não passava de uma válvula de escape para meu desespero. Certa noite, escrevi o seguinte: "Às vezes parece que o mundo está morrendo de câncer. Cada abdome que a gente abre está tomado por ele". Mais adiante encontra-se este desabafo: "Vivo com o estômago embrulhado e sinto horror ao pensar no futuro. Quantas faces ainda terei de encarar, dizendo que sinto muito, mas é um tumor inoperável?"
Eu me lembro muito bem de Flora, uma paciente que tive nessa época. Seu marido falecera havia pouco e, agora, era ela quem estava morrendo de um câncer no útero, cuja evolução duas cirurgias não haviam detido. Ela se agoniava ao ver que suas economias, já legadas aos netos, se reduziam a cada diária hospitalar. Queria prolongar a vida e, ao mesmo tempo, queria morrer; para que o dinheiro destinado à educação deles não fosse malbaratado por seu débil organismo.
Eu me perguntava onde iria buscar forças para ajudar tanta gente em dificuldades. E, graças à introspecção propiciada pelo diário, acabei por compreender que tinha de modificar a forma como encarava a atividade médica. Foi uma época em que pensei seriamente em mudar de carreira. Imaginei seguir o magistério - ou então, ser veterinário, já que os veterinários podem afagar seus pacientes. Não chegava a nenhuma conclusão, mas compreendia que minhas opções se relacionavam aos seres humanos. Até na pintura, meu passatempo predileto, só me interessava por retratos.
Um belo dia, tudo clareou. Lá estava eu, assistindo uma porção de doentes todos os dias, avistando dezenas de médicos e de enfermeiras e, ainda assim, andando atrás de criaturas humanas. Até então, eu cuidara de casos, gráficos, doenças, remédios, equipes e prognósticos - e não de pessoas. Vivera pensando em meus pacientes como máquinas que eu tinha de consertar. Comecei a entender de outra forma a linguagem de meus colaboradores. Fiz, nesse ano, uma palestra para pediatras. Muitos chegaram atrasados, explicando, excitados, que haviam estado às voltas com um "caso interessante" - uma criança às portas do coma diabético, por exemplo. Compreendi, chocado, que distância essa atitude colocava entre o médico e seu "caso", que vinha a ser uma criança gravemente doente e assustada e pais atormentados.
Ganhei então consciência de que, apesar do quanto lutara contra isso, eu também adotara aquela norma de defesa contra a dor e o fracasso. Como me sentia ferido, retraía-me quando os pacientes mais precisavam de mim. Foi o que me saltou aos olhos no regresso de férias prolongadas, em agosto de 1974. Durante alguns dias, reagi apenas como um ser humano. Depois, as emoções começaram a esmaecer, substituídas pelo verniz profissional. Eu queria, no entanto, manter viva a sensibilidade, uma vez que, na realidade, a frieza não livra ninguém do sofrimento; ela apenas enterra a dor num nível mais profundo. Nessa época, eu considerava fundamental manter certo distanciamento. Mas, em minha opinião, esse distanciamento é muito grande, na prática de certos colegas. Em muitíssimos exemplos, a pressão elimina em nós a natural compaixão. O "interesse neutro" que nos ensinam é um absurdo. Convém, isso sim, que se ensine um interesse racional, que permita a expressão dos sentimentos sem prejudicar a capacidade de tomar decisões.
Mas eu ainda me interrogava: devia continuar sendo um cirurgião ou abandonar toda uma vida de trabalho e adotar outra especialidade? Pensei na psiquiatria, com a qual teria condições de ajudar as pessoas sem usar o bisturi. Foi então que um de meus pacientes cancerosos, o pianista Mark, me ajudou a compreender que eu podia ser feliz sem mudar de profissão. À medida que ele melhorava, os amigos insistiam para que voltasse a dar concertos. Ele recusava os convites dizendo saber que já não pertencia ao mundo do palco. Agora, sentia-se mais feliz tocando em casa. Continuava a fazer aquilo que apreciava, mas alterara o contexto para atender a suas próprias necessidades. Percebi que precisava fazer o mesmo.
Procurei "dar uma escapada" e abrir a porta do coração e a do consultório. Encostei a mesa contra a parede, para que eu e o paciente nos encarássemos como iguais. Um funcionário da companhia telefônica, um carpinteiro e um estudante disseram que o consultório não se achava bem instalado, uma vez que a mesa já não ocupava o centro da sala. Expliquei que pretendia ver o paciente sem nenhum obstáculo entre nós, em vez de me exibir como autoridade em fracassos.
Comecei então a pedir aos doentes que me tratassem pelo prenome. A princípio, era esquisito ser apenas Bernie e não doutor Siegel, ser conhecido pelos outros como uma pessoa, e não como um título. Entendia que precisava gostar de mim mesmo e merecer respeito não pelo que aprendera na faculdade, mas sim pelo que eu fazia. Valeu a pena. É um meio simples mas eficaz de romper a barreira entre médico e paciente.
O deslocamento da mesa e o tratamento pelo prenome não passavam de sintomas de uma transmutação mais ampla. Cometi o pecado mortal do médico: "envolvi-me" com os doentes. Era a primeira vez que eu percebia a fundo o que era viver com câncer, ter noção do receio de que ele esteja se espalhando até quando falamos com o médico, lavamos os pratos, brincamos com os filhos, trabalhamos, dormimos ou amamos. Como é difícil manter a integridade de ser humano tendo semelhante conhecimento.
Deixei de me esconder emocionalmente das cenas de tristeza a que assistia no cotidiano.
Um dia, em meu plantão, encontrei um doente deitado de lado, babando, com a face letárgica por efeito dos medicamentos. Ele empregava todas as forças que lhe restavam no ato de segurar o urinol, completamente alheio à magnífica paisagem ensolarada que se podia ver pela janela à sua frente. Estava estendido em cima de uma poça do que parecia suco de laranja misturado com bílis - e me descobri olhando, espantado, para o chocante colorido do lençol manchado. Fiquei acabrunhado perante o contraste de beleza e sofrimento. Não tardei, porém, a descobrir que era possível mobilizar forças no íntimo dos pacientes. Diante de um casal, ele com grave doença cardíaca e ela com avançado câncer mamário, cada qual tentando sobreviver a fim de ajudar o outro, senti diminuir minha impressão de impotência. A compaixão de outra mulher, com os dois braços fraturados, sofrendo dores terríveis, e que, apesar disso, ainda se preocupava comigo por estar trabalhando até tarde, eliminou minha fadiga. Ao dizer a um doente em estado agônico "Mais tarde nos veremos" e ouvi-lo responder com o gracejo "Espero que sim", a sensação de derrota iminente desapareceu. Verifiquei que o medo da morte não vencera o espírito daquele homem. Primeiramente, comecei a abraçar os pacientes, imaginando que precisassem de uma prova de confiança de minha parte. Mais tarde, porém, já me via dizendo "Sinto necessidade de lhe dar um abraço". E, mesmo que estivessem com respiração assistida, eles erguiam a cabeça para eu tocar neles ou beijá-los, com o que se evaporavam minha culpa, meu cansaço, meu desespero. Eram eles que estavam me salvando.
Em face de tanta coragem, volta e meia sentia vontade de fazer alguma coisa que facilitasse a agonia. A meu ver, os métodos adotados pela medicina para prolongar a vida e curar a doença - um dos objetivos mais nobres da civilização - eram por vezes mais cruéis que os dos selvagens, que aliviam com a morte as doenças graves. É costume dizer que nunca se sabe ao certo quando chega a hora da morte, mas estou convencido de que algumas pessoas sabem, ao sopesar o fardo das horas, dos dias ou dos meses que lhes restam de dor. É comum os velhos estranharem por que viver tanto tempo, só para sofrer tormentos e humilhações tão demoradas. Deveríamos ter meios de auxiliar o tranqüilo desenlace de uma pessoa, já que nada representa o valor de um dia de sobrevida. (Estou falando de meios naturais de desenlace, aos quais todos nós temos acesso quando já não se considera a morte um desastre.)
Nunca senti tão forte necessidade de compaixão, para equilibrar o heroísmo dos médicos, como por ocasião da morte de Stephen, um amigo de meu sócio. Após um violento ataque cardíaco, ele foi amarrado a um leito, com tubos em todos os orifícios. Seu estado era tão desesperador que foi emitida uma ordem proibindo a ressuscitação. O homem chorava de dor e de medo. mas ninguém autorizava a aplicação de analgésicos, com receio de que a medicação apressasse o inevitável, dando a impressão de se tratar de eutanásia. Afinal, meu sócio acabou intercedendo, embora o amigo fosse paciente de outro médico. Aplicou-lhe uma injeção de Nembutal e, com isso, Stephen conseguiu relaxar e abandonar o corpo em paz. Sussurrou um "Obrigado" e apagou-se tranqüilamente em cinco minutos. Seria melhor para ele se tivesse ficado na rua do que no hospital, pois o fim viria mais depressa e seria menos penoso para todas as pessoas envolvidas. Até que ponto vale dizer que estamos prolongando a vida, se o doente se transmutou em nada mais do que uma válvula entre os fluidos intravenosos que entram e a urina que sai? Tudo o que estamos prolongando é a agonia. O editorial "Não Em Meu Turno", publicado no Journal of the American Medical Association, refletiu o dilema de um médico quanto ao prolongamento da agonia e à não-extensão da vida.
A palavra "hospital" deriva de um vocábulo latino que significa "hospedaria", mas raras vezes a instituição hospitalar é hospitaleira. Pouca atenção se dá ao carinho e à cura, como se fossem prejudiciais à medicação. Já meditei muitas vezes por que os arquitetos, pelo menos, não pensam em tetos mais bonitos, já que os internados passam tanto tempo olhando para cima. Há um aparelho de televisão em cada quarto, mas onde está o vídeo musical, criador, meditativo ou humorístico que ajude a estabelecer um ambiente saudável? Que liberdade se dá aos doentes para que mantenham sua identidade?
Recentemente, um deles, de nome Sam, que se curou rapidamente de uma operação de hérnia, explicou, numa carta, como a atmosfera mais livre lhe foi benéfica:
Uma dúvida me intrigava: por que eu estava me tornando o modelo do "bom paciente", caladinho e cooperante? Justo eu, que sempre dei a perceber que estou por aí, fazendo onda só para fazer onda.
Fiquei pensando nisso e a única resposta a que cheguei foi esta: como a decoração do hospital não era autoritária (especialmente com os novos uniformes, que me deixavam confuso) e a equipe se mostrava muito eficiente, eu não tinha contra o que me rebelar. Também acho que a rapidez da cura e o fato de eu não me sentir desesperançado nem dependente me fizeram sentir que tudo estava sob controle - então, não era necessário fazer grande alarde.
Enquanto alguém está internado, a equipe se torna parte da família dessa pessoa, pois o paciente é visto com mais freqüência e com mais intimidade. Temos de enfrentar essa responsabilidade oferecendo o tipo de apoio afetivo supostamente proporcionado pela família. Os parentes não conseguem fazer tudo durante as poucas horas da visita. Penso num doente meu, com um carcinoma no cólon e metástases nos pulmões e no cérebro. Ele se recusava a receber tratamento porque queria morrer ao sol, na varanda da frente de sua casa, escutando os passarinhos. Por que os hospitais não se mostram tão agradáveis assim?

Entregando-me ao mesmo sofrimento e ao mesmo medo que os doentes sentiam, acabei por compreender que existe um aspecto da medicina mais importante que todos os processos técnicos. Aprendi que eu tinha a oferecer muito mais que cirurgia e que minha contribuição era extensiva aos moribundos e aos sobreviventes. Concluí que o único motivo válido para permanecer na profissão consistia em oferecer às pessoas aquilo de que mais se ressentiam, no momento: estima. Cito, a propósito, as Lições Mortais, de meu sócio Dick Selzer, um grande ensaísta e também um grande cirurgião:
ouvePouco a pouco, vai se avolumando, erguendo-se da carne porejante até se tornar,
Não sei quando compreendi que é precisamente este inferno onde lutamos pela vida que nos oferece a energia, a possibilidade de cuidar uns dos outros. Um cirurgião não se despede do ventre materno já revestido da compaixão como uma placenta. Ela nasce muito mais tarde. Não cai sobre ele como um estado de graça, mas como o murmúrio acumulativo das inúmeras feridas que enfaixou, das incisões que fez, de todas as chagas, úlceras e cavidades em que tocou para medicar. No começo, é um sopro que mal se por fim, puro apelo - um som exclusivo, como o grito de certas aves solitárias -, revelando que, da ressonância entre o doente e aquele que o atende, pode brotar essa profunda reverência a que os religiosos chamam de Amor.
Em junho de 1978, minha clínica cirúrgica transformou-se devido a uma experiência inesperada que tive num seminário de atualização. O oncologista Carl Simonton e a psicóloga Stephanie Matthews (na época, sua esposa) deram um curso intensivo sobre Fatores Psicológicos, Tensão e Câncer, no Instituto Elmcrest, em Portland, Connecticut. Os Simonton foram os primeiros, no mundo ocidental, a empregar técnicas ideativas contra o câncer e, em associação com James L. Creighton, expuseram seus métodos no livro Ficando Bem de Novo. O casal já divulgara seus primeiros resultados com cancerosos "terminais". Dos primeiros
159, dos quais não se esperava que algum deles vivesse mais que um ano, 19 por cento ficaram curados por completo e 2 por cento viram a doença regredir. Os que acabaram morrendo tiveram, em média, o dobro do tempo previsto de sobrevida.
Ao observar os participantes da primeira sessão do curso, fiquei espantado e enraivecido ao descobrir que eu era o único "médico do corpo" ali presente. Estavam um psiquiatra e um clínico holístico, mas nenhum médico atendente de emergência, entre os 75 participantes. A maioria era constituída por assistentes sociais, doentes e psicólogos. Fiquei ainda mais furioso ao ouvir muitos participantes afirmarem que já conheciam tais técnicas, pois o que eu estava aprendendo nem sequer fora citado em meu curso. E lá estava eu, um Doutor em Medicina, uma "Divindade Médica", sem saber nada do que se passava na mente das pessoas! A literatura sobre a interação mente-corpo era separada e, por conseqüência, desconhecida para os especialistas de outras áreas. Tive, pela primeira vez, a noção de quanto estão à frente, nesse terreno, a teologia, a psicologia e a medicina holística.
Refleti então nos índices de morbidade dos médicos, categoria profissional que acusa mais problemas com drogas e álcool, bem como uma taxa de suicídios mais elevada que a de seus pacientes. Sentem-se mais desamparados do que estes e morrem mais depressa após os 65 anos. Não admira que tanta gente evite consultar os clínicos gerais. Você levaria seu carro a um mecânico que não consegue fazer o dele pegar?
Os Simonton ensinaram-nos a meditar. A certa altura, conduziram os participantes numa meditação dirigida, para que cada um encontrasse seu guia interior. Aceitei o exercício com todo o ceticismo que é de se esperar de um médico mecanicista. No entanto, lá me sentei, fechei os olhos e segui as instruções. Se funcionasse - no que eu não acreditava -, esperava ver Jesus ou Moisés. Quem mais ousaria aparecer dentro da cabeça de um cirurgião?
Mas, em vez deles, conheci George - um jovem de comprida cabeleira, vestido com uma toga drapejada, imaculadamente branca, e de solidéu na cabeça. Foi um choque, pois eu não esperava que nada acontecesse. Como os Simonton nos haviam orientado a entrar em comunicação fosse quem fosse a pessoa a quem tivéssemos apelado por meio do espírito inconsciente, achei que falar com George era como jogar xadrez comigo mesmo, mas sem saber qual seria a jogada seguinte de meu alter ego.
George era espontâneo, conhecia meus sentimentos e mostrou-se excelente conselheiro.
Deu-me respostas honestas, algumas das quais não apreciei de início. Eu ainda admitia a hipótese da mudança de carreira. Quando lhe falei nisso, George disse que eu era muito orgulhoso para abandonar a proficiência técnico-cirúrgica, tão dificilmente conquistada, para engatinhar em outra área. Eu seria mais útil continuando a operar, mas mudando de personalidade, a fim de ajudar os pacientes a mobilizar sua capacidade mental contra a doença. Teria condições para conjugar o apoio e a orientação de um sacerdote ou psiquiatra com os recursos e a experiência de um médico. Exerceria clerurgia (neologismo cunhado por minha mulher a partir de "clero" e "cirurgia"). Faria, no hospital, o papel de modelo para alunos, funcionários e até médicos. - Você circula por todo o hospital, coisa que um pastor ou um psicólogo não podem fazer
- lembrava George. - Fica à vontade para complementar o tratamento médico com afeto ou conselhos sobre a agonia e a morte, o que está vedado a quem não é médico.
Suponho que o leitor considere George uma visão meditativamente liberada de meu inconsciente, ou algo semelhante, caso precise de uma classificação intelectual para ele. Tudo o que sei é que ele tem sido um companheiro inestimável, desde que me apareceu. Agora vivo muito melhor, visto que ele se encarrega do trabalho pesado.
Outra coisa que ele fez foi me ajudar a ver aspectos da medicina que me escapavam.
Verifiquei que, em matéria de curar doenças, as exceções não confirmam a regra. Se ocorre um "milagre", a exemplo da resolução permanente de um câncer, é válido e não há por que desprezá-lo como um lance de sorte. Se ocorreu com um paciente, não há razão para não ocorrer com outros. Entendi que a medicina se dedica ao estudo daquilo em que falhou, quando deveria extrair lições de seus êxitos. Conviria prestar mais atenção aos pacientes especiais, aqueles que de repente saram, em vez de olhar obtusamente para aqueles que morrem, como de hábito. Conforme dizia René Dubos, "às vezes, ó que é mais fácil de medir desloca para fora o que é mais importante".
Vi então como a confiança em estatísticas deformara meu modo de pensar. Anos antes, havia operado Jim, que estava com câncer no cólon. Isso foi no tempo em que eu fazia previsões quanto à sobrevida dos pacientes, e avisei a família de que ele contava com, no máximo, seis meses de vida. Jim demonstrou meu erro. Sempre que ele entrava em meu consultório, acudia-me o pensamento: Ah! Finalmente lá veio a recidiva. Mas, em geral, tratava-se de um pequeno problema, sem relação com o câncer. E, se eu oferecia terapia de acompanhamento para o mal maior, ele recusava. Estava muito ocupado com a vida e não tinha tempo para meu tratamento, baseado em estatísticas. Faz mais de dez anos que Jim goza de boa saúde.
No extremo oposto estão pacientes como Irving, consultor financeiro; que investia as economias da vida inteira de outras pessoas conforme as estatísticas. Quando me consultou, tinha câncer no fígado. O especialista com quem se tratava mostrou-lhe as estatísticas sobre suas possibilidades. Isso bastou para que Irving se recusasse a lutar pela vida.
- Passei a vida fazendo previsões com base em estatísticas - comentava ele. - Agora, elas me dizem que provavelmente vou morrer. Se não morro, minha vida inteira perde o sentido.
Foi para casa e morreu. Um dos problemas correlacionados com a estatística do câncer está em que as curas autoinduzidas não fazem parte da literatura médica. Um levantamento dos estudos sobre câncer colo-retal localizou apenas sete casos de curas auto-induzidas entre 1900 e 1966, embora o número deva ser bem maior. A pessoa que se sente bem, embora se suponha que não deveria estar, não volta ao médico. Se voltar, muitos profissionais admitirão automaticamente que houve um erro de diagnóstico. Além disso, a maior parte dos médicos considera esses casos "místicos" demais para serem descritos numa revista de medicina, ou então acha que não se referem aos outros pacientes, os "desesperados".
No entanto, desde que passei a me interessar por essas raridades, ouço falar em curas "milagrosas" aonde quer que eu vá. Estando a par de que eu sei dessas coisas, as pessoas sentem-se mais à vontade para me falar delas. Por exemplo, depois de uma conversa na igreja de certa localidade, determinado homem entregou-me um cartão e me disse, em voz baixa, que o lesse mais tarde, saindo em seguida. Dizia a nota, manuscrita:
Há coisa de dez anos, seu sócio operou meu pai, removendo-lhe parte do estômago.
Nessa ocasião, o senhor descobriu que todo o sistema linfático de papai era canceroso. Como eu era o filho mais velho, o senhor me aconselhou a informar os outros membros da família sobre o estado de meu pai. Preferi não informar. No domingo passado, nós lhe oferecemos, de surpresa, uma bela festa de aniversário. Ele completava 85 anos, e mamãe, com seus 80, sorria a seu lado!
Fui ver no arquivo e, não havia dúvidas, nós tínhamos considerado terminal a doença daquele homem, mais de dez anos antes. Ele sofria de câncer no pâncreas, com metástases nos nódulos linfáticos. Reexaminei as lâminas do laboratório de patologia e não havia erro diagnóstico. A resposta de qualquer médico a tal caso seria "tumor em desenvolvimento lento". Atualmente, esse antigo paciente está com 90 anos. Portanto, o tumor deve ser daqueles que crescem bem devagar. É um dos tais casos em que os médicos deveriam correr à casa do doente e perguntar por que ele não morreu na data prevista. De outro modo, a cura espontânea não será registrada na literatura médica e nunca saberemos se não se trata de exemplos de boa sorte, erros de diagnósticos, tumores de desenvolvimento lento ou cânceres bem-comportados.
Depois da experiência com os Simonton, instalei, com a cooperação de minha mulher,
Robbie, e de Marcia Eager, então enfermeira de meu consultório, o grupo terapêutico PCE - Pacientes de Câncer Especiais, para ajudar as pessoas a mobilizar todo seu potencial contra a doença. Adotamos como manual o livro dos Simonton, Ficando Bem de Novo, e remetemos uma circular aos clientes, dando a entender que podíamos contribuir para que levassem uma vida melhor e mais duradoura, seguindo as técnicas ministradas pelo PCE. Esperávamos centenas de respostas, imaginando que a pessoa que recebesse a circular contaria a outro doente do mesmo mal e o traria à reunião. Afinal de contas, pensava eu, todos querem viver. Muitos doentes vão ao fim do mundo atrás de tratamentos alternativos que ofereçam uma réstia de esperança! Comecei mesmo a ficar tenso diante da possibilidade de enfrentar uma multidão.
Apareceram doze pessoas. Foi então que aprendi a identificar os doentes. Descobri que abrangem três tipos. Uns 20 por cento querem morrer, consciente ou inconscientemente. De certa forma, acolhem bem o câncer ou outra doença grave como um meio de escapar dos problemas. Pertencem ao número daqueles que não dão sinais de angústia ao saber do diagnóstico. Enquanto os médicos lutam para lhes poupar a vida, eles resistem e procuram a morte. Se lhes perguntamos como vão, respondem: "Bem, obrigado". Alguma coisa os incomoda? "Nada." Quando eu começava a compreender esse modo de ser, encontrava-me, certa tarde, no quarto de um paciente de meia-idade, com câncer no cólon, enquanto um de meus sócios discutia o tratamento com ele e com a esposa. Sentia a resistência dele a todas as opções. Entrei na conversa e disse:
- Acho que o senhor não quer viver. A esposa ficou furiosa, mas Harold, o doente, replicou: - O senhor tem razão. Meu pai tem 90 anos, está senil e vive numa casa de repouso. Ora, eu não quero ser como meu pai e por isso está certo que eu morra agora, de câncer.
Com isso, a questão mudou de figura. Tratava-se de fazê-lo sentir que podia dirigir a vida e a morte, compreendendo que não estava obrigado a abrir mão de tantos anos de bem-estar só para fugir à possibilidade de um final desagradável. Não temos de chegar aos 90 anos e ficar senis, se estivermos em condições de dizer "não" a quem queira prolongar artificialmente nossa vida - ou melhor, nossa agonia. Ao fim de vários dias de discussão sobre o assunto e de avaliação do valor que ele dava à vida, Harold aceitou o tratamento do câncer e ainda hoje se acha bem.
Pouco tempo depois, um amigo psiquiatra comentou um caso que mostra até onde a vontade de morrer pode chegar. Certo dia, um paciente seriamente deprimido entrou todo sorridente no consultório. O psiquiatra perguntou o que havia acontecido e o homem respondeu:
- Não preciso mais de você! Estou com câncer. Ao meditar em tais respostas, chego a perguntar a mim mesmo por que motivo nos esforçamos para conquistar maior longevidade, se tanta gente quer morrer de infelicidade e de impotência.
Há que ter em mente o sofrimento das pessoas e redefinir nossos objetivos. Que é curar? É um transplante de fígado ou o tratamento de uma doença, ou é conseguir que as pessoas tenham paz de espírito e vivam uma vida plena? Conheço quadriplégicos que respondem "Tudo bem" quando lhes perguntam "Como vai?", já que aprenderam a amar e a dar-se ao mundo. Não estão negando, mas transcendendo suas limitações físicas.
No centro do espectro dos pacientes está a maioria, cerca de 60 por cento. São como atores ensaiando um papel: representam para satisfazer o médico. Atuam do modo como acham que o médico apreciaria vê-los atuar, esperando então que ele faça tudo o que deve fazer e que o remédio não seja amargo. Tomam fielmente todos os comprimidos e chegam para a consulta na hora certa. Fazem aquilo que lhes mandam fazer - a não ser que lhes proponham uma alteração radical em seu estilo de vida. Nunca lhes ocorre pôr em dúvida as decisões do médico nem se rebelar em nome daquilo que julgam "correto". Pertencem ao gênero de pessoas que, se pudessem escolher, prefeririam ser operadas a se esforçar para ficar boas.
No extremo oposto estão os 15 ou 20 por cento que são especiais. Não estão representando, mas sendo sinceros. Não querem desempenhar o papel de vítimas. Quando o desempenham, os pacientes não se ajudam, já que tudo se faz por eles.
Recebi muitas cartas de grupos intitulados Ajude as Vítimas do Câncer, ou coisa parecida.
Minha primeira reação é aconselhar que mudem de nome, uma vez que vítimas, por definição, não têm o domínio necessário para redirecionar sua forma de viver. Na sociedade a que pertencemos, o doente é automaticamente considerado vítima. Já se passaram muitos anos desde que Herbert Howe, antigo doente de câncer e autor de Do Not Go Gentle (Não Esmoreça), apareceu no programa Good Morning, America, da rede ABC, contando como sua doença sumiu depois que ele abandonou o tratamento médico normal, passando a fazer exercícios como válvula para sua angústia. Ora, ainda que estivesse livre do câncer, o nome dele surgiu na tela da televisão com a chamada de "Vítima de Câncer".
Os pacientes especiais se recusam a ser vítimas, preferindo aprender a especialidade de cuidar de si mesmos. Questionam o médico porque desejam compreender o tratamento e participar dele. Exigem dignidade, personalidade e controle, seja qual for a evolução da doença.
Ser um doente especial reclama coragem. Tenho em mente uma senhora que, ao saber que precisava ir ao departamento de radiologia, respondeu: - Não vou. Ninguém me explicou para que serve esse exame.
- A senhora pode morrer esta noite, se não tirar a chapa - comentou o atendente.
- Então morro esta noite, mas não deixo meu quarto. Logo apareceu alguém que explicou para que servia a radiografia. Kathryn e Cornelius Ryan captaram a atitude do paciente especial em A Private Battle
(Uma Batalha Particular), relato da luta de Cornelius contra um câncer na próstata e morte subseqüente, em função da moléstia, em 1974. Escreveu Kathryn: "Partiu para sempre como um leão, e não como um cordeiro assustado". Foi por cansaço que ele finalmente se abandonou. O fator decisivo não foi o medo.
Esse tipo de paciente quer conhecer todos os detalhes das radiografias, todo o significado das cifras dos resultados laboratoriais. Se o médico souber aproveitar essa preocupação tão intensa do doente consigo mesmo, em vez de menosprezá-la e de se mostrar "atarefado demais", melhorará imensamente a possibilidade de recuperação.
Os médicos devem entender que os pacientes considerados difíceis e não-cooperadores são os que têm maior probabilidade de sarar. Num estudo com 35 mulheres que sofriam de câncer da mama com metástase, o psicólogo Leonard Derogatis descobriu que as sobreviventes de longo prazo tinham más relações com os médicos - segundo o critério destes. Faziam muitas perguntas e manifestavam livremente as emoções. Da mesma forma, a psicóloga Sandra Levy, do Instituto Nacional do Câncer, dos Estados Unidos, demonstrou que as pacientes graves de câncer nos seios que manifestavam depressão, ansiedade e hostilidade em alto grau sobreviviam por mais tempo. Sandra Levy e outros pesquisadores descobriram igualmente que os "maus" pacientes, os agressivos, tendiam a ter mais células T (células brancas que perseguem e destroem as do câncer) que os "bons" pacientes, os dóceis. Recentemente, uma equipe de pesquisadores de Londres noticiou uma taxa de sobrevivência de dez anos entre 75 por cento dos pacientes de câncer que reagiam ao diagnóstico com "espírito combativo", contra 2 por cento de sobrevivência por igual período entre aqueles que reagiam com "estóica aceitação" ou com sentimentos de desamparo e desespero.
Para saber se você tem probabilidades de vir a ser um paciente especial, faça a si mesmo a seguinte pergunta: "Quero viver 100 por cento?". No PCE, verificamos que a capacidade para ser um paciente especial é prevista com exatidão quando a resposta é um quero! imediato e visceral, sem condicionantes. Mas muitas pessoas dizem: "Bem, quero, desde que você garanta que terei saúde". Os especiais sabem que não existe uma garantia dessas. Aceitam de boa vontade todos os riscos e desafios. Desde que estejam vivos, sentem-se ao leme de seu destino, contentes por receber um pouco de felicidade para si mesmos e para dar aos outros. Tem aquilo que os psicólogos chamam de "localização interior de controle". Não temem o futuro nem os acontecimentos externos, sabendo que a felicidade é um problema interno.
Quando peço que se responda à pergunta erguendo o braço, o resultado é invariavelmente o mesmo: de 15 a 20 por cento. Mas há muito menos respostas positivas - apenas 5 por cento - no caso de uma platéia de médicos. Os alunos de medicina não são assim tão pessimistas. Adquirimos essa atitude. É uma tragédia que tão poucos médicos tenham a autoconfiança necessária para motivar os outros a crer no futuro e a cuidar de si mesmos. Quem trabalha na área de saúde está tão acostumado a ver apenas doenças e dificuldades que raramente adota uma visão positiva. Se visito um grupo de saúde holístico ou uma área rural, onde vivem indivíduos seguros de si, quase todos os braços se levantam. Essa gente olha para o futuro com confiança, sabendo que há amor e respeito em todas as idades.
A meu ver, todos os médicos deveriam trabalhar, como parte de sua formação profissional, com pessoas portadoras de doenças "incuráveis". Eles seriam proibidos de receitar medicamentos ou intervenções cirúrgicas; precisariam, isso sim, sair a campo e ajudar os doentes afagando-os, rezando com eles, participando, no nível emocional, de suas dores. Também seria conveniente organizar reuniões anuais de sobreviventes de moléstias graves, para que os médicos pudessem falar com os reabilitados, as pessoas para cuja saúde eles contribuíram.
As exigências feitas pelos pacientes especiais e pelos comuns diferem entre si como diferiam os métodos empregados pelos médicos de escravos e de homens livres na antiga Grécia, conforme Platão os descreve no "Livro IV", das Leis:
Já observaste que há duas classes de pacientes [...], os escravos e os homens livres? E os médicos-escravos correm de um lado para outro e curam os escravos, quando não os atendem nos dispensários. Estes clínicos nunca falam com os clientes pessoalmente nem permitem que eles exponham suas próprias queixas. O médico-escravo receita o que a mera experiência indica, como se tivesse conhecimento exato e, depois que dá suas ordens, como um tirano, sai correndo com a mesma petulância para ver outro servo doente. [...] No entanto, o outro médico, que é um homem livre, atende e trata homens livres; faz uma anamnese recuada e entra a fundo na natureza da desordem; trava conversa com o paciente e com seus amigos e, ao mesmo tempo que obtém informações dele, vai lhe dando instruções na medida do possível. Mas não lhe receitará nada até que o tenha convencido. [...] Se um desses médicos empíricos, que praticam a medicina sem ciência, encontrasse o médico distinto falando com seu cliente distinto e utilizando quase a linguagem da filosofia, começando pelo início da doença e discorrendo sobre toda a natureza do organismo, desataria numa sonora gargalhada. Diria aquilo que a maioria dos chamados médicos sempre tem na ponta da língua: "Meu néscio camarada, tu não estás tratando de curar o doente, mas sim de educá-lo; ora, ele não quer que o transforme em médico, só quer ficar bem".
Na verdade, os pacientes especiais querem aprender e virar "médicos" de seus próprios casos, exigindo sobretudo que nos tornemos seus professores.
À medida que eu me transformava, passei a ouvir coisas que nunca me haviam dito. Por exemplo, como se comportam os médicos no consultório. Gritam e obrigam os clientes a esperar duas horas para serem atendidos, mas não lhes permitem cinco minutos de diálogo.
Segundo me contou uma senhora, quando ela quis saber a razão do tratamento prescrito, seu antigo médico exclamou-. "Nesta cozinha só cabe um cozinheiro!". Um colega ralhou comigo por eu ter dado livros a um seu paciente:
- Se você quer que eu continue a lhe mandar doentes, tem de me consultar de antemão sobre tudo.

Repliquei que não sabia que a mente e o corpo do bibliotecário canceroso lhe pertenciam. Outro paciente contou que, ao entrar num consultório, viu sobre a mesa um dístico que rezava: "Entrar em acordo significa fazer as coisas do meu jeito". Meu conselho a quem veja um letreiro assim é virar as costas e ir embora.
A princípio, eu ficava furioso com certos colegas, sentimento intensificado pela raiva que os membros do grupo PCE abrigavam no íntimo, à qual podiam agora dar livre expansão. Depois, ao verificar quanta dor muitos médicos suportam em silêncio, dominei esse estado de espírito. Aliás, os problemas dos clínicos podem reverter em benefício do paciente. O poeta alemão Reiner Maria Rilke escreveu, a respeito de seus esforços para incentivar um jovem poeta:
Não acredite que aquele que procura confortá-lo viva sem problemas entre as singelas e tranqüilas palavras que às vezes lhe fazem bem. Sua vida tem muitas dificuldades e tristezas, que permanecem ocultas. Se fosse diferente, jamais conseguiria encontrar essas palavras.
Fiquei surpreso com os resultados depois que comecei a ensinar meus pacientes do primeiro grupo de especiais. Pessoas cujas condições se achavam estabilizadas ou vinham se deteriorando muito lentamente ganharam saúde, de súbito, ante meus olhos. No começo, inquietei-me com isso, pensando que estavam melhorando por razões ilegítimas. A melhora não se correlacionava com medicamentos, radiação ou qualquer outro tratamento de rotina. Sentia-me um charlatão, um trapaceiro, e cheguei a sugerir a dispersão do grupo.
Nessa altura, foi a vez de os pacientes me explicarem o que estava acontecendo. - Estamos melhorando - comentou um deles - porque você nos deu esperança e nos entregou o controle de nossas vidas. Você não compreende porque é médico. Sente-se e faça o papel de doente.
Foi o que eu fiz, passando a tê-los como meus professores. A partir daí, adotamos por divisa uma frase do livro dos Simonton: "Em face da incerteza, não há nada de errado na esperança". Alguns colegas aconselharam os pacientes a ficar longe de mim, para não acalentarem "falsas esperanças". Respondi que, ao lidar com a doença, uma coisa dessas não existe na cabeça do paciente. A esperança não é estatística, é fisiológica! Os conceitos de falsa esperança e de interesse distante precisam ser eliminados do vocabulário da medicina, pois são destrutivos para o médico e para o paciente.
Quando trabalho com estudantes de medicina ou com outros médicos, peço uma definição de falsa esperança. Sempre se mostram reticentes e não conseguem apresentá-la. Explico então que, para a maioria dos colegas, "dar falsas esperanças" significa apenas contar ao paciente que ele não está obrigado a se comportar como uma estatística. Se nove entre dez pessoas com determinada doença morrerão presumivelmente dela, parte-se do princípio de que estamos alimentando "falsas esperanças" se não dissermos a todos os dez que provavelmente vão morrer. Eu, pelo contrário, digo que cada pessoa pode ser a sobrevivente, pois todas as esperanças são verdadeiras no espírito do doente.
Shlomo Breznitz, psicólogo da Universidade Hebraica de Jerusalém, demonstrou recentemente que a expectativa positiva e a negativa têm efeitos contrários nos níveis de dois hormônios importantes para a ativação do sistema imunológico, no sangue. Breznitz acompanhou uma extenuante marcha forçada de vários grupos de soldados israelenses durante 40 quilômetros. A alguns, disse que marchariam 60 quilômetros, mas deu voz de alto aos 40 quilômetros; a outros, informou que marchariam 30 quilômetros, mas, chegando lá, avisou que a marcha continuaria por mais 10 quilômetros. A alguns, foi permitido ver marcos quilométricos; a outros, não se deu a menor noção de quanto haviam andado ou qual a distância total a percorrer. O psicólogo verificou que os grupos dotados de mais informações suportaram melhor a marcha, mas os níveis hormonais de tensão refletiam invariavelmente as estimativas dos soldados, e não a verdadeira distância.
Mesmo que aquilo por que você mais espera - a cura completa - não se concretize, a própria esperança pode impulsioná-lo à realização de muitas coisas, nesse intervalo. Recusar a esperança equivale à decisão de morrer. Sei da existência de pessoas que estão vivas porque lhes incuti esperança, porque lhes disse que não morreriam breve e forçosamente.
Graças ao que aprendi com os doentes especiais, fui mudando radicalmente minha prática da medicina. Cheguei enfim à sincera conclusão de que deveria prosseguir na carreira cirúrgica, para manter contato direto e duradouro com os pacientes, ampliando contudo minha atuação de mero mecânico com algumas das funções do pregador, do professor e do curandeiro. Aceitei os pacientes como indivíduos com alternativas e opções. Assim, constituímos uma equipe.
Um ano antes da criação dos grupos de PCE, raspei a cabeça com máquina zero. Muitos associados pensaram que se tratava de uma mensagem de empatia com os doentes que perdem o cabelo devido à quimioterapia, mas não havia qualquer relação. Compreendi mais tarde que era um símbolo da descoberta que estava procurando levar a termo, desnudando o que havia em mim de emoções, espiritualidade e amor. Com efeito, certa enfermeira lembrou-me que raspar a cabeça é a preparação normal de qualquer operação no cérebro.
Houve muitas reações reveladoras. As pessoas começaram a falar comigo de maneira diferente, como se eu sofresse de alguma incapacidade, partilhando de boa vontade sua dor. Alguns colegas censuraram-me por ser diferente - uma razão a mais para manter a nova aparência.
Os motivos que me levaram a raspar a cabeça ficaram mais claros durante um curso intensivo com Elisabeth Kúbler-Ross. Uma de suas técnicas consiste em levar os participantes a fazer desenhos que ilustrem aspectos de sua vida. Desenhei uma montanha nevada, traçada com crayon branco em papel branco. Em baixo, via-se um pequeno lago com um peixe fora da água. A moral era que alguma coisa estava sendo encoberta (branco sobre branco) e que o símbolo (o peixe) estava fora do lugar. Entendi que aquilo que eu pretendia descobrir era o amor e a espiritualidade em mim e não meu couro cabeludo. Nessa noite, tive um sonho maravilhoso, em que eu figurava com uma vasta cabeleira. Depois do curso intensivo, contei à família que sabia por que tinha raspado a cabeça e, por isso, já podia deixar que o cabelo crescesse de novo, mas minha filha Caroline foi contra:
- Não! Assim é mais fácil para encontrá-lo no cinema. Minha cabeça continua calva, mas Caroline às vezes senta-se por acaso ao lado de outros carecas.
Dato nessa época o início de minha verdadeira carreira médica, pois só então descobri o pleno significado do trabalho. Seu objetivo reside em ensinar os pacientes a viver - não do alto de um pedestal, mas sim com o conhecimento de que ensinamos aquilo que desejamos aprender. Os médicos tanto devem instruir os pacientes como aprender com eles. A dedicação ao ensino foi minha salvação, já que me considero o maior beneficiário dos PCE.
Nas palavras de Bobbie, virei um "ouvinte privilegiado", escutando toda a sorte de coisas que, para os pacientes, eram demasiadamente emocionais ou estranhas para se contar a outros médicos. Contavam-me seus sonhos, premonições e autodiagnósticos, os tratamentos heterodoxos que gostaram de ver acrescentados, as chamadas coincidências que davam sentido a casos aparentemente insignificantes, os sentimentos de amor, de medo e de raiva, os momentos em que desejavam morrer.
Há poucos anos, uma senhora chamada Mary veio falar comigo depois de consultar um de meus cirurgiões associados. - O senhor é aquele que faz visualização e coisas assim?
Confirmei, e ela continuou: - Muito bem. Quero lhe contar uma coisa. Alguém anda sempre comigo. Usa uma bata branca, com faixa roxa, tem maus dentes e está sempre em meu quarto. - Bem, qual é o nome dele? - perguntei. - O que ele tem para dizer?
- Não tenho coragem de falar com ele - confessou Mary. Ela tinha medo de revelar à família e a seu próprio médico o segredo daquele companheiro, com receio de que a julgassem louca. Mas, uma vez que, aos olhos dela, eu também era um tanto esquisito, sentiu confiança para me contar. Uma abertura dessas constitui enorme vantagem para os médicos. Como poderemos ajudar pessoas que não conseguem revelar-nos tudo o que as perturba? Que alívio sentiu aquela senhora ao saber que seu companheiro de quarto bem poderia ser uma versão de meu próprio guia, George!
Uma das razões que levam outros médicos a desconfiar de meus métodos é que não se tornaram ouvintes privilegiados. Chegam a examinar meu trabalho perguntando a um paciente o que ocorre na vida dele. Recebem como resposta um nada. Então, perguntam como ele está se sentindo, ao que o paciente retruca:
- Estou ótimo. E só conseguem ficar admirados. Já que tantos doentes me desvendaram seus pensamentos íntimos, estou em condições de dizer a outros que sei o que se passa de errado na vida deles. Consigo muitas vezes indicar exatamente quais os problemas emocionais do paciente, a partir dos sintomas e da localização da doença. Aí eles derramam seus verdadeiros sentimentos. Depois de uma cirurgia de emergência para lhe remover uma boa extensão de tecido intestinal morto, ouvi o seguinte de uma terapeuta da escola de Jung:
- Estou contente por ser você o cirurgião. Venho lecionando psicanálise. Não conseguia lidar com toda a merda que me aparecia nem digerir toda a porcaria de minha vida.
A outro médico talvez não ocorresse a conexão com os sentimentos dela, mas não era coincidência que os intestinos constituíssem o ponto focal de sua doença. Outra mulher, após uma mastectomia, disse-me que precisava tirar alguma coisa do peito.
Fiquei muitíssimo animado com as primeiras experiências com os PCE. Eu estava aprendendo coisas inteiramente novas, que haveriam de revolucionar a prática da medicina da noite para o dia. Escrevi alguns artigos sobre essas descobertas, mas as revistas médicas não os aceitaram. Segundo os editores, o tema seria mais interessante para revistas de psicologia. Os psicólogos, no entanto, não necessitavam dessas informações, pois já aceitavam o papel da mente nos estados patológicos. Mais ou menos por essa época, li um artigo de Wallace C. Ellerbroek, antigo cirurgião e, agora, psiquiatra. O tema original tinha sido o papel da mente no câncer, mas Ellerbroek passou sete anos sem conseguir publicá-lo. Deslocou o foco para a acne e o ensaio saiu numa revista de primeira ordem.
cumpre muitas vezes falar ao coraçãoe escutar. As crenças pertencem ao domínio da fé, e
Em seguida, tentei apresentar minhas experiências em congressos médicos. A reação foi ceticismo, narizes torcidos e até desprezo escancarado. Cada debate virou uma batalha de dados da memória, um jogo de "minhas estatísticas contra as suas". Quase ninguém se dispunha a admitir que talvez houvesse alguma dose de verdade no que eu dizia e a fazer a experiência. Conseqüentemente, embora haja, nos dias atuais, abundantes dados científicos que falam a favor da psicoterapia no tratamento do câncer e de outras doenças, convenci-me de que as estatísticas raramente alteram a fundo as opiniões adquiridas, pois é possível manipular os números para que as tendências pareçam lógicas. Em vez de insistir em estatísticas, preferi concentrar-me nas experiências individuais. Para mudar de opinião, não da lógica.
Agora já começo a receber apoio e as idéias também começam a mudar. O caso vem sendo estudado em Yale e em outras escolas superiores. A medida que vai se modificando a política da medicina, há mudanças no financiamento da pesquisa e novas questões recebem atenção.
A Participação na Cura
A medicina não é apenas uma ciência, mas também a arte de deixar nossa individualidade interagir com a individualidade do paciente.
Um homem chamado Wright, cliente, em 1957, do dr. Bruno Klopfer, tinha um linfossarcoma bem avançado. Todos os tratamentos conhecidos haviam se demonstrado ineficazes. Tumores do tamanho de laranjas brotavam-lhe no pescoço, nas axilas, nas virilhas, no peito e no abdome. O baço e o fígado mostravam-se enormemente ampliados. O ducto linfático do tórax estava tumefacto e entupido, sendo indispensável drenar-lhe do peito 1 ou 2 litros de líquido turvo, todos os dias. Estava com respiração assistida e o único remédio, então, era um sedativo para ajudá-lo a partir.
Apesar disso, Wright ainda alimentava esperanças. Ouvira falar de um medicamento novo, o Krebiozen, que seria examinado na clínica onde se encontrava. Seu caso não apresentava condições para entrar nesse programa, visto que as pessoas que conduziam a experiência planejavam submetê-la a doentes com uma expectativa de vida de três meses, no mínimo, e, de preferência, seis meses. Wright tanto implorou, porém, que o dr. Klopfer resolveu aplicar-lhe uma injeção, numa sexta-feira, pensando que ele estaria morto na segunda, poupando o remédio para outros doentes. Foi uma surpresa para ele:
Tinha-o deixado febril, arquejante, com falta de ar, completamente desgastado. E, agora, lá estava ele, andando em volta da enfermaria, batendo papo com as enfermeiras, transmitindo uma mensagem de ânimo a quem quisesse ouvi-lo. Corri logo a ver os outros. [...] Nenhuma mudança, nem sequer para pior. Somente Wright dava mostras de extraordinária melhora. As massas tumorais tinham se dissolvido como bolas de neve ao fogo e, em questão de dias, estavam reduzidas à metade do tamanho original. Tratava-se de uma regressão muito mais rápida do que a observável com a aplicação diária de raios X em doses maciças. Aliás, já sabíamos que seus tumores eram insensíveis à radiação [...].
O fenômeno exigia explicação e reclamava que abríssemos a mente para aprender, mais do que para tentar explicar. Por isso, foram aplicadas três injeções por semana, conforme o previsto, para grande alegria do paciente. [...] Passados dez dias, ele estava em condições de sair de seu "leito de morte". Nesse curto espaço de tempo, desapareceram praticamente todos os sintomas da doença. Por incrível que pareça, o doente "terminal", que arquejava a última respiração por meio de uma máscara de oxigênio, não só respirava normalmente como estava ativo, a ponto de embarcar em seu próprio avião e voar a mais de 3.500 metros de altura sem o menor desconforto.
Decorridos dois meses, começaram a surgir notícias contraditórias na imprensa, pois nenhuma clínica que estava fazendo exames acusava resultados. [...] Wright ficou muito perturbado com isso. [...] Ele pensava de maneira lógica e científica e começou a perder a fé em sua última esperança. [...] Após dois meses de saúde praticamente perfeita, regrediu ao estado inicial, ficando muito deprimido e infeliz.
No entanto, Klopfer viu aí uma oportunidade de indagar o que de fato se passava - ou, como ele dizia, de descobrir como é que os curandeiros obtêm certas curas perfeitamente documentadas. (Lembre-se de que toda cura é científica.) Falando com Wright, disse-lhe que o Krebiozen estava realmente à altura das expectativas, mas que as primeiras remessas tinham entrado em rápido processo de deterioração na embalagem. E falou a respeito de um novo produto, super-refinado, de capacidade dupla, que deveria chegar no dia seguinte.
A notícia constituiu uma grande revelação para ele. Mesmo doente como estava,
Wright voltou a se mostrar o otimista de sempre, ansioso por recomeçar. A remessa demorou alguns dias, e a antecipação da salvação causou-lhe uma tremenda ansiedade. Avisado de que logo teria início a nova série de injeções, ele ficou em êxtase, com uma fé imensa.
Com muita encenação, representando bem [...], apliquei a primeira injeção do novo preparado, de potência dupla - na verdade, água pura. Os resultados da experiência foram inacreditáveis para nós, naquela época, embora devêssemos ter antecipado um pouco as possíveis e remotas conseqüências, já que fizemos a tentativa.
A recuperação do segundo estado quase terminal foi ainda mais espetacular que a do primeiro. As massas tumorais dissolveram-se, o fluido torácico desapareceu e o doente passou a andar a pé e até voltou a voar. Era, nesse momento, a imagem da saúde. As injeções de água prosseguiam, já que realizavam maravilhas. Wright, pelo espaço de dois meses, não apresentou nenhum sintoma da doença. Foi então que a imprensa divulgou o pronunciamento da Associação Médica Americana: "Testes em escala nacional demonstram que o Krebiozen é inútil no tratamento do câncer".
Dias após este noticiário, Wright foi de novo internado no hospital, in extremis: perdera a fé, sua última esperança se desvanecera - e ele sucumbiu em menos de dois dias.
Uma das melhores maneiras de fazer com que alguma coisa aconteça está em predizê-la.
Ridicularizado durante uns vinte anos pela instituição médica, o efeito placebo - pelo qual entre um quarto e um terço dos pacientes apresentam melhoras por acreditarem que estão tomando um medicamento eficaz, ainda que o comprimido não contenha nenhuma substância ativa - hoje é plenamente reconhecido.
O dr. Howard Brody, do Estado de Michigan, afirma que se verifica uma reação positiva ao placebo na presença de três fatores: o significado da doença se altera de maneira positiva para o paciente; ele é apoiado por um grupo de proteção; e aumenta nele o sentido do domínio e do controle sobre a doença. Quase toda a "medicina primitiva" lança mão do fator placebo, via rituais que estimulam a confiança na força curativa, seja ela representá-la por um deus externo ou por uma energia interna. A fé na cura se assenta na crença do doente num poder superior e na capacidade do curandeiro para servir de intermediário. Por vezes, basta como condutor de transmissão um mero artefato ou a relíquia de um santo. Para um católico, uma garrafa com a etiqueta de água benta de Lourdes tem propriedades curativas, ainda que ela só contenha água da torneira. Assim, os adeptos da Ciência Cristã conseguem, às vezes, sarar de uma doença, pois são doutrinados para procurar a paz de espírito e confiar numa força superior. Por isso é tão importante que o médico tenha boa reputação de "mecânico" e capacidade de transmitir confiança. A esperança e o crédito induzem a um "relaxamento" que neutraliza a tensão e, muitas vezes, oferece a chave do restabelecimento.
Infelizmente, a paz, em regra, só vem quando a morte está próxima. É então que o doente pode afrouxar. Já vi muitos às portas da morte e ainda preocupados com a conta de luz e com a hora em que os filhos voltam para casa. Se lhes sugiro esquecer isso tudo e viver um dia agradável ("Pode ser seu último dia sobre a terra"), na manhã seguinte estão melhor e comendo um lauto café da manhã. Pergunto o que houve e me respondem: "Segui seu conselho".
A "medicina primitiva", na realidade, é muito mais elaborada que a nossa, quanto ao uso da mente - talvez porque disponha de menos substâncias que sejam eficazes sem a contribuição do efeito placebo. Robert Müller, secretário-geral adjunto da Organização das Nações Unidas e autor de Most of All They Taught Me Happiness (Acima de Tudo, Eles Me Ensinaram Felicidade), escreveu a respeito de um delegado africano a quem um médico de Nova York disse que estava com câncer e não teria mais de um ano de vida. O delegado disse a Müller e a outros amigos que ia voltar à pátria para morrer, mas que pediria à família que os avisasse do funeral, a fim de que eles estivessem presentes. Dezoito meses se passaram. Sem notícias, Müller, supondo que o amigo estivesse morto, telefonou para seu lugarejo natal, em busca de informações. Teve a agradável surpresa de escutar a voz do próprio delegado - que, aliás, soava bem saudável.
Ele contou que, tão logo chegara, recebera a visita do curandeiro local. Ao vê-lo, o homem comentou que o achava muito deprimido. Sabendo do motivo, convidou-o a visitar sua choça, no dia seguinte.
O tratamento do curandeiro começou com um simples gesto simbólico. Tirou uma tigela de líquido de um enorme caldeirão e disse:
- Esta tigela representa a parte do cérebro que você está utilizando. O caldeirão é o resto.
Vou ensiná-lo a utilizar o resto.
O delegado africano está vivo e bem de saúde. Não estou querendo dizer que se abandone a medicina tecnológica do Ocidente e se volte à escola rudimentar, mas sugiro que sejamos receptivos à capacidade de cura que existe dentro de nós. Os psicólogos não se cansam de nos lembrar que, na prática, só empregamos 10 por cento de nossa capacidade mental. Tratemos então, conforme a lição do curandeiro, de utilizar os outros 90 por cento. A ciência ensina que precisamos ver para crer, mas também temos de crer para ver. Devemos ser receptivos às possibilidades que a ciência ainda não abarcou. Caso contrário, elas estarão perdidas. É absurdo não empregar tratamentos eficazes, só porque não os compreendemos.
A abertura de espírito tem de ser a característica de todos os médicos interessados em ajudar os pacientes. O dr. William S. Sadler, adepto da medicina de base farmacológica, examinou por vários anos as "curas mentais", como se dizia na virada do século. Eis aqui o que ele dizia na introdução a uma série de artigos publicados pelo Ladies' Home Joumal de agosto de 1911:

Eu costumava fazer preleções populares para demonstrar a loucura dessas "curas", mas observei que nunca fiz uma conversão entre os adeptos do psiquismo. Enquanto isso, alguns sistemas psicológicos conseguiam curar pacientes que eu não tinha curado e jamais curaria.
Sadler abriu o espírito, pesquisou a fundo a matéria e convenceu-se de que o poder da sugestão, embora não fosse uma panacéia, constituía valioso aliado da farmácia, da cirurgia e da higiene.
O efeito placebo depende da confiança do paciente no médico. Estou convencido de que essa relação, a longo prazo, é mais importante que qualquer remédio ou tratamento. O psiquiatra Jerome Frank, da Universidade Johns Hopkins, encontrou provas para essa tese ao estudar 98 pacientes operados de descolamento da retina. Depois de avaliar a independência, o otimismo e a fé de cada doente em seu respectivo médico, verificou que os mais confiantes se curavam mais depressa que os outros.
Para despertar uma relação de confiança, tanto o médico como o doente devem ter conhecimento de suas crenças recíprocas. A fé do médico em determinado tratamento pode ser negada pela muda rejeição do paciente. Eu estudo os desenhos e os sonhos de meus doentes para conhecer seus sentimentos inconscientes acerca da terapêutica. Caso contrário, pode ser que eu adote um esquema a meu ver excelente e venha a encontrar uma série de efeitos colaterais que me obriguem a interrompê-lo: O paciente talvez não desejasse esse tratamento desde o início, mas não teve coragem para me revelar seu pensamento, ou então o rejeitasse a nível do inconsciente. No entanto, se eu vir um desenho onde o paciente mostre encarar o tratamento como algo venenoso ou prejudicial, podemos começar a partir daí, procurando mudar sua atitude ou optando por outra terapêutica. O desenho positivo também contribuiu para atenuar receios e abrir caminho para o tratamento.
Há uma interação entre os sistemas de crenças de médicos e de pacientes, mas o organismo destes reage diretamente a suas crenças e não às do médico. Os profissionais da medicina tendem a ser mais lógicos, estatísticos e rígidos, além de menos inclinados à esperança, do que os doentes. Mas eles deveriam compreender que a falta de fé na possibilidade de cura é um grave fator limitante para o doente. Nunca devemos dizer que esgotamos todos os recursos, pois sempre resta alguma coisa para pôr em prática, mesmo que seja apenas sentar e bater papo, ajudando o doente a ter fé no poder da esperança e da oração.
A atitude normal dos médicos está perfeitamente sintetizada no caso de Stephanie, que fazia parte de um de nossos grupos de PCE. Diagnosticado o câncer, o médico delineou o curto resto de sua vida de acordo com as estatísticas. Ela perguntou o que lhe cabia fazer. - Tudo o que lhe resta é esperar e rezar - respondeu o médico.
- Como hei de esperar e rezar?
- Não sei. Não sou desse ramo. A experiência dos PCE ensinou Stephanie a esperar e a rezar, alterando o curso da doença, que excedeu as expectativas. Agora, seu médico está tomando nota do caso invulgar. Depois, Stephanie escreveria que ele "estava na realidade receitando o único remédio capaz de me curar, sem que soubesse".
O efeito contrario pode ser mortal. Uma senhora na casa dos 80 anos, chamada Frances, veio me consultar depois de ter perdido a fé em seu médico, que tinha uma atitude negativa. Desanimada com muitas e repetidas doenças, foi atrás dele para ter alguma certeza.
- Bem, em todo o caso, quanto tempo a senhora quer viver? - perguntou ele. Frances teve o bom senso de compreender o que estava implícito na questão e foi embora. Entretanto, lembro-me também de um homem que não teve tanta sorte. Ellen, integrante de um grupo de PCE, ligou para o marido, Ray, hospitalizado com câncer, para saber como ele se sentia.
- Ah, acho que desta vez você não sai
- Ótimo - garantiu ele. Quinze minutos depois, Ray estava morto. Em todo o processo, ele fora internado várias vezes e, depois do telefonema da mulher, perguntou ao médico em que data teria alta. Réplica deste: Normalmente, o prognóstico dos médicos quanto à sobrevida dos pacientes constitui um erro terrível, porque se trata de uma profecia de auto-realização. É obrigatório resistir à tentação de fazê-la, mesmo que os doentes fiquem insistindo em quanto tempo lhes resta de vida, preferindo que outrem defina os limites de sua existência. Há quem goste tanto de seu médico a ponto de morrer na data prevista, como se fosse para provar que ele tinha razão.
Os médicos não devem permitir que as estatísticas determinem suas crenças. Elas são importantes quando se escolhe a melhor terapêutica para determinada doença, mas, uma vez feita a escolha, deixam de se aplicar ao individuo. Todos os doentes têm o direito à convicção de que podem ficar bons, sejam quais forem os percalços.
Os pacientes especiais têm o dom de anular as estatísticas, garantindo que vão sobreviver, mesmo se o médico for incompetente para isso. Basta pensar na coragem necessária para superar certa espécie de câncer que ninguém conseguira vencer anteriormente. A esperança incutiu essa coragem em William Calderon, paciente do primeiro caso de recuperação documentada de Aids. O dr. Jean Shinoda Bolen publicou um estudo detalhado do caso na edição de março/abril da revista New Realities. O diagnóstico de Calderon foi realizado em dezembro de 1982, quando os médicos lhe deram seis meses de vida. Quase de imediato, o sarcoma de Karposi (o tipo de câncer que em geral acompanha a Aids) instalou-se e disseminou-se rapidamente por toda a pele e pelo trato gastrointestinal.
Pouco depois, chegava ao salão de cabeleireiro de Calderon, na hora previamente marcada, Judith Skutch, fundadora, juntamente com o astronauta Edgar Mitchell, do Instituto de Ciências Noéticas e atual presidente da Fundação para a Paz Interior. Reparando que ele tinha chorado, quis saber o motivo. Calderon falou-lhe de seu desespero e sua depressão. As palavras que Judith proferiu a seguir representaram a chave da salvação de sua vida:
- William, você não é obrigado a morrer. Você pode ficar bom. Em seguida, descreveu o trabalho dos Simonton com pacientes de câncer. Graças ao carinho e ao apoio de seu amante e de Judith, Calderon acabou acreditando na possibilidade de sobreviver. Continuou a trabalhar naquilo que mais apreciava, sem se entregar à doença. Passou, ao contrário, a meditar e a empregar imagens mentais para combatê-la. Fez força para reatar as relações com a família, até então estremecidas, ao mesmo tempo que readquiria a paz de espírito perdoando as pessoas que o tinham ofendido. Alimentou o organismo com amor, exercícios, boa nutrição, suplementos vitamínicos. E, a partir daí, seu sistema imunológico passou a reagir. Os tumores regrediram. Dois anos após o diagnóstico, Calderon não apresentava nenhum sintoma de Aids.
É comum ver o paciente especial furioso com as previsões fatais do médico. Linda, uma enfermeira minha amiga, não quis fazer quimioterapia e ouviu do médico a seguinte "praga":
- Vai se arrepender. Daqui a uns seis meses, voltará correndo. Mas ela nunca deixou de pensar: Que filho da mãe! Não vou morrer, só para provar que ele estava errado.
E sobreviveu por mais de cinco anos sem o tratamento receitado por ele, para depois resolver segui-lo na intenção de viver mais tempo.
Tenho cópia de uma carta de certa jovem, chamada Louise, a um "doutor roqueiro", médico que mantinha um programa de rádio em que misturava música e conselhos terapêuticos. Louise travara estreita amizade com ele, quando hospitalizada. Com menos de 20 anos, ela desenvolvera câncer nos ovários, com metástases nos pulmões e no abdome. O oncologista "deu-lhe" de seis a doze meses de vida, com quimioterapia. Louise respondeu que só Deus sabia quando o dia chegaria e decidiu tomar a vida nas próprias mãos. Deixou a casa dos pais devido à tensão nela existente, alugou um apartamento e gastou seus últimos 10 dólares na publicação de um anúncio dirigido a outros cancerosos que precisassem de ajuda. A certa altura, o oncologista recusou-lhe qualquer medida terapêutica, já que o caso estava "muito adiantado". Mas, seis meses depois de ela ter resolvido seguir seu próprio caminho, todos os tumores haviam sumido. O médico nem sequer teve forças para lhe dizer isso, preferindo escrever num papel de receita, com lágrimas nos olhos:
"Seu câncer desapareceu". No dia em que supostamente deveria estar morta, Louise remeteu-lhe um bilhete brincalhão, perguntando: "Para onde mando o caixão?".
O "doutor roqueiro" escreveu-me contando que, se não me tivesse ouvido falar em doentes especiais, talvez não tivesse estabelecido uma conexão entre a "miraculosa" recuperação de Louise e seu desenvolvimento espiritual. Agora, tudo fazia sentido, e ambos passaram a freqüentar as reuniões de PCE para compartilhar a experiência.
Louise preferiu o amor e a doação de si mesma, seguindo as opções espirituais e psíquicas de quem passa pela cura auto-induzida. É preciso ter uma força extraordinária para agir assim, quando a voz da autoridade nos diz que vamos morrer. O problema é que os pacientes especiais são minoria. Se, entre dez pacientes, oito morrerão, é fácil ignorar os dois que potencialmente sobreviverão.
Cuido de divulgar esses casos para aumentar o número de médicos que procuram as pessoas especiais entre seus doentes. Verão, assim, que a cura não é obra de coincidência. Quando é definida desse modo, como na frase "remissão espontânea", a cura nada ensina aos médicos e não estimula nenhuma pesquisa sobre sua origem. A cura é um ato criador, que exige todo o esforço e toda a dedicação que as outras formas de criatividade reclamam.
Recebo muitas cartas de colegas sobre pacientes a quem faço referência. Quando um médico relata melhorias extraordinárias num doente, quase nunca faz alusão às crenças e ao estilo de vida da pessoa - mas, se faço a indagação, verifico que o paciente sempre operou drástica mudança para um ponto de vista mais afetuoso e aceitável. Só que ele raras vezes conta isso a um médico que não seja receptivo.
É tão comum a cura inesperada que os médicos devem alimentar esperanças em todos os casos, mesmo nas horas aparentemente finais. Quem está doente não espera os resultados de uma pesquisa médica, mas sim um relacionamento voltado para o êxito. Fica esperando que alguém lhe diga: "Fique firme, tudo vai dar certo. Nós vamos ajudá-lo, desde que tenha vontade de viver".
Não nos cabe avaliar quanto vale a continuação da vida para outra pessoa, mas, uma vez que meus pacientes estejam vivendo de forma digna para eles, estou pronto a ajudá-los a prosseguir.
Porém, se alguém decide que é tempo de morrer, não vejo a menor contradição em ajudálo também nessa resolução. Posso contribuir para a solução de conflitos que despendem energia, sabendo que depois terá início a cura. Muito embora dizer às pessoas que elas vão morrer em tal dia seja destrutivo e não faça sentido na prática médica, a aceitação da morte não desvanece obrigatoriamente a esperança. A preparação para a morte pode ter a capacidade de promover a causa da vida.
Uma doente de câncer estava com aspecto horrível, numa sexta-feira. Falando comigo, disse que queria morrer.
- Conte a seus filhos e a seus pais como se sente - sugeri. - A partir daí, tudo bem. Eles não têm noção do estado em que você se acha.
Ao voltar ao hospital, na segunda-feira, ela estava com ótimo aspecto: de peruca, tailleur, maquilagem. Perguntei o que acontecera.
- Contei a meus pais e a meus filhos como estava me sentindo e, aí, fiquei tão bem que não quis morrer.
Recebeu alta. Embora o otimismo seja indispensável, não se deve esconder nenhuma parte do diagnóstico. Sempre é possível revelar a verdade junto com a esperança, já que ninguém domina o futuro. Agora, aceito a doença e, para mim, a tarefa primordial consiste em ajudar os pacientes a alcançar a paz de espírito - o que relativiza os problemas físicos. Ficar bom não é o único objetivo. Muito mais importante é aprender a viver sem medo, estar em paz com a vida e, em última análise, com a morte. Nesta hipótese, a cura pode ocorrer e já não somos candidatos ao fracasso (por acreditar que somos capazes de curar todos os problemas físicos e de não deixar ninguém morrer).
Há coisa de vinte anos, era comum a "impostura por bondade", mas hoje as atitudes mudaram por completo. Pesquisa realizada em 1979 pelo dr. Dennis Novack e seus colaboradores, publicada pelo Joumal of the Arnerican Medical Association, concluiu que 97 por cento dos médicos preferiam revelar aos pacientes o diagnóstico, em comparação com 90 por cento que afirmavam que não o revelariam, em sondagem feita vinte anos antes.
Os clínicos descobriram que os doentes acabam normalmente sabendo da verdade.
Inconsciente e mesmo conscientemente, têm ciência do que se passa em seu organismo. Bili, um colega que eu atendia, certa noite sentiu dificuldade para engolir. Confessou saber que estava com câncer, porque seu pai tivera câncer no esôfago e no estômago com a mesma idade. Bastou um sintoma para que ele soubesse. Evidentemente, todos procuramos dissuadilo, mas as análises laboratoriais provaram que ele tinha razão.
As mentiras e as evasivas dividem as famílias precisamente quando elas mais necessitam de unidade para enfrentar a crise. É comum ouvir recomendações do gênero: "Não conte à mamãe, ela não agüenta". Se pergunto à mamãe qual sua opinião a respeito da moléstia, ela diz: "Acho que é câncer". Proferida a palavra, estamos em condições de falar sobre o que a doença representa para a família - um desafio ou uma sentença de morte. A dissimulação faz perder a confiança. Se o médico hesita e não consegue pronunciar a palavra "câncer", ou inventa outra coisa, logo a consciência do doente traduz: O médico não sabe o que fazer. Não tenho esperanças.
São demais os médicos que, hoje em dia, passaram da impostura bondosa para uma franqueza brutal, que faz mais mal do que bem. Há pouco tempo, recebi da esposa de um paciente uma carta de cortar o coração, explicando que o marido não iria à segunda consulta comigo porque se suicidara.
Tudo se passou dois dias após lhe revelarem - com a mais fria brutalidade - que ele nunca mais jogaria tênis, pilotaria um barco ou voltaria a trabalhar, coisas que gostava muito de fazer, principalmente as duas primeiras.
Sempre depositou uma fé inocente nos médicos, não porque viessem a curá-lo, mas no sentido de que estavam fazendo o melhor possível. Mas não era verdade, sobretudo no caso do oncologista.
O aconselhável é admitir que a situação é grave, mas lembrando realmente que não há doenças "incuráveis" das quais ninguém tenha se recuperado, mesmo às portas da morte.
Quando o médico consegue incutir um pouco de esperança, o processo de cura começa às vezes antes do início do tratamento. Tenho presente certa senhora a quem o radiologista disse que a medicação estava surtindo efeito, pois as radiografias dos ossos mostravam grandes melhoras. Observou ela:
- Se o senhor reparar em minha ficha, vai ver que ainda nem comecei a quimioterapia.
Deve ser coisa desse médico careca.
A dra. Alexandra Levine, oncologista da Califórnia, recebeu uma bolsa para o estudo dos aspectos psicossociais do câncer, que ela solicitou devido a uma experiência similar: um dia, foi consultá-la um homem com extenso linfoma, pois a esposa queria que ele a visse antes de viajar para a Alemanha, onde experimentaria um tratamento "rnilagroso". Ao ver o pânico nos olhos do doente, a dra. Levine passou uma hora só para acalmá-lo e tranqüilizá-lo. Quando o paciente voltou, na semana seguinte, os tumores estavam reduzidos quase à metade. - Gostaria de ter começado o tratamento na semana passada - comentou a médica.
- A senhora começou na semana passada - garantiu o homem. Em boa medida, a esperança é uma conseqüência da fé e da confiança no profissional da medicina. Há vários meios de criar a ligação. Certas questões essenciais são óbvias: compaixão, boa acolhida, disponibilidade e presteza para dar informações. É por isso que as visitas pré-operatórias da equipe cirúrgica assumem tanta importância, sendo favoráveis durante a operação e na fase de recuperação. Segundo uma pesquisa citada pelo dr. Herbert Benson em The Mind/Body Effect (O Efeito Mente/Corpo), um grupo encabeçado pelo dr. Lawrence Egbert, de Harvard, comprovou que os pacientes que recebiam a visita do anestesiologista na noite anterior à cirurgia, assim como explicações e garantias que não eram dadas a outro grupo de controle, só precisavam de metade da medicação anestésica. Além disso, em média, tinham alta sessenta horas antes que os pacientes do outro grupo de controle.
Um patrimônio valioso é o senso de humor. Quantas vezes já me vi dando risadas no quarto de um doente "agonizante"! Lá fora, no corredor, o pessoal da equipe pensa que estamos negando a realidade. Mas simplesmente acontece que ainda estamos vivos e, portanto, com capacidade para rir. É obrigatório o pessoal hospitalar compreender que as pessoas não estão "vivendo" ou "morrendo": estão vivas ou mortas. Enquanto estão vivas, devemos tratá-las como tal. Considero "terminal" um adjetivo que abala as pessoas, pois quer dizer que estamos começando a tratar alguém como se já estivesse morto. Há estudos demonstrando que os médicos e as enfermeiras levam mais tempo que o normal para atender à luz de chamada do quarto de um paciente "terminal". A palavra implica mais um estado de espírito do que a condição física, prejudicando, entre a equipe, a empatia e a atenção necessárias, além de torná-la cônscia da própria mortalidade.
De resto, é essencial para os doentes saber que podem mostrar-se irritados com o médico sem que as relações de ambos saiam arranhadas. Muitas vezes escutei gente se queixando dos médicos, mas pedindo para não contar nada a eles, com medo de represálias no futuro. A irritação não manifestada fere o paciente e, por isso, deve ser compartilhada, para que o par da cura se forme. Como será nobre a ligação de quem não acredita que o médico responda às críticas em nível profissional! Fico feliz quando os doentes se mostram aborrecidos comigo, pois isso quer dizer que se sentem seguros, que temos um bom relacionamento e que se comportam como sobreviventes.
Meu pai foi operado há muitos anos e voltou para casa com o que, para mim, eram instruções demasiadamente pobres. Por causa disso, sofreu complicações. Escrevi ao cirurgião e ao clínico exprimindo minha opinião. O cirurgião respondeu com uma carta em que me acusava pelos problemas. O clínico replicou dizendo: "Obrigado, de vez em quando precisamos receber uma carta assim para nos estimular a fazer o melhor". Por conseqüência, aconselhei meu pai a mudar de cirurgião e a manter o clínico.
A atitude do médico costuma ser fundamental para o êxito do tratamento, dado seu efeito sobre o paciente, que deseja contar com a atenção total do médico. Tenho na memória a ocasião em que, na qualidade de interno, me vi numa sala de cirurgia, onde ia ser operado alguém sob anestesia raquidiana. Ao escutar a conversa da equipe, exclusivamente sobre esportes, o doente pediu, em tom de queixa:
- Por favor, não há ninguém aqui capaz de dizer alguma coisa sobre mim e sobre a operação?

Imagine o leitor o absurdo de uma pessoa gravemente enferma de câncer ter de ouvir um profissional da área médica lamentando o jogo que perdeu, o cirurgião aborrecido porque não teve tempo para cortar o cabelo. Somente a empatia é capaz de estabelecer o vínculo indispensável à cura. Se o médico fica por um minuto à beira da cama e conversa, para o doente é como se fossem cinco ou dez minutos; se o médico fala da soleira da porta, a mesma visita parece que durou só quinze segundos. A atitude conta mesmo no caso de enfermos que estejam inconscientes, dormindo, em coma ou anestesiados. Milton Erickson, um grande psiquiatra e hipnoterapeuta, comprovou, na década de 50, que os pacientes, durante a anestesia, ouvem e compreendem vozes conhecidas e expressivas. Certo obstetra de Baltimore contou-me ter observado sutil mudança no comportamento das pacientes, há vários anos, quando o éter foi substituído por anestésicos mais leves. Para pesquisar, levou um taquígrafo para a sala de cirurgia, a fim de registrar todas as palavras ditas no decurso de várias cesarianas. Descobriu que, sob hipnose, as pacientes eram capazes de repetir as conversas, palavra por palavra.
Há trabalhos recentes que confirmam essa percepção inconsciente. Henry Bennett, psicólogo da Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia, fez tocar uma fita perto de pacientes anestesiados, pedindo-lhes que dessem sinal de ter escutado a mensagem com um toque nos ouvidos, numa entrevista após a operação. Quase todos tocaram repetidas vezes nos ouvidos sem estarem conscientes disso, mas nenhum conseguiu recordar a mensagem. Em outra experiência, o dr. Bennett solicitou a enfermos inconscientes que tornassem uma das mãos mais quente que a outra, sendo prontamente atendido. A outro grupo de doentes, foram feitas sugestões não-hipnóticas, antes da intervenção cirúrgica, para que o sangue deixasse a área da bacia, com o que a perda se reduziu à metade. Possuímos mecanismos incríveis, que nos permitem voltar a quimioterapia contra um câncer ou desviar a corrente sanguínea, fazendo definhar um tumor.
Há muitos anos venho utilizando a capacidade auditiva de pessoas inconscientes, contando àquelas que estão em coma qual é seu quadro médico. Foi o caso de uma senhora que ficou três anos em coma, sem o menor indício de recuperação, a quem revelei que a família lhe dava licença para se despedir da vida e que a morte não prejudicaria sua qualidade de mãe. Contei que sentiriam sua falta, mas que, se ela quisesse partir para sempre, todos se conformavam. Quinze minutos depois, estava morta.
Se entro num quarto em que o paciente está dormindo, anuncio meu nome em voz baixa e deixo que a percepção inconsciente o desperte, se quiser falar comigo no momento. Se ele não acordar e não houver nenhum problema urgente, volto mais tarde.
Muitos cirurgiões já recorrem à capacidade das mentes anestesiadas para evitar complicações. Após intervenções na região dorsal inferior, é comum surgirem dificuldades para urinar, que obrigam ao uso de cateteres em função de espasmos nos músculos da pelve. Determinado grupo de pesquisadores sugestionou doentes já na mesa operatória no sentido de que relaxassem os músculos após a intervenção. E nenhum deles precisou de cateteres.
Quando estou operando, não deixo de me comunicar com o doente, informando-o do que se passa, e cheguei à conclusão de que essa maneira de agir pode representar a diferença entre a vida e a morte. Falando animadoramente a alguém que apresenta irregularidades cardíacas durante uma cirurgia, é possível sanar as irregularidades ou reduzir um pulso rápido. Há pouco tempo, operei um jovem muito robusto, com a compleição de um jogador de futebol americano; cuja estrutura provocou alguns pequenos problemas técnicos. A certa altura, olhei para o monitor e vi que o pulso dele acusava 130 batimentos por minuto. Sabendo como ele estava ansioso com a operação, tratei de animá-lo:
- Victor, estou encontrando algumas dificuldades mecânicas porque você é um cara enorme, mas a cirurgia está correndo bem. Este momento é um pouco mais difícil. Mas você está ótimo. Não fique nervoso, pois eu gostaria que seu pulso baixasse para 83.
Poucos minutos depois, sem qualquer medicação adicional, seu pulso baixava para exatos 83, e aí se manteve. Muitos anestesiologistas, tomando conhecimento de tais episódios, passaram a falar com os doentes, transmitindo-lhes mensagens tranqüilizadoras, pois as que produzem medo tendem a aumentar a incidência de paradas cardíacas.
Certa ocasião, ao terminar uma complexa operação abdominal de emergência num homem novo mas extraordinariamente obeso, seu coração parou exatamente quando nos preparávamos para conduzi-lo à sala de recuperação. Tentamos a ressuscitação, mas não houve resposta. O anestesiologista já desistira e ia atravessando a porta quando gritei:
- Harry, ainda não chegou a sua vez. Volte! Imediatamente, o cardiograma começou a dar sinais de atividade elétrica e, afinal, o homem acabou por se recuperar de forma plena. Claro que não tenho meios de provar o que digo, mas, para mim, a reversão do quadro se deve à mensagem verbal. Os demais membros da equipe também ficaram convencidos disso. Defendo que não há razão para não nos comunicarmos com o paciente de todas as formas possíveis.
Importantíssimo é evitar mensagens negativas, uma vez que os mecanismos conscientes de defesa do paciente anestesiado não estão funcionando. Ainda há pouco recebi uma carta de um estudante de medicina, chamado Tim, na qual descrevia os métodos de certo cirurgião:
Ouvi o cirurgião falando com um tom vingativo na voz, um tom que eu imaginava exclusivo dos estudantes de medicina. Exclamava: "Esta senhora está me dizendo que é holística! Holística, ora vejam! Tão holística que, com certeza, o máximo da vida dela foi a compra de um livro sobre passarinhos. Tão holística que imagina que a radiação lhe será prejudicial. Que mulher mais horrorosa!" E lá ia ele, de um lado para outro, um insulto depois do outro, como se ela estivesse a milhares de quilômetros de distância, e não sob anestesia geral, a meio metro dele. "Ela diz que é hipoglicêmica. Caramba! Que mulher estranha!"
Depois, proclamou: "Vejam só: é câncer. Coisa maligna".
E cortou um pedaço de tecido como se estivesse cortando uma fatia de torta de maçã. Não é preciso dizer que ela acordou da anestesia gelada, chorando e gemendo de dor.
Tim ajudou a senhora em outros testes e numa mastectomia radical, deixando que ela escutasse uma gravação destinada a meus PCE. Seu interesse contribuiu para que a doente acompanhasse melhor o tratamento, o que por sua vez lhe reduziu as dores. Ela recusou a radiação e a quimioterapia, que considerava venenosas, em troca das alternativas holísticas em que acreditava. Na carta, Tim dizia ser ainda muito cedo para prever a evolução da doença, mas o fato é que a encontrou pouco depois de ela ter alta e achou-a vibrante, cheia de energia e de afeto. Aliás, ela esclareceu um mistério que deixara Tim confuso por vários dias. O mesmo cirurgião que havia sido tão grosseiro foi quem fez a mastectomia, mas desta vez foi solícito e gentil. Dizia Tim:
Por que motivo ele foi vê-la na sala de recuperação e a visitou em casa? O que o levou a ser o único membro da equipe hospitalar a apoiar a decisão dela, ao se recusar a novos exames, dizendo-lhe "Vá para casa, descanse e ganhe saúde"?
Parece que, na manhã da cirurgia, ao fazer suas visitas pré-operatórias de quinze segundos, ela pegou o médico desprevenido e lhe deu um abraço como ele jamais recebera (de um paciente pelo menos). Em princípio, ficou surpreso, sem saber como reagir. Depois, retribuiu o abraço, em que os dois se estreitaram fortemente.
Às vezes não se sabe bem quem é o paciente e quem é o médico. Ignoro se ambos curaram seus cânceres, mas eles se ajudaram um ao outro.
Sempre tomo cuidado para que o pessoal presente na sala de cirurgia não diga uma palavra que não diria caso o paciente estivesse desperto. Quando um cirurgião faz uma graça do tipo "Se este cara escapar daqui, será o primeiro", o doente quase sempre acorda gritando na sala de recuperação. Afinal, podemos ser honestos no diagnóstico e, ainda assim, incutir pensamentos positivos sobre o tratamento futuro. Falar uma coisa como "Você vai acordar ótimo, com sede e com fome" ajuda a recuperação. Até a vontade de fumar pode desaparecer, com uma sugestão no final da cirurgia. Aliás, também não hesito em solicitar ao paciente que não sangre, caso as circunstâncias o recomendem. Todos sabemos que os iogues e as pessoas hipnotizadas conseguem controlar hemorragias e tudo indica que o pedido verbal também funciona durante a anestesia. Já especulei se por acaso as sugestões feitas em estado anestésico não poderiam ser utilizadas como uma forma de psicoterapia.
O ambiente da área clínica influencia tanto a atitude do médico como a do paciente. Acho que perdemos uma força imensa - uma conexão com Deus e com a natureza - quando os arquitetos eliminam as janelas dos hospitais. A vista do mundo exterior desperta a memória do vínculo com a vida, contribuindo para nossa sobrevivência. Um estudo realizado num hospital da Pensilvânia demonstrou que os pacientes cujos quartos ficavam de frente para um jardim, uma árvore e o céu melhoravam mais depressa que aqueles cujos aposentos davam para uma parede. Em Lições Mortais, Dick Selzer fez eloqüente descrição do mesmo efeito, do ponto de vista médico:
Não faz muito tempo, as salas de cirurgia tinham janelas. Era um privilégio, uma graça, apesar das moscas que ocasionalmente conseguiam atravessar as vidraças, ameaçando o meio-esterilizado. Para o inseto aventureiro atraído a tão arrebatador espetáculo, bastava uma batida e zás! Estava aberta a porta para o mundo de fora. E, para nós, que lutávamos, havia a benção do horizonte, o aplauso e a vaia dos trovões. A consulta aos céus estrondeava à luz dos raios! E, à noite, na sala de emergências, tínhamos o esplendor e a longevidade das estrelas para esvaziar o ego de um cirurgião. A nenhum paciente foi prejudicial contar com o céu por sobre os ombros de seu médico. Receio muito que, emparedadas as janelas, tenhamos perdido mais que a brisa, rompendo uma ligação celestial.
Operar em salas sem janelas é como viver na selva, onde não se avista o céu. Como não o vemos, não se tem grande visão de Deus. Ao contrário, só se vêem os inumeráveis espíritos fragmentários, que se ocultam atrás das folhas e das correntes de água. Nenhum é melhor nem pior que o outro. Não obstante, o homem tem direito ao templo de sua preferência. A minha reside numa planície, contemplando perscrutadoramente os céus. Ou numa sala de cirurgia constelada de janelas, por cujas vidraças assista a vacas pastando e as estrelas iluminem a madeira de meus móveis.
Para restaurar essa conexão celestial uso a música, cujas propriedades curativas são conhecidas desde os tempos bíblicos. Na era dos profetas, os harpistas tocavam peças especiais com o objetivo de provocar um estado de espírito em que as capacidades extrasensoriais eram estimuladas. "Quando Eliseu cantava ao som da harpa, a mão do Senhor pousou sobre ele." Davi também tocava harpa para aliviar a depressão e a paranóia do rei Saul.
A música abre uma janela espiritual. Quando levei, pela primeira vez, um gravador para a sala de cirurgia, todos se surpreenderam. Mas as enfermeiras e os anestesiologistas gostaram tanto que, se eu me esquecesse dele, depois, a equipe estranhava. Agora, em New Haven, quase todas as salas de cirurgia têm gravadores.
Pesquisa efetuada recentemente no Centro Médico do Pacífico do Hospital Presbiteriano, em São Francisco, demonstrou que a música alivia a ansiedade, a tensão e a dor durante o processo traumático da cateterização cardíaca. As criancinhas reagem melhor a canções de ninar e outras infantis; pessoas mais desenvolvidas ficam mais calmas com outras músicas. O ritmo favorito dos adolescentes é o roque, mas os biocinesiologistas concluíram que essa música, quando alta, enfraquece as pessoas. Por isso, não a recomendo para salas de cirurgia. A música deve servir para acalmar o paciente e a equipe médica, para lhes atenuar a tensão nervosa. No ato cirúrgico, todos devem concentrar sua atenção na existência de uma pessoa viva que esta sendo operada, não se deixando distrair. A meu ver, as mais eficazes para esse fim são a música religiosa e as peças barrocas de andamento lento, que Sheila Ostrander e Lynn Schroeder recomendam em Superlearning (Superaprendizado). Estimulo os pacientes a escolher as fitas de sua preferência, com o objetivo de implantar no ambiente hospitalar um clima saudável. Cito ainda The Healing Energies of Music (As Energias Curativas da Música), de Hal Lingerman, para as necessidades especificas. Excelentes são, igualmente, as versões de peças clássicas executadas por Daniel Kobialka.
Já sei quais melodias são apropriadas para cada tipo de situação cirúrgica. Costumo deixar as pessoas intrigadas dizendo que tenho a música certa para deter hemorragias. Por outro lado, a reação dos pacientes provoca boas tiradas de humor. Certo paciente, ao ouvir harpa antes da operação, comentou:
- Que bom escutar essa música enquanto ainda estou consciente. Se acordasse com ela, não saberia onde me encontrava.
Outro paciente, de quem eu estava extraindo um enorme tumor benigno, sob anestesia local, deu uma boa risada, exclamando: "Muito apropriado". A música de fundo era Frank Sinatra cantando Por Que Não Tira Tudo de Mim.
Mais que qualquer outro fator, a participação no processo de tomada de decisões determina a qualidade das relações médico-paciente. O paciente especial gosta de dividir responsabilidades pela vida e pelo tratamento, e o profissional que estimule essa atitude conseguirá curas mais rápidas.
Dois estudos atuais sobre crianças corroboram o valor da participação. A dra. Charlene Kavanagh, da Faculdade de Medicina da Universidade de Wisconsin, comparou um grupo de crianças seriamente queimadas e que recebiam cuidados normais de enfermagem com outro grupo, ensinado a trocar os próprios curativos. As que desempenhavam papel ativo precisavam de menos remédios e tinham menos complicações. E, em Palo Alto, na Califórnia, a um grupo de crianças que sofriam de asma foi ensinado como era a doença e quais os medicamentos que a controlavam, incentivando todas a decidir por si mesmas quando era necessário tomá-los. Essas crianças faltaram bem menos dias à escola, e a média de visitas ao pronto-socorro caiu de uma por mês para uma por semestre.
A responsabilidade dividida também estimula a cooperação e reduz os ressentimentos que normalmente estão na origem dos processos judiciais por erros médicos. A desconfiança e a recriminação tornam-se improváveis quando as decisões se baseiam em raciocínios compartilhados sobre aquilo que, no momento, é bom para o paciente, e não em prognósticos acerca do futuro desconhecido. Não me agrada ver um paciente anestesiado sem que ele saiba que vou fazer exatamente o que ele queria que eu fizesse. No entanto, se o doente parece que vai ficar com raiva de si mesmo se algo de errado se verificar no futuro, por causa de sua decisão, talvez eu lhe sugira que me dê maior liberdade de decisão. Prefiro que tenham raiva de mim, já que, se fiz o melhor que sabia, posso agüentar a raiva deles.
Há ocasiões em que, se o doente não tem, no subconsciente, a certeza de querer viver, evita o tratamento mais eficaz ou apresenta tantos efeitos colaterais que é preciso suspendê-lo. Mesmo que aspire desesperadamente a viver, talvez discorde do médico, que, nesse caso, precisa combater o impulso de abandonar o doente ou coagi-lo. O médico interessado em garantir o futuro costuma pressionar o doente a seguir determinado tratamento, criando condições para recriminações e sentimentos de culpa, se a doença não for curada.
Por outro lado, quando o paciente, por convicção, adota certa forma de terapêutica, aceitando a verdade de que a morte é, mais dia; menos dia, inevitável, jamais se sentirá frustrado e nunca lamentará a decisão. Já o médico deve recordar que ao paciente cabe fazer a escolha e, a partir daí, viver em função dela.
O dever do médico é aceitar todos os doentes - mas não apoiar todas as opções deles, necessariamente. Pertence-lhe o direito de discordar do que eles querem fazer e recusar sua participação. O lado melancólico é que essa atitude mata muitas pessoas, já que elas nunca mais voltam a um médico. O que eu lhes digo, em geral, é:
- Se eu tivesse sua doença, não seguiria esse plano de tratamento, pois não acredito que tenha possibilidades de sucesso. Mas manterei contato, se você desejar, ajudando em tudo o que eu puder.
Nesta hipótese, se vê que sua opção não está dando resultado, o doente me procura e diz algo como:
- Sei que o senhor se preocupa comigo, tanto que não rompeu o contato. Vamos fazer a tal operação!
Não há outra forma de manter a chama da esperança, deixando uma porta aberta para que o doente adote, mais tarde, o tratamento recomendado pelo médico. Até agora, todos os meus pacientes aceitaram a quimioterapia, a radioterapia ou a cirurgia, sempre que essas técnicas se mostraram indicadas. Isso abrange os que, de início, tentaram a automedicação e rejeitaram a classe médica.
A aceitação por parte do médico contribui para que o doente encontre a saúde e a paz, como se verifica com o caso de Bridget, uma inglesa que emigrou para Nova Jersey. Ela apresentava um tumor do tamanho de um melão que lhe tomava o lugar do seio esquerdo. Examinei-a e relacionei as coisas que, em minha opinião, poderiam ajudá-la. A lista ia desde a cirurgia até Deus.
- O senhor é o primeiro médico que não grita comigo, perguntando por onde andei, por que não vim antes, por que sou tão estúpida - comentou ela.
Respondi que meu papel não era esse, mas pura e simplesmente o de aceitar os pacientes como eles são e procurar ajudá-los. Induzi Bridget a rabiscar desenhos, e eles revelaram atitudes inconscientes positivas para com a radiação e a quimioterapia, ainda que, no nível consciente, ela resistisse a ambas. Meses depois, voltou para contar que havia iniciado a quimioterapia e que o tumor desaparecera. A reação dela foi tão espetacular que, para o oncologista, não era sequer preciso fazer radiação. A forma como eu aceitei Bridget permitiu-lhe aceitar, por sua vez, aquilo que a profissão médica tinha a oferecer.
No entanto, há cirurgiões que insistem em dirigir todo o espetáculo. Chegam a proibir que as pacientes utilizem após uma mastectomia o Reach to Recovery (Alcance a Recuperação), programa de terapia física e emocional pós-operatória. Não têm o direito de fazer isso, mas procuram tomar conta tanto da vida como dos detalhes técnicos do tratamento do paciente, tal qual um adulto que domina uma criança - e o triste é que há doentes que permitem. Os médicos são formados tanto pelos pacientes como pela faculdade, mas a maioria dos pacientes prefere entregar todas as decisões nas mãos da figura onipotente do pai. Os especiais, contudo, lutam pela co-responsabilidade, mas representam uma minoria. O já citado Kostoglotov, personagem de Soljenítsin, queixa-se ao médico:
Mal um doente chega perto, você começa a pensar por ele. Depois disso, o pensamento assume a forma de ordens constantes, de conferências de cinco minutos, de seu programa, de seu plano e da honra de seu departamento médico. E mais uma vez eu me torno um grão de areia, tal como era no campo. Mais uma vez, nada depende de mim.
Os críticos da moderna medicina gostam de salientar quantas vezes os índices de mortalidade declinaram vertiginosamente durante greves de médicos - em 1976, em Los Angeles; no mesmo ano, em Bogotá, e em 1973, em Jerusalém. Em geral, fazem algum comentário simplista, do gênero "Assistência médica é perigosa para a saúde". Com maior probabilidade, os doentes compreendem de súbito que têm de cuidar de si mesmos, de tomar decisões, como sempre deveriam ter feito. E é isso que os mantém vivos por mais tempo. Anos atrás, houve uma greve de motoristas de ambulância em Cape Cod, onde possuo uma casa de veraneio. Veio o pânico: que fazer numa emergência? Pois bem, o número de emergências caiu de repente até que terminou a greve - e eis aí outro exemplo gritante do controle que possuímos sobre nós mesmos.
A incapacidade tão comum para interagir proveitosamente com os pacientes tem origem no fato de o médico aprender apenas a ser um mecânico. Na faculdade de medicina, aprendemos tudo sobre doenças, mas nada sobre o que a doença significa para a pessoa que a sofre.
Num estudo sobre medicina popular em Formosa e entre sino-americanos, o dr. Arthur
Kleinman, da Faculdade de Medicina da Universidade de Washington, atribuiu o êxito muitas vezes surpreendente do médico popular ao tratamento no contexto da psicologia e da cultura do paciente. O profundo estigma que as doenças mentais recebem na sociedade chinesa leva os chineses, freqüentemente, a conceberem a depressão, digamos, apenas em termos de sintomas físicos, como fadiga. Por conseqüência, tende a haver resistência aos tratamentos que não induzirem o paciente a crer numa causa física do problema. Caso contrário, a terapêutica pouco efeito produziria.
Kleinman assinala uma diferença entre os sintomas físicos ou psíquicos visíveis ao médico e a experiência subjetiva que o paciente tem da doença. É comum que as duas visões sejam bem diferentes, sobretudo quando alguém desprovido de conhecimentos é tratado por um médico ocidental.
Não recomendo transes, passes ou oferendas a divindades (a menos que o paciente só acredite nesses métodos). Mas percebo que temos, a exemplo dos médicos livres de Platão, de perguntar ao paciente o que ele julga ter causado o problema, que ameaças e perdas isso representa para ele e como, na opinião dele, o mal deveria ser tratado. O sistema cruzado de tópicos que os estudantes de medicina aprendem a utilizar na anamnese não revela as seqüências cronológicas nem o significado que os acontecimentos têm para os doentes. Até perguntas como "De que faleceu seu pai?" poucas vezes visam a saber se o pai morreu na semana passada ou há vinte anos. É comum que os médicos não façam idéia da dinâmica da situação, a não ser que os pacientes revelem voluntariamente esses aspectos, o que poucas vezes ocorre.
Os melhores resultados são os que derivam de uma "negociação", na qual a opinião dos clínicos e a do doente chegam perto o bastante para redundar numa autêntica comunicação. Se alguém acredita com fervor na cura religiosa, mediante a imposição das mãos, o clínico não deve constituir um obstáculo, depreciando a eficácia do tratamento. Mesmo que pense que semelhantes métodos são inúteis, o provável é que sejam benéficos, se o paciente acredita neles.

Muitas vezes, digo aos pacientes como eu me trataria se tivesse a doença deles. Mas não renuncio a nenhum processo sugerido por eles alegando que não presta. Prefiro apurar em que medida nossas crenças poderão se conjugar. A meu ver, a medicina totalista é boa na medida em que médico e paciente aceitem o sistema de crenças um do outro, ainda que divergentes. Nenhum força o outro, o que me permite dizer:
- Se por acaso suas crenças não funcionarem, tente as minhas. Tive há pouco tempo uma conversa com Vivian, adepta da Ciência Crista que vinha tentando, em vão, curar uma séria infecção da bexiga por meio de orações. Quando já não agüentava as dores, foi ao pronto-socorro. Segundo ela, um médico jovem e sem experiência deu-lhe um remédio que fez os sintomas desaparecerem em 24 horas. O episódio levou-a a crer que os remédios provêm igualmente de Deus e devem ser usados em conjunto com nossos recursos internos de saúde.
Claro está que sempre procuro convencer as pessoas a não gastar tempo e dinheiro em alguma coisa que me pareça inútil. Mas, se, no caso, há crenças positivas envolvidas, faço questão de apoiá-las. Tudo quanto alimenta a esperança é benéfico. Não faltam estudos demonstrando que gastar dinheiro e viajar para longe ajudam de fato um paciente a ficar bom. É forte o impulso para comprovar o valor do dinheiro, mas também é verdade que o esforço revela alta motivação. Invariavelmente, esses doentes prestam atenção aos conselhos do médico e seguem-nos. Sempre pedi que me remetessem desenhos pelo correio e que me telefonassem, até que compreendesse como era importante o desejo de me visitar. Um senhor de Montana, com câncer no pâncreas, veio me consultar com um prognóstico de vida de três meses. Um ano e meio depois, ainda estava vivo, graças à esperança. Da mesma forma, a boa vontade de ceder um pouco contribui para o paciente aceitar as opiniões do médico, dando oportunidade a que o tratamento funcione. Quando o doente não tem fé no esquema do médico, resiste conscientemente ao tratamento, não tomando os remédios, ou de maneira inconsciente. Em todo o caso, frustrou-se a cura.
O valor da identificação com o paciente revela por que os melhores médicos costumam ser pessoas que também já estiveram seriamente doentes. Durante o curso de medicina somos ensinados a não sentir empatia pelo enfermo, supostamente para nos evitar tensões psíquicas. Toda a terminologia que empregamos da realce à separação. Em vez de "ataque cardíaco", a telefonista do hospital diz "Código 5". No entanto, a distância emocional fere ambas as partes. Escapamos quando o doente mais precisa de nós. As enfermeiras sabem como é difícil encontrar o médico quando um paciente agoniza. Toda a formação que recebemos faz com que nos imaginemos deuses da restauração, operários do milagre. E, se não conseguimos restaurar o que está quebrado, fugimos para lamber as feridas, ressentidos com o fracasso.
Por outro lado, a distância também leva os médicos a sentir-se invulneráveis: "São sempre os outros que estão doentes, e não eu". Quando digo a uma sala cheia de alunos de medicina que quase todo mundo morre, a gargalhada é geral. Mas, se digo a mesma coisa perante um grupo de médicos formados, o silêncio é mortal. Somos quem melhor nega tudo. Conforme a observação do dr. Gordon Deckert, chefe da clínica de psiquiatria do Centro Médico da Universidade de Oklahoma, "normalmente, os médicos conhecem aquilo em que pensam e acreditam, mas é raro saberem como se sentem".
Em conferência promovida recentemente pela Associação Americana de Faculdades de
Medicina, concluiu-se que a especialização tecnológica está expulsando a "nobre preocupação pelas necessidades humanas", essencial ao objetivo dos discípulos de Hipócrates, que é aliviar o sofrimento. Segundo o dr. Steven Müller, o moderador da mesa-redonda, cabe às faculdades de medicina encontrar meios para incentivar essa preocupação, que em larga medida deve ser ensinada pelo exemplo.
Em vez disso, o ideal tacitamente incutido na faculdade é o machismo médico - o doutor de dureza super-humana, capaz de lidar com tudo sem se abalar. É correto ter medo de uma prova, mas temer a doença e a morte é sinal de fraqueza.
e pergunte a um corretor de seguros qual a margem de riscoÉ como se os médicos
Depois de formados, naturalmente, negamos a tristeza em face da desventura do paciente, a irritação diante de sua resistência e até a alegria com sua recuperação. De modo geral, somos muito conscienciosos com nosso trabalho, mas também costumamos ser incapazes de relaxar, de brincar e de descansar. Por conseqüência, menosprezamos todos os avisos sobre nossa própria saúde, justificando o alto índice, entre nós, de suicídios, de dependência em relação a drogas e de mortalidade na meia-idade. Dê a qualquer médico um avião e um brevê, pensassem: Ora, esqueça a tempestade! Tenho um encontro marcado. E acidentes acontecem com os outros, não comigo.
Em artigo recente, o dr. Glen Gabbard, da Clínica Menninger, abordou o papel da compulsividade no médico, que gera dúvidas, sentimentos de culpa e exagerado senso de responsabilidade - o que se reflete na dificuldade de relaxar, de gozar férias e de dedicar tempo a família. O médico sente-se responsavel por coisas que estão fora de seu domínio, acha que nunca fez o bastante e confunde egoísmo com o salutar amor-próprio. Parafraseando uma história de Larrv LeShan, eu diria que os médicos estão atarefados brincando de Deus - sem possuir as necessárias qualificações - e ainda levam o trabalho para casa. Brincar de Deus gera autodestruição.
Muitos colegas procuram atualmente ministrar cursos de medicina humanista em que entra a compaixão, mas talvez o aumento da proporção de mulheres no meio da profissão contribua mais efetivamente para dar um paradeiro a esta fanfarronada patética. Os melhores médicos são aqueles que logram mobilizar tanto as virtudes "masculinas" como as "femininas" que coexistem em sua personalidade - a capacidade de tomar decisões firmes sem deixar de ser sensível e carinhoso. Nem um extremo nem o outro fazem o bom profissional, pois o envolvimento demasiado pode prejudicar as decisões, assim como o grande distanciamento leva a tomar decisões com base em doenças, sem pensar no doente. O melhor reside em combinar as duas faces da moeda.
Para a maioria dos pacientes, é importante saber que seus próprios médicos se aconselham para poder dar conselhos. No entanto, julgando-se imortais, muitos profissionais fumam, bebem, comem mal e não praticam exercícios.
Esse comportamento é ruim para o médico e muito pior para o paciente. A sensação de invulnerabilidade leva o primeiro a não fazer caso dos receios do segundo, que não sonha com semelhante fantasia. Quando alguém pergunta o que pode comer, a divindade invencível pensa: Eu, pessoalmente, vou comer um belo cachorro-quente. Se alguém questioná-lo sobre os nitritos carcinogênicos contidos nesse tipo de sanduíche, o médico rirá, protegido por um escudo invisível.
Com semelhante ponto de vista, nós, os médicos, não conseguimos, por vezes, pensar nas coisas mais evidentes, como me ensinou meu filho Keith, aos 4 anos de idade, quando teve de ser internado para resolver uma hérnia. Expliquei-lhe todos os detalhes mecânicos, mas, ao acordar, ele fez o seguinte comentário:
- Você esqueceu de contar que ia doer. Muito mais tarde, já adolescente, Keith chegou em casa com problemas. O pai tinha soluções do tipo ama-aceita-perdoa, mas ele foi breve:
- Não quero respostas, mas alguém que me escute. Se quisermos fazer o papel de santos, com respostas de uma só palavra, não ajudaremos ninguém. Só ajudamos se prestarmos atenção e compartilharmos a dor. Temos de experimentar o sermão, e não apenas proferi-lo.
Uma séria infecção estafilocócica, que me prendeu num leito de hospital por oito dias, constituiu parte decisiva de minha formação. Descobri as dificuldades de ficar no isolamento, ligado a um tubo intravenoso, obrigado a pedir ajuda para tudo quanto necessitava. Descobri como é duro manter a dignidade nas ridículas camisolas que o hospital fornece.
A doença sobreveio numa época de várias mudanças em minha vida: casa nova, mais filhos, início de carreira. Em meio a tantos fatos positivos, eu simplesmente adoecia! A partir daí, ganhei consciência de que meus pacientes deviam estar sofrendo da mesma forma. Passei a brincar com eles sobre mudanças em suas vidas, perguntando, por exemplo, se estavam iniciando um novo trabalho ou haviam se mudado para uma casa nova. Tremenda surpresa deles: como é que eu sabia?
Aprendi igualmente muita coisa a respeito da profissão. Como eu era médico, tinha eminentes professores cuidando de mim, mas não conseguia reuni-los para que me dessem uma resposta concreta. Eles até queriam mudar-me para uma enfermaria mais depressiva, sem janelas, porque ficava mais perto do gabinete de certo professor. Discordei e disse que ia deixar o hospital. E, de súbito, todos compareceram.
Passar alguns dias como doente numa enfermaria superlotada deveria fazer parte da formação de todos os médicos - e, conforme a sugestão de alguém que já esteve internado, "com soro na veia e um tubo pelo nariz adentro". As culturas tribais, na maioria, reconhecem esse tipo de necessidade. A regra é que ninguém se torna curandeiro sem passar antes da doença à saúde. Na cultura ocidental, para ser psicanalista é preciso ter sido previamente analisado, mas para ser médico "mecânico" não se exige que a pessoa tenha sido "consertada".
Negar a empatia não beneficia ninguém. Como mecânicos, nós, os médicos, sempre falhamos a longo prazo, mas, no papel de conselheiros, professores, curandeiros e amigos desvelados, estamos invariavelmente em condições de contribuir e mesmo de ajudar no transe da morte. Então, não faz sentido que o profissional se esconda na lanchonete, obrigando a enfermeira a enfrentar sozinha a morte do paciente. Um acordo de cooperação em que ambos, médico e doente, compreendam que são essencialmente iguais, salvo por alguns anos de faculdade de medicina, é mais benéfico que os papéis habituais de senhor e suplicante. Nas palavras do dr. Francis Peabody, pioneiro de pesquisas médicas em Harvard, na década de 20, "o tratamento da doença pode ser inteiramente impessoal, mas o desvelo com o paciente há de ser completamente pessoal".
Mudar de procedimento será demorado e difícil para a maioria dos colegas, como foi para mim, mas não existe alternativa que funcione. Os componentes mentais de todas as doenças tornam imperativo que o médico seja tão esclarecido e equilibrado por dentro como um bom psicoterapeuta. Em O Homem Moderno em Busca de uma Alma, Carl Jung discorreu sobre a matéria da seguinte forma:
Ao lidar consigo mesmo, o médico deve dar mostras de tanta retidão, coerência e perseverança como ao tratar dos pacientes. Aperfeiçoar-se interiormente com igual concentração não é efetivamente uma realização menor, pois o obriga a aplicar toda a capacidade de atenção e de juízo critico de que seja capaz para mostrar aos pacientes os caminhos errados que seguiram, as falsas conclusões a que chegaram, os infantis subterfúgios que empregaram. Ninguém paga ao médico por seus esforços introspectivos e, além disso, geralmente não estamos bastante interessados em nós mesmos. Por outro lado, subestimamos tão comumente os aspectos mais profundos da psique humana que julgamos quase mórbida a introspecção, a preocupação conosco. Suspeitamos, evidentemente, estar abrigando coisas patológicas, que fazem lembrar muito um quarto de doente. Cabe ao médico vencer essas resistências em si mesmo, pois como pode alguém educar os outros se não está educado? Como esclarecer o semelhante quem ainda está no escuro a seu próprio respeito? Quem pode purificar se ainda está impuro? [...] Já não é possível que o médico escape de suas próprias dificuldades tratando as dificuldades dos outros. Há de se ter presente que o homem com um abscesso supurado não está em condições de executar uma operação cirúrgica.
Jung abordou igualmente a necessidade de superar as especializações limitantes. Na autobiografia Memórias, Sonhos, Reflexões, ele diz que, tal como os médicos aprenderam a empregar os raios X sem a intenção de se instruir em física subatômica, "eu não estava preocupado em provar nada a outras disciplinas, mas procurando somente dar boa utilização ao conhecimento dessas disciplinas em meu próprio terreno
Carl Gustav Jung ampliou a psicologia ao lhe incorporar as perspectivas da mitologia e da filosofia - tal como, de forma semelhante, os médicos atuais devem aplicar as concepções da psicologia e da religião à medicina. Mais adiante, no mesmo livro, Jung alude à vantagem que o médico extrai da disposição de estudar outros campos:
A diferença entre mim e a maioria das pessoas é que, em meu caso, as "paredes divisórias" são transparentes. Essa é minha peculiaridade. Os outros acham as paredes tão opacas que nada vêem através delas e, por conseguinte, julgam que do outro lado não existe coisa alguma. Até certo ponto, percebo os processos que ocorrem no último plano, o que me confere uma certeza interior.
A ampliação das perspectivas auxilia o médico a incutir esperanças dadas com o coração tanto quanto com o cérebro e as mãos, a manter o ego em último plano e a partilhar as grandes decisões com o doente. É uma abordagem compensadora para ambos. A estima é retribuída com palavras e olhares de gratidão, com mensagens escritas, com presentes simbólicos para o consultório. O profissional que trabalha com amor não se esgota. Pode estar cansado do ponto de vista físico, mas não emocionalmente.
Nunca deixam de me espantar as maravilhas que a colaboração médico-paciente opera.
Uma experiência ilustra como ela chega a reduzir a dor. Thelma, que tinha um câncer no seio com recidivas, disse-me esperar que Deus a curasse e que eu observasse e monitorasse o processo. Expliquei-lhe como isso era difícil. Na segunda visita, o câncer estava menor e perguntei o que havia acontecido.
- Saí de casa com o telefone tocando - contou ela. Era a primeira vez na vida em que ela dizia não a alguma coisa. Na ocasião seguinte, o câncer estava ainda menor e eu voltei a fazer a pergunta. Toda sorrisos, ela explicou:
- No dia em que meu marido, um alcoólatra, pintou o diabo, eu chamei a polícia. Ele me acusou de envergonhá-lo na frente dos vizinhos. Mas eu retruquei que estava com câncer e não aceitava mais o comportamento dele.
Na terceira visita, ela viu o quanto eu me interessava por ela e passamos a trabalhar em conjunto.
- É um trabalhão virar santa e me curar por mim mesma- queixou-se Thelma, em certa ocasião. - Por que não opera e remove o tumor? Eu vou colaborar, ficando boa.
Segundo ela me contou, na noite seguinte à cirurgia a enfermeira entrou no quarto, puxou a cortina e exclamou: - Conte o que sabe sobre o doutor Siegel!
- Que quer dizer isso? Parece que você pensa que ele me hipnotizou.
- Bem, a senhora sofreu uma mastectomia radical e, no entanto, consegue passear pela enfermaria, animando todos nós, sem sentir dores. Que foi que ele lhe fez?
- Partilhou tudo comigo. Nós tomamos uma decisão e, por isso, não tenho motivos para ficar deprimida ou sentir dores. É meu jeito de ficar bem.
Julie, uma estudante de direito com câncer mamário, sentia um medo horrível e sonhava que ia morrer durante a anestesia. Perguntou se eu podia operar com anestesia local. Foi a minha vez de falar:
- Eu sonhei que fiz a operação sob anestesia local e você ficou com um braço paralisado para sempre.
Era o sonho dela contra o meu! Uma gargalhada dupla quebrou a tensão. A moça entendeu minha preocupação e, depois de discutir um pouco mais o assunto, procedemos à mastectomia sob anestesia geral, sem complicações.
Tratava-se de um sonho medroso dela, e não de uma precognição; caso contrário, eu jamais o desmontaria com uma brincadeira. Se alguém tivesse um sonho que, para mim, predizia sua morte, eu não operaria. Certa paciente sonhou que sua lápide sepulcral tinha gravada a expressão "Quinta-Feira" - e transferimos a operação para outro dia.
Após a cirurgia de Julie, participei de um seminário numa cidade próxima e, em certa altura, uma voz familiar se levantou no auditório. Era ela. Corri para saber que diabo estava fazendo ali.
- Não se preocupe - disse ela. - Todos os tubos estão debaixo do vestido. Eu não sentia dores, queria sair, e as enfermeiras me reconheceram como "outra doente do doutor Siegel". Um colega seu assinou a alta.
É o relacionamento que possibilita resultados assim. É compartilhar e cuidar, trabalhar pelas pessoas, e não para elas. Precisamos agir como instrumentos e, se assim for, os pacientes motivados servem-se de nós para realizar milagres. Outra de minhas pacientes, Page Coulter, captou muito bem, num poema intitulado Restauração, em que medida podemos alterar a reação do paciente ao tratamento. O próprio título traduz a diferença entre uma abordagem de cooperação e a típica atitude médica de "assalto'; "mutilação", "insulto" ao organismo humano a fim de curá-lo. Depois de revelar como seus receios foram acalmados por um anestesiologista suave e cortês, ela continua:
Podíamos justificar a necessidade do amor ou despetalar o botão de uma tulipa. Quem quer saber? Tentamos esticar o corpo para apanhar a chuva Ou a precipitação radioativa ou a escuridão, algo que caia do espaço aberto. Em vez disso, no entanto, ouço o cirurgião entoando a "Canção do Deserto". E sinto que ele rasga e puxa gentilmente, como se fosse meu pai Empalhando cadeiras ou minha mãe costurando bolsos em meu vestido de noiva.
A Doença e a Mente
Quase todos nós somos obrigados a viver uma vida de constante e sistemática duplicidade. A saúde tende a ser afetada se, dia após dia, dizemos o contrário do que sentimos, se rastejamos diante daquilo que detestamos e se nos rejubilamos ante aquilo que não nos traz senão infortúnio. O sistema nervoso não é obra de ficção, faz parte do organismo, assim como a alma existe no espaço e está dentro de nós, tal como os dentes dentro da boca. Ela não pode ser impunemente violada para sempre.
BORIS PASTERNAK - Doutor Jivago
A medicina tecnológica negligencia a relação mente-corpo, mas isso não passa de uma aberração à vista de toda a história da arte de curar. Na medicina tribal e na prática ocidental (desde o começo na obra de Hipócrates), sempre se reconheceu a necessidade de agir por meio da mente do enfermo. Até o século 19, os autores de obras de medicina raramente deixavam de notar a influência dos desgostos, do desespero ou do desânimo no desencadear das doenças. E tampouco ignoravam os efeitos curativos da fé, da confiança e da paz de espírito. O contentamento sempre foi tido como uma condição para gozar boa saúde.
Contudo, o médico moderno conquistou tanto poder sobre certas doenças, graças aos produtos farmacêuticos, que se esqueceu do potencial de força que há dentro do paciente. Falando sobre a leitura do diário de um tio também médico, um velho colega meu contou que, nos primeiros anos, o tio sempre anotava o que acontecia com o indivíduo e com a comunidade antes de uma doença ou epidemia. Porém, à medida, que a medicina foi se desenvolvendo tecnologicamente, essa parte da história foi se tornando cada vez menos importante para ele e acabou por ser omitida de todo. A consciência da força do espírito perdeu-se quando a medicina jogou fora todos os dados "amenos", as informações que não são facilmente quantificáveis.

O efeito que a mente exerce sobre a saúde é, em parte, direto e consciente. Nosso grau de amor-próprio determina se nos alimentamos corretamente, se dormimos o suficiente, se fumamos, se usamos cinto de segurança no automóvel, se praticamos exercícios, e assim por diante. Cada uma dessas opções traduz o quanto amamos a vida, pois controlamos 90 por cento dos fatores que condicionam nosso estado de saúde. O problema reside em que, na maioria das pessoas, a motivação para atender a essas decisões básicas é desviada por atitudes ocultas da percepção cotidiana. Por isso, muitos costumam ter intenções conflitantes.
Consideremos o caso de Sara, uma senhora que me procurou há poucos anos, com câncer no seio; Sara estava fumando no momento em que entrei em seu quarto. O ato de fumar significava, evidentemente, que ela queria que eu a livrasse do tumor, mas que nutria sentimentos ambivalentes sobre a vida e se arriscaria a ter outro câncer. Olhou para o alto, acanhada, e disse: - Suponho que o senhor vai me dizer que pare de fumar.
- Não - respondi. - Vou lhe dizer que tenha amor-próprio. Aí a senhora pára. Ela refletiu por instantes e replicou: - Ora, eu tenho amor-próprio. Apenas não me adoro. Ultimamente, Sara já se adora e parou de fumar. A frase foi boa e veio exemplificar um problema da maior importância: o amor-próprio passou a significar vaidade e narcisismo. O orgulho e a vontade de respeitar nossas próprias necessidades perderam o sentido. Seja como for, gostar de nós mesmos, de maneira franca e positiva, continua a ser fundamental para a saúde, constituindo a base essencial que o paciente deve construir para ser especial. Não é pecado ter auto-estima e amor-próprio, fatores que transformam a vida numa alegria.
A mente, no entanto, não age apenas por meio de opções conscientes. Muitas vezes, seus efeitos incidem diretamente sobre os tecidos do organismo, sem conhecimento de nossa parte. Pensemos em algumas expressões corriqueiras: "Esse sujeito é uma dor de cabeça"; "Larga do meu pé"; "O caso está estraçalhando meu coração". O corpo responde às mensagens mentais, conscientes ou inconscientes. Em geral, as mensagens dizem "viva" ou "morra". Estou convencido de que não temos só mecanismos de sobrevivência, a exemplo da reação luta-oufuga, mas também um mecanismo que diz "morra". E consegue realmente bloquear nossas defesas, reduzindo as funções orgânicas e encaminhando-nos para a morte, quando sentimos que a vida já não vale a pena.
Cada tecido e cada órgão do corpo é controlado por uma complexa interação entre substâncias químicas que circulam pela corrente sanguínea, os hormônios segregados pelas glândulas endócrinas. Esse amálgama obedece à "glândula mestre", a hipófise, localizada no meio da cabeça, exatamente abaixo do cérebro. Por sua vez, a produção de hormônios pela hipófise é controlada tanto por secreções químicas como por impulsos nervosos da região vizinha ao cérebro, o hipotálamo. Esta pequenina área regula a maior parte dos processos de vida inconsciente do organismo, como os batimentos cardíacos, a respiração, a tensão arterial, a temperatura e outros.
As fibras nervosas penetram no hipotálamo vindas de quase todas as regiões do cérebro, de modo que os processos intelectuais e emocionais que se passam em toda e qualquer parte do cérebro afetam o corpo. Há alguns anos, a pesquisa voltada para o crescimento das crianças descobriu o "nanismo psicossocial", terrível síndrome em que um clima emocional patológico no meio familiar atinge o desenvolvimento físico. Quando a criança se vê numa encruzilhada de hostilidade e se sente rejeitada pelos pais, crescendo, portanto, com pouco amor-próprio, o centro emocional do cérebro - o sistema límbico - atua sobre o hipotálamo e desliga a produção do hormônio do crescimento.
O sistema imunológico consiste em mais de uma dezena de tipos de glóbulos brancos (leucócitos) concentrados no baço, no timo e nos gânglios linfáticos. Eles vigiam todo o organismo por meio dos sistemas sanguíneo e linfático. Um grupo desses glóbulos brancos, as células B, produz substâncias químicas que neutralizam os venenos secretados por organismos patológicos, ao mesmo tempo que ajudam o corpo a mobilizar suas próprias defesas. O outro grupo é formado pelas células T, que destroem as bactérias e os vírus invasores do organismo.
Recentes pesquisas revelaram nervos até agora desconhecidos que ligam diretamente o timo e o baço ao hipotálamo. Outro trabalho provou que os leucócitos reagem diretamente a algumas das mesmas substâncias químicas que transmitem mensagens de uma célula nervosa para outra.
As evidências anatômicas segando as quais o cérebro comanda diretamente o sistema imunológico foram confirmadas por pesquisas em animais. Dois grupos independentes de cientistas utilizaram técnicas pavlovianas de condicionamento com o objetivo de alterar a reação imunológica. No Centro Médico da Universidade de Rochester, o psiquiatra Robert Ader e o imunologista Nicholas Cohen ministraram em ratos, repetidas vezes, água adoçada com sacarina, junto com uma droga imunodepressora. Depois, conseguiram "ludibriar" os ratos, quando suprimiram suas reações imunológicas dando-lhes apenas água adoçada. O dr. Novera Herbert Spector também condicionou ratos a aumentarem as reações imunológicas expondo-os ao cheiro de cânfora.
Em poucas palavras, o sistema imunológico é controlado pelo cérebro, de forma indireta, por meio dos hormônios existentes na corrente sanguínea, ou de maneira direta, pelos nervos e por neuroquímicos. Segundo uma explicação do câncer amplamente difundida (a teoria da "vigilância"), as células cancerosas nunca deixam de se desenvolver no corpo humano, mas são normalmente destruídas pelos leucócitos, antes que se transformem em perigosos tumores. O câncer surge quando o sistema imunológico é suprimido e já não consegue enfrentar a ameaça rotineira. Segue-se que tudo que fuja ao controle do sistema imunológico realizado pelo cérebro conduz ao estado maligno.
Fundamentalmente, a ruptura ocorre em função da síndrome de tensão crônica. Hans
Selye foi o primeiro a descrevê-la, em 1936. A composição dos hormônios liberados pelas glândulas supra-renais em conseqüência da reação luta-ou-fuga suprime o sistema imunológico. O sistema era perfeito para se haver com as ameaças ocasionais que as feras obrigavam nossos antepassados a enfrentar. Mas, se a ansiedade da vida moderna torna contínua a reação às tensões, os hormônios reduzem a resistência à doença, chegando a ponto de destruir os gânglios linfáticos. Além disso, temos hoje provas experimentais de que as "emoções passivas", como os desgostos, o sentimento de fracasso, bem como a cólera reprimida, levam à secreção excessiva desses mesmos hormônios, o que invalida o sistema imunológico. Ainda não se sabe bem de que forma a composição química do cérebro se relaciona com as emoções e os pensamentos, mas nosso estado de espírito tem um efeito imediato e direto sobre o estado físico: podemos interferir no corpo examinando como nos sentimos. Se lutarmos contra a dor e procurarmos ajuda, a mensagem é "viver é difícil mas desejável", caso em que o sistema imunológico entra em ação para nos manter vivos.
Por isso mesmo, costumo lançar mão de dois grandes recursos para alterar o estado físico: emoções e imaginação. Representam as duas formas de fazer entrar em comunicação mútua a mente e o corpo. As emoções e as palavras dão a saber ao corpo aquilo que dele esperamos, e, imaginando certas mudanças, contribuímos para que o organismo as produza. Evidentemente, a transmissão das emoções e das coisas imaginadas se faz pelo sistema nervoso central e talvez guarde relação com o trabalho realizado pelo cirurgião ortopédico e pesquisador Robert Becker.
Estudioso dos sistemas elétricos do corpo humano, Becker começou a empregar a eletricidade para a redução de fraturas que não se consolidavam. Verificou que os pacientes hipnotizados são capazes de produzir alterações da voltagem em determinadas áreas do corpo, se lhes derem ordem para isso. Se a voltagem controla os processos químicos e celulares de cura, como ele acredita, não demorará muito para que tenhamos uma explicação científica das curas por hipnotismo e do efeito placebo. Por exemplo, todos sabemos que uma pessoa hipnotizada consegue eliminar suas próprias verrugas. Vejamos a seguinte passagem de The Medusa and the Snail (A Medusa e o Caracol), de Lewis Thomas:
Não podemos ficar sentados, sob hipnose, recebendo sugestões e fazendo com que elas atuem com acuidade e precisão, sem admitir a existência de algo muito parecido com um regulador. Ele não conseguiria iludir todo o intricado sistema dos centros inferiores se não transmitisse ao mesmo tempo uma série de especificações, perfeitamente detalhadas, por via cerebral.
Uma ou outra inteligência sabe como eliminar as verrugas, o que é um pensamento inquietante.
Aí está, igualmente, um problema assombroso à espera de solução. Basta pensar quanta coisa saberíamos se tivéssemos noção clara do que se passa quando uma verruga desaparece por hipnotismo. [...] Tomaríamos conhecimento de uma espécie de superinteligência que existe em cada um de nós, infinitamente mais engenhosa e dotada de capacidade técnica do que se imagina atualmente. Valeria uma Guerra às Verrugas, a Conquista das Verrugas, um Instituto Nacional de Verrugas e tudo o mais.
É possível que a bioeletricidade um dia nos permita conhecer diretamente esse "regulador", saber, com exatidão, de que forma e por que motivo se dá por vezes a remissão de tumores, quando os pacientes se convencem de que um tratamento heterodoxo - hipnotismo, dieta, orações, meditação - será eficaz. Conforme uma carta que Becker me enviou, "o efeito placebo não só é verdadeiro como tem grande importância, e os métodos que você aplica talvez sejam mais eficientes do que imagina".
Cheguemos ou não um dia a dominar todos os processos curativos com estímulos elétricos, nenhum paciente está condenado a esperar, inerme, por socorros artificiais. Eles são capazes de se curar sozinhos e de se manter com saúde. Se eu conseguir ensinar uma pessoa a ficar de bem com a vida, a sentir amor por si mesma e pelos outros, a alcançar a paz de espírito, é possível que se verifiquem as necessárias mudanças. Meu carinho e meus abraços talvez pareçam uma tolice, na enfermaria, mas eles têm base científica. O problema reside em que nós ainda não conhecemos as técnicas necessárias para desencadear, com rapidez e eficiência, o processo de cura em todos os doentes. Por isso, muitas mudanças se dão no nível do inconsciente, e é difícil avaliá-las clinicamente, sem cuidadosos testes psicológicos. Espero pelo momento em que possamos receitar algo como "um abraço de três em três horas", em vez de um remédio ou de um impulso elétrico. Mas, por enquanto, temos de voltar a atenção para a capacidade que a mente tem para fazer mal, prelúdio para a descoberta de um antídoto.
Costuma-se dizer que a tensão é um dos elementos mais destruidores da vida diária, mas trata-se de meia verdade. Mais importante que a própria tensão parece ser a maneira como reagimos a ela. É o que se depreende da experiência de Hans Selye, o cientista que desenvolveu todo o conceito de tensão e de seus efeitos sobre o corpo.
Aos 65 anos de idade, foi diagnosticado em Selye um tipo de câncer cujo índice de cura é baixíssimo. Razão, talvez, para a tensão das tensões. Mas Selye reagiu de forma especial:
não. Aí, sucedeu algo estranho. Passou-se um ano, passaram-se dois, logo mais trêsE
Estava certo de que ia morrer, de modo que disse a mim mesmo: "Muito bem, esta é a pior coisa que podia lhe acontecer, mas há duas maneiras de encarar a situação: ou você anda por aí como um miserável candidato à pena, choramingando durante um ano, ou você aproveita o máximo da vida restante". Escolhi a segunda hipótese, porque sou um lutador e o câncer me propunha a maior luta da vida. Tomei a doença como uma experiência natural, que me empurrava para a prova final, a de saber se eu estava certo ou veja o que aconteceu: eu era uma feliz exceção.
Depois disso, fiz um esforço especial para reduzir o nível de minha tensão. Quero ter o maior cuidado no que digo aqui, uma vez que sou um cientista e não há estatísticas que permitam afirmar que a tensão está relacionada com o câncer. Além de suas causas genéticas e ambientais, posso apenas dizer que a presumível relação é muito complexa. Exatamente como a eletricidade tanto pode gerar calor como impedi-lo, dependendo de como as coisas são ponderadas, a tensão pode desencadear e impedir a doença.
Já se descreveu o câncer como uma doença que permite ao organismo rejeitar a si mesmo. Ora, levando a hipótese um pouco mais longe: será que, quando rejeitam drasticamente suas necessidades básicas, as pessoas ficam mais inclinadas a desenvolver câncer? Se alguém rejeita suas próprias necessidades, é possível que seu corpo se rebele e se rejeite? Não digo que sim nem que não. Sou cientista, e não filósofo. Tudo o que posso dizer, como cientista, é que a grande maioria das doenças físicas tem, em parte, alguma origem psicossomática.
As evidências acumuladas desde que o dr. Selye escreveu estas palavras comprovam sua extrema cautela. A instalação e o curso da doença estão vinculados à nossa capacidade e disposição de enfrentar a tensão. As tensões que nós escolhemos suscitam uma reação diferente daquelas que gostaríamos de evitar e não conseguimos. A sensação de desamparo é pior que a tensão, razão pela qual, provavelmente, a incidência de câncer é maior entre os negros americanos que entre os brancos da mesma nacionalidade. A doença associa-se ao desgosto e à depressão. As pessoas com maior tendência a morrer de ataques cardíacos não são os ativos dirigentes executivos; ao contrário, são os indivíduos dirigidos, os subalternos e operários industriais desprovidos de autonomia e cuja vida encurtada empresta novo significado à expressão "tédio mortal".
A interpretação da tensão é sempre ilusória para o observador externo, pois as mesmas circunstâncias podem ser nocivas para um e neutras ou até benéficas para outro. Jerome Frank, psiquiatra da Universidade Johns Hopkins, nota que "a tensão provém sobretudo de como o paciente interpreta os acontecimentos". Segundo seu extenso estudo do tema, experiências vitais que ao observador objetivo pareciam benignas eram consideradas, pelos pacientes, estressantes e associadas a doenças. De modo inverso, as tensões que se afiguravam horrendas ao observador - tais como pobreza, luto, alcoolismo na família - não eram normalmente associadas a doenças se os pacientes não se referissem a elas como causas de tensão.
A situação é mais verdadeira no caso de crianças. É comum os adultos pensarem que as crianças são felizes, quando elas estão sendo efetivamente traumatizadas pelos acontecimentos, ainda que não o demonstrem. Sabe-se de crianças que se suicidam por ter notas baixas na escola, por haver internalizado as expectativas dos pais ou por reação a um comentário que as levou a pensar que não eram amadas.
O espírito científico, no entanto, raramente se deixa convencer pelos estudos psicológicos sobre os seres humanos, pois são muitas as variáveis para que um pesquisador as controle por completo. Por outro lado, experimentos com animais proporcionam provas concluentes. Em meados da década de 70, o falecido Vernon Riley completou na Fundação de Pesquisa do Pacífico Noroeste, de Seattle, uma série exaustiva de experiências com uma variedade de ratos criada para ter suscetibilidade ao câncer da mama. Criando alguns em ambiente fechado, livre de tensões, e outros em ambiente carregado de tensões, apurou índices de câncer que variavam de 7 a 92 por cento.
Certa experiência realizada em 1981 por uma equipe de psicólogos - Madelon Visintainer e dois colaboradores - demonstrou a tese com uma melhor simulação da experiência humana. Três grupos de ratos receberam injeções de células tumorais vivas. Decorrido um dia, submeteram dois desses grupos a choques elétricos. A tensão foi conduzida de forma que um grupo não podia fugir a ela, ao passo que os outros. ratos eram avisados por um sinal para que escapassem, pulando uma barreira. Dos ratos impotentes, sem saída, 73 por cento desenvolveram câncer, em comparação com 37 por cento, apenas, do outro grupo.
O nível de tensão é determinado, em parte, pela sociedade. As culturas que atribuem supremo valor à mescla de individualismo e competição são as que geram mais tensões. As que se diria produzirem menos tensões e acusarem os menores índices de câncer são as comunidades estreitamente unidas, nas quais constituem norma as relações de apoio e de afeto e os velhos conservam papel ativo. A fé religiosa e uma atitude inteiramente franca e aberta para com a sexualidade são outras características comuns às sociedades em que a incidência de câncer é reduzida.
Estão aí algumas circunstâncias favoráveis à longevidade. A Geórgia, na União Soviética, o vale do Hunza, as comunidades mórmons dos Estados Unidos e as aldeias dos abujmarhia, do centro da Índia, são excelentes exemplos. Os nativos desta tribo respiram um ar despoluído, só comem alimentos inteiramente naturais, praticam o sexo pré-marital copiosamente na primeira adolescência, durante o dia trabalham nos campos sem canseiras (embora se esforcem de vez em quando), à noite dançam e contam histórias, descansando à vontade em seguida. Entre eles, o câncer é inteiramente desconhecido.
Note-se que essas sociedades não gastam tempo nem esforços para ajudar bebês malformados a sobreviver, de modo que os fatores físicos determinados pela seleção natural também influenciam as taxas de morbidade. No entanto, as circunstâncias exteriores não explicam tudo. A pureza do meio ambiente e a morte por defeitos genéticos ainda prevalecem em outras regiões sub-desenvolvidas, mas o câncer é mais comum nas tribos que se envolvem regularmente em guerras do que naquelas que vivem em paz.
A segurança de uma existência rotineira parece também contribuir para a limitação das doenças graves. As sociedades intimamente estruturadas, nas quais todos sabem o que se espera deles, ainda que o desvio da norma não seja tolerado - por exemplo, mórmons, adventistas do sétimo dia e menoritas, nos Estados Unidos -, registram taxas de morbidade inferiores às da sociedade mais aberta que as cerca. Quando se abandona o claustro por uma vida onde há mais desconhecidos, a taxa de morbidade acompanha a da cultura em que se ingressa.
Numa sociedade como a americana, a reação à tensão é exclusivamente da personalidade individual, que tem de aprender a se desligar das pressões exteriores. O dr. Herbert Benson, da Faculdade de Medicina de Harvard, comprovou que a capacidade de manter uma taxa saudável de colesterol está diretamente relacionada à capacidade de lidar com a tensão por meio do relaxamento. Com meditação e exercício, podemos ensinar os dirigentes ativos, orientados para o sucesso, a evitar ataques cardíacos sem perder o comportamento característico. Pesquisas sobre pessoas que meditam regularmente mostram que a idade fisiológica delas é muito inferior à cronológica. Mas são técnicas que não geram nenhum benefício se não houver motivação para usá-las. O primeiro requisito é fazer com que as pessoas se amem o bastante para cuidar do corpo e da mente.
A tensão é mensurável. Um dos padrões de medida, desenvolvido pelo dr. Thomas
Holmes e pelo dr. Richard Rahe, tem uma lista de 43 situações de tensão para avaliar a probabilidade de uma pessoa ficar doente. A avaliação começa pela história da recente vida emotiva da pessoa, atribui certo número de "pontos" a cada crise da vida, como mudar de emprego ou perder um, a partida dos filhos para a faculdade, o casamento ou o divórcio, a mudança para outra casa, e assim por diante.
O valor mais alto, 100 pontos, é dado à perda mais sofrida, a morte do marido ou da mulher. A esse acontecimento traumático costuma seguir-se o câncer ou outra doença catastrófica dentro de um ou dois anos. Estudos recentes confirmam que cônjuges enlutados ficam com o sistema imunológico deprimido por mais de um ano. Outras pesquisas demonstraram que todas as tensões não dominadas dentro de um dia diminuem a eficiência das células que combatem a doença.
Provas atualíssimas indicam que o divórcio pode ser mais devastador ainda, pois é difícil aceitar que realmente o afeto acabou. Pessoas divorciadas acusam índices mais elevados de câncer, doenças cardíacas, pneumonias, pressão arterial e morte por acidentes do que as casadas, solteiras ou viúvas. Aliás, os homens casados registram um terço da incidência de câncer dos solteiros, incidência que se equivale mesmo que fumem três vezes mais que os solteiros.
Os fracassos profissionais também costumam produzir doenças malignas. As derrotas de
Napoleão Bonaparte, Ulysses S. Grant, William Howard Taft e Hubert Humphrey, segundo muitas versões, influíram em seu estado canceroso.
Um dos argumentos daqueles que não acreditam na ação dos fatores mentais no câncer reside em que o período de latência é muito demorado para que a mente desempenhe um papel no carcinoma infantil. Hoje, porém, há provas em contrário. Uma pesquisa realizada na Faculdade de Medicina Albert Einstein, no Bronx, concluiu que as crianças cancerosas haviam tido, recentemente, o dobro das crises que outras crianças em igual situação, salvo por não terem a doença. Outra pesquisa demonstrou que 31 das 3 crianças com leucemia haviam sofrido perda ou mudança traumática no espaço de dois anos antes do diagnóstico. Os psicólogos compreendem, hoje em dia, que as crianças são muito mais perceptivas do que se imaginava. E não me surpreenderia se o câncer na primeira infância guardasse um nexo com mensagens de conflito ou de desaprovação dos pais, percebidas ainda no útero. Não digo isto para culpar ninguém, mas para nos dar mais consciência de nossa participação no processo de cura.
Ao tratar dos problemas do câncer, portanto, não devemos esquecer os efeitos que essa crise pode exercer sobre a família e os amigos, sobretudo se o doente morre. Cabe ao médico ajudar abertamente os outros a enfrentar o medo e a dor, no intuito de prevenir novas doenças. Quando se faz frente à tensão e se compartilha o afeto, todos se beneficiam - tanto a família como o paciente.
Nem todos que sofrem uma perda trágica ou uma mudança inquietante no estilo de vida ficam doentes. O fator decisivo parece residir em como se enfrenta o problema. Geralmente, continuam a gozar de boa saúde aqueles que dão livre expansão a seus sentimentos mas depois prosseguem sua vida habitual. O marido de uma paciente minha quis saber o que eu lhe dissera, pois ela voltara para casa para vociferar por horas e horas contra vinte anos de casamento - quando ele pensava que tinham sido felizes. Expliquei que não tinha dito nada, mas que ela sabia estar com câncer e com certeza resolvera desabafar o ressentimento acumulado ao longo dos anos.
De fato, a raiva é uma emoção normal desde que a pessoa a manifeste quando a sente.
Caso contrário, ela se transforma em ressentimento ou mesmo em ódio, o que pode ser destruidor. Uma mulher que dissesse "Vou fazer esse casamento dar certo ou morrer tentando" na certa morreria tentando.
Se a pessoa se entrega à raiva ou ao desespero logo que se manifestam, a doença não ocorre obrigatoriamente. Mas, quando não encaramos as necessidades emocionais que sentimos, estamos criando a possibilidade de moléstias físicas. Temos de optar entre dizer aos vizinhos que precisamos consultar um psiquiatra ou que vamos ser operados. Não nos agrada dar a impressão de que estamos meio loucos, coisa muito diversa de contar que estamos ficando doentes.
Falando em termos simples, as pessoas felizes não adoecem. A atitude que tomamos para conosco é um dos mais importantes fatores da cura ou da saúde. Quem vive em paz consigo mesmo e com o ambiente tem menos doenças sérias.
Num dos mais completos estudos sobre o fator contentamento, o psiquiatra George
Vaillant acompanhou duzentas pessoas formadas pela Universidade de Harvard por trinta anos, correlacionando exames de saúde com testes psicológicos a cada ano. Comparando o grupo mais feliz com o mais infeliz, Vaillant comentou: "Dos 59 homens com a melhor saúde mental estudados dos 21 aos 46 anos, somente dois se tornaram doentes crônicos ou morreram por volta dos 53 anos. Dos 48 homens com a pior saúde mental estudados dos 21 aos 46 anos, dezoito se tornaram doentes crônicos ou morreram". Os que estavam muitíssimo satisfeitos com a vida que levavam acusavam um décimo do índice de doenças graves e de óbitos do grupo insatisfeito. Os resultados continuavam válidos mesmo eliminando estatisticamente os efeitos do álcool, do tabaco, da obesidade e da longevidade ancestral - ainda que a infelicidade possa contribuir para todas as variáveis, menos a última. A saúde mental, segundo concluiu Vaillant, protela a deterioração da saúde física na idade madura.
O denominador comum de todas as depressões é a falta de amor ou a perda do sentido da vida, ao menos como o percebe a pessoa deprimida. A doença passa então a funcionar como evasão de uma rotina que se tornou inexpressiva. Nesse sentido, seria o caso de classificá-la como uma forma ocidental de meditação.

Um dos precursores mais comuns do câncer, como eu dizia, é uma perda traumática ou um sentimento de vazio na vida. Quando uma salamandra perde um membro, cresce-lhe outro. De modo análogo, quando um ser humano sofre uma perda emocional que não consegue controlar adequadamente, muitas vezes o corpo reage desenvolvendo um neoplasma. Pode-se dizer que, se conseguirmos reagir à perda com um desenvolvimento pessoal, impedimos um desenvolvimento patológico dentro de nós. Da mesma forma, os pesquisadores descobriram que, desenvolvendo-se um câncer nas pernas ou na cauda da salamandra e amputando-se a parte onde o tumor se acha, nasce uma nova perna ou cauda e as células voltam ao normal. Sabemos que o corpo humano tenta curar algumas neoplasias, como o neuroblastoma, fazendo com que as células malignas se tornem normais ou atacandoas. Por isso, considero meu dever, na qualidade de médico, contribuir para que as pessoas desenvolvam um novo psiquismo, que lhes permita resistir à implantação indesejada e descontrolada da doença.
Se implanto um rim em alguém e ministro medicamentos que inibem o sistema imunológico do operado, o implante pega. Mais tarde, talvez se descubra que o rim transplantado continha um câncer, caso em que o órgão e o tumor prosperam. Se eu retirar os medicamentos que impedem a rejeição do implante, o rim será eliminado e, com ele, o câncer. Um sistema imunológico vigoroso é capaz de vencer o câncer, se não sofrer interferência - e o crescimento emocional no sentido de maior auto-aceitação e satisfação contribui para mantêlo vigoroso.
É comum verificar que os efeitos da depressão sobre o sistema imunológico se manifestam com muita rapidez quando perduram algumas seqüelas de uma doença anterior. Arnold, que sofrera de melanoma maligno em remissão por sete anos, apareceu um dia com uma recidiva no gânglio linfático da axila. Perguntei como lhe tinha corrido a vida no último semestre. Contou-me que ele mesmo tinha criado todos os filhos, já que a esposa sofria de uma doença mental. O filho mais novo, a quem era mais chegado, tinha acabado de se casar, deixando o lar. Arnold ficou tão deprimido com a saída do filho que chorou semanas a fio.
O desespero diminuiu-lhe a reação imunológica, permitindo que as células cancerosas residuais que estavam sob controle se multiplicassem de novo. Como parte do tratamento, reunimos os filhos dele e o resto da família, a fim de planejar novos interesses e atividades sociais e encontrar formas para que ficassem perto dele. Arnold compreendeu o perigo físico de mergulhar no desespero e na autocomiseração. Começou a participar do processo de cura aprendendo a lidar com os inevitáveis problemas emocionais de sua vida. Acabou morrendo da doença, mas o tempo em que resistiu foi repleto de felicidade, com o amor da família, de novos amigos e de uma namorada.
A depressão, segundo os psicólogos, geralmente envolve abandono ou renúncia. Sentindo que as condições atuais e as possibilidades futuras são intoleráveis, a pessoa deprimida "entra em greve", vivendo cada vez menos e perdendo o interesse por pessoas, trabalho, divertimentos e coisas assim. Esse tipo de depressão guarda forte nexo com o câncer. O dr. Bernard Fox, de Boston, concluiu que os homens deprimidos têm duas vezes mais probabilidades de sofrer de câncer do que os não-deprimidos. Um estudo sobre gêmeos idênticos, dos quais um em cada par tinha leucemia, demonstrou que o doente tinha ficado seriamente deprimido ou sofrera antes uma perda emocional, ao contrário dos sãos. Existe, porém, uma forma específica de depressão relacionada ainda mais de perto com a malignidade.
Os pacientes tipicamente deprimidos, ao abdicarem da atividade normal, estão pelo menos oferecendo certa reação ao que, para eles, é uma situação insuportável. A atitude, embora negativa, corresponde a uma tentativa de reação. No entanto, muita gente continua com sua rotina, exibindo um ar feliz, embora a vida tenha perdido todo e qualquer significado. Raras vezes essas pessoas recebem o diagnóstico de clinicamente deprimidas, pois conseguem continuar desempenhando suas atividades. O estado delas é o de "desespero contido": resignado e cortês por fora, mas todo raiva e frustração por dentro.
Sandy, uma cancerosa, escreveu-me extensa carta explicando como ficara condicionada a ser "um capacho" durante quase toda a vida. Na adolescência, estudara canto e teatro em renomado grupo experimental. Quando saía do palco, inflamada de alegria, a mãe sempre lhe dizia:
- Muito bem. Continue ensaiando e pode ser que da próxima vez você faça melhor. Além disso, comentava, ao receber a caderneta escolar da filha: - Da próxima vez, veja se me traz só notas altas. Sandy tinha uma bela e voluptuosa figura, mas a mãe estava sempre proibindo-a de comer certos alimentos, pois "você está muito gorda". Ao chegar perto dos 20 anos, a moça mostrava uma autoconfiança tão baixa que só cantava no fundo do coro da igreja - e, pouco depois, nem sequer lá. Sandy casou logo depois de terminado o curso de segundo grau.
Não nos conhecemos até que já era tarde demais. Por ser católica, eu tinha de me esforçar para levar as coisas. Tivemos três filhos, com a distância de três anos entre cada um. Meu marido tinha dois empregos e eu trabalhava como faxineira diarista sempre que me era possível. Minha mãe vinha todos os dias "para ver as crianças" e estava sempre lembrando que ninguém me contrataria porque eu era muito gorda e, além disso, o que eu sabia fazer para ganhar dinheiro? Se eu respondia que tinha experiência como secretária de um escritório de advocacia, ela eliminava a hipótese dizendo: "É, mas você não pode trabalhar até as crianças irem para a escola. Eu não posso tomar conta delas, pois dão muito trabalho. E proíbo que deixe estranhos cuidando de meus netos".
Sandy andava sempre doente e a mãe a azucriná-la, queixando-se de como estava cansada e de como a filha não reconhecia o que tinha feito por ela. O marido começou a ficar fora todas as noites e a voltar para casa embriagado e agressivo. Ela quis se divorciar. A reação dele foi colocar toda a família no carro. Chegou perto de um precipício e ameaçou acelerar ribanceira abaixo se ela não prometesse que jamais voltaria a falar em deixá-lo. Ela prometeu e respeitou a promessa.
Embora procurasse manter as aparências, Sandy decidiu, no nível do inconsciente, adoecer. Desenvolveu flebite e permanecia sempre de cama, não tendo nenhuma relação com o marido. Depois da morte dele, num acidente de trânsito, a flebite desapareceu em questão de dias. Posteriormente, no decurso de um segundo casamento, no qual voltou a assumir um papel subalterno, apareceu o carcinoma da mama. Foi então que ela reorientou sua vida - e hoje está bem.
Durante mais de duas décadas de pesquisas sobre os aspectos mentais do câncer, o psicólogo experimental Lawrence LeShan conduziu estudos de personalidade de 455 pessoas cancerosas e terapia em profundidade de 71 casos "terminais". Descobriu que a situação de desespero (classificação dada para distingui-la da forma de depressão comumente mais reconhecida) existia antes da doença, segundo revelaram 68 dos 71 doentes de câncer em tratamento. De outros 8 pacientes não-cancerosos, somente três revelaram ter estado em situação de desespero. No livro The Will to Live (A Vontade de Viver), Arnold Hutschnecker diz que "a depressão é uma capitulação parcial diante da morte e há indícios de que o câncer é o desespero sentido no nível das células".
A relação entre câncer e emoção contida foi colocada em bases científicas há mais de trinta anos, quando o endocrinologista D. M. Kissen estudou um grupo de fumantes, comparando os que tinham câncer nos pulmões com os que tinham outras doenças. Com base em testes de personalidade, descobriu que os doentes de câncer tinham "válvulas de descarga emocional" mais fracas, e concluiu que, quanto mais reprimida a pessoa, menos cigarros era preciso fumar para provocar o câncer.
Mogens Jensen, do departamento de psicologia da Universidade de Yale, demonstrou em seu trabalho com mulheres que sofrem de câncer no seio que as "reprimidas-defensivas" morrem mais depressa que as dotadas de uma perspectiva mais realista. Por "reprimidasdefensivas" ele entende as sorridentes, as que não aceitam o desespero, as que se dizem "ótimas", embora estejam com câncer, os maridos as tenham abandonado e os filhos sejam viciados em drogas. Para Jensen, semelhante comportamento "desorienta" e esgota o sistema imunológico, que fica confuso com a mistura de mensagens.
Por isso, quando alguém me diz que está bem, trato de saber se é verdade ou encenação.
Devemos ter cuidado ao avaliar um paciente para o qual o câncer não produz tensão. Talvez não produza por representar uma solução para os problemas da vida. Se a pessoa é capaz de enfrentar a doença com paz de espírito e não com medo, ela vira uma tensão de desafio e não uma tensão puramente destruidora. As perspectivas serão diferentes e não será possível interpretá-las com exatidão a menos que as atitudes sejam cuidadosamente avaliadas em testes psicológicos.
Jensen notou que os doentes com imaginação ou devaneios constantemente positivos, por negarem a doença ou a possibilidade da morte, tinham fracas probabilidades de sobrevivência. As técnicas imaginárias não funcionam com pessoas negativas, porque elas não conseguem aceitar o câncer e, portanto, não participarão efetivamente da luta contra ele. Em desenhos, os repressivos-defensivos se retratam com sorrisos rasgados, revelando a doença fora de seu corpo, em outra página, ou então representando o corpo com ilustrações saudáveis tiradas de revistas. - Não desenho bem. Por isso, pedi a meu filho, que tem 10 anos, para fazer o retrato - disse-me uma mulher com tais características de personalidade.
Mais tarde, depois de eu lhe perguntar como é que ela esperava superar o câncer se nem mesmo tinha coragem para fazer um retrato, ela resolveu desenhá-lo pessoalmente.
O psiquiatra George Engel concluiu que, em geral, o fator mais importante para que a situação de desespero se estabeleça é uma alteração no meio ambiente a respeito da qual o enfermo sinta-se impotente, como se as coisas fossem irremediáveis, não tivessem solução. É comum que a morte súbita sobrevenha a tais alterações, como sucede quando o marido ou a mulher morre aos 50 anos e o cônjuge sobrevivente tem um ataque e morre dez minutos depois.
Homens e mulheres estão igualmente sujeitos à desesperança, mas, em face dos papéis divergentes que lhes cabem, a situação que a desencadeia muitas vezes varia. É típico dos homens adoecerem quando perdem um emprego ou se aposentam, já que, por tradição, eles se identificam mais arraigadamente do que as mulheres com sua profissão. Meu pai, por exemplo, teve câncer no pulmão pouco depois de se aposentar. Foi-lhe difícil admitir o sentido da aposentadoria. Felizmente, após a cirurgia, pôde levar uma vida plena, e já se passaram mais de doze anos sem qualquer recidiva.
Em geral, os homens são mais prontos a manifestar irritação, enquanto as mulheres tendem a ocultá-la e a ficar deprimidas. No caso delas, a alteração geralmente acontece em casa, sob a forma de divórcio ou do crescimento e saída dos filhos. Disse-me uma paciente:
- Fiquei com um vazio dentro de mim, quando meus filhos saíram de casa, e o câncer surgiu para preenchê-lo.
A causa pode ser simplesmente uma insatisfação gradativa com o papel de dona de casa, se nele a mulher não se realiza. Não se trata do papel em si, mas da idéia de prisão. O câncer é 54 por cento mais comum em donas de casa que na população em geral e 157 por cento mais comum que nas mulheres que trabalham fora. Quando esses resultados foram publicados pela primeira vez, pelo dr. William Morton, da Universidade do Oregon, vários pesquisadores concluíram que existia uma substância carcinogênica na cozinha, gastando muito tempo à procura dela. Ora, pode ser que haja, mas o fato é que outra pesquisa veio revelar que as empregadas domésticas ficam menos doentes de câncer que as donas de casa, apesar de trabalharem em duas cozinhas. Não obstante, os fundos de pesquisa continuam, na maioria, destinados à procura de causas químicas. Pouco se tem refletido na possibilidade de o alto risco das donas de casa se dever a elas se sentirem presas, assim como de não estarem vivendo a vida que queriam, mas sim representando.
Na balada Miss Gee, W. H. Auden exprime com agudeza o nexo entre doença e uma existência frustrada e sem amor:
Ela foi pedalando até o médico, E tocou a sineta do consultório.
"Oh, doutor, tenho uma dor aqui dentro E não me sinto nada bem."
O doutor Thomas olhou bem para ela, E depois lhe lançou ainda outro olhar.
Então, enquanto lavava as mãos, Disse: "Por que não veio antes?".
Mais tarde, já servido o jantar, Com a mesa ainda por limpar,
Fazendo bolinhas de pão, Disse à esposa: "O câncer é engraçado.
"Ninguém sabe sua causa,
Mas alguns acham que sabem. É como um assassino oculto À espreita para atacar.
"Ataca as mulheres sem filhos,
E os homens quando se aposentam, Como se precisassem de uma válvula Para seu fogo criador frustrado".
Certo psiquiatra me disse um dia que "nem tudo que soa bem é verdade", mas prefiro aderir à concepção de Lawrence LeShan: antes de se lançar a uma pesquisa, ele faz um levantamento para ver se algum poeta ou artista já exprimiu as mesmas idéias. Em caso afirmativo, segue em frente, convencido de estar no caminho correto.
Falta de saída ou escape emocional é uma noção comum na história de cancerosos. Talvez seja por isso que a doença é mais freqüente em conventos que em prisões: na cadeia, podemos pelo menos dar vazão a nossas frustrações. Um dos pacientes de LeShan era o antigo chefe de uma quadrilha de menores. Ele contraiu a doença de Hodgkin depois de terminada uma vida excitante, rodeada de comparsas e de perigos. A quadrilha atingiu a idade adulta e se desfez. O rapaz achava a nova vida aborrecida e não reagia ao tratamento. Já que a situação estava esclarecida, LeShan estimulou-o a entrar para o Corpo de Bombeiros, o que o devolveu ao másculo ambiente de camaradagem e de perigo. O organismo não tardou a reagir e a doença retrocedeu.
Até certo ponto, o câncer não é uma doença original, mas sim uma reação parcial a uma série de circunstâncias que enfraquecem as defesas orgânicas. É por essa razão que, se o médico cura o câncer ou outra doença qualquer, sem a certeza de que o tratamento visa à vida do paciente como um todo, nova doença pode surgir. Desde que todos estamos sujeitos a alterações externas, um tratamento, para ser verdadeiramente eficaz, deve fazer com que o doente se habilite a uma vida descontraída e feliz, apesar das tensões. O processo nunca se completa, mas é o único benéfico ao organismo humano. Ninguém precisa ser um santo para se curar. O esforço de trabalhar pela santidade é que traz resultados. Conforme diz Richard Bach, autor de Fernão Capelo Gaivota:
Eis aqui uma prova para descobrir se nossa missão na Terra está cumprida: se continuamos vivos, não está.
Na juventude, minha mãe sofreu de uma forma grave de hipertireoidismo, pelo que pesava cerca de 40 quilos. Por outro lado, vivia ansiosa por ter um filho. Consultou vários obstetras, mas todos repetiam que seu organismo não suportaria o esforço. Ela poderia morrer, se engravidasse. Os anos foram se passando e seu estado não melhorava; então, ela e meu pai decidiram que valia a pena correr o risco de ter um bebê. A partir daí, ela se tornou uma paciente especial: começou a compartilhar as esperanças e os receios com os médicos, dialogando com eles tanto no nível emocional como no intelectual.
Por fim, minha mãe encontrou um obstetra disposto a ajudá-la naquele transe. Para que a gravidez fosse normal, porém, ela precisava engordar pelo menos 13 quilos. E para isso contou com uma colaboradora fantástica: uma mãe judia. Minha avó levou a filha para casa, obrigou-a a ficar deitada e deu-lhe de comer sem parar por três meses seguidos. Minha mãe adquiriu o peso necessário e engravidou, tendo depois um filho saudável. O hipertireoidismo desapareceu após meu nascimento. O parto foi doloroso. No início, fiquei com as feições distorcidas, por causa do fórceps.
- Oh, que bebê mais
Quando me levava a passear no carrinho de bebê, mamãe sempre o cobria para me esconder. Os vizinhos paravam, levantavam o xale e começavam a elogiar: Mas logo viam que as palavras costumeiras não faziam sentido e iam embora, sem jeito.
Então, meus pais resolveram que eu ficaria em casa, para evitar o embaraço dos vizinhos. Não existem fotos de meus primeiros meses de vida. No entanto, minha avó passou tantas pomadas e fez tantas massagens em meu rosto que ele sarou, para alívio de minha mãe, que me dedicava um amor incondicional.
Assim recebi a mensagem de que era ainda mais amado que as crianças que vêm ao mundo, em circunstâncias normais. Eu podia contar com o apoio e o amor de meus pais, fossem quais fossem minhas opções. Estou inteiramente convencido de que o sentimento de apoio com que me criei me deu a certeza de poder ser o que quisesse, gerando em mim o desejo de dar e de curar.
Foram essas primeiras experiências que me condicionaram para ser um sobrevivente. Uma série de obstáculos surgiu em minha vida, mas sempre achei que poderia superá-los. Se os outros não me consideravam, sabia poder contar com a família e com o amor-próprio que ela me estimulou. Em certo sentido, foi uma desvantagem para mim como médico, pois eu não compreendia o que se passava na vida dos outros.
Para mim, a lição mais penosa foi a de que os doentes não são produto de tanto amor.
Penso mesmo que 80 por cento daqueles que passaram por mim não foram desejados ou receberam um tratamento indiferente, na infância. Até as cobaias de laboratório se tornam mais suscetíveis ao câncer quando separadas da mãe. O contrário sucede com as que são freqüentemente acarinhadas nos primeiros tempos de vida.
Que diferença há entre minha infância e a das crianças que ouvem coisas assim: "Nós queríamos um menino, e não uma menina", ou "Nós não queríamos mais filhos, mas seu pai estava bêbado e..."
Mensagens desse gênero causam um sentimento de desprezo que perdura pela vida inteira.
A doença é então algo que o paciente merece, tanto quanto o tratamento é imerecido. Será uma forma de satisfazer, enfim, o desejo dos pais - ou os de Deus, já que muita gente carrega um fardo de culpa de origem religiosa, sentindo a doença como penitência pelo pecado cometido. No fundo, acham que só morrendo podem ser bons ou receber amor.
Tive uma paciente de Nova York chamada Jan, atriz desde a adolescência. A mãe não deixava de lhe dizer que protegesse os seios, porque eram o elemento mais importante de sua aparência. Advertiu que a jovem não podia dormir de bruços e que tomasse cuidado para não os balançar quando dançava. Claro, Jan ficou com câncer nas mamas e não admitia a cirurgia. Tentou tudo o que o mercado oferecia em termos de tratamento.

Eu lhe disse que, se ela concentrasse sua incrível energia em uma ou duas opções e aprendesse a ter amor por si mesma, haveria grande chance de cura. A exemplo de tantos atores, porém, ela vivia acima de tudo esperando a aprovação dos outros.
- Não ouvindo aplausos - retrucou -, como saberei que sou digna de amor? Morreu da doença, desperdiçando energia enquanto esperava um milagre vindo de fora. Os milagres vêm de dentro. Você já deixou de ser uma criança desamada. Pode nascer de novo, rejeitando as antigas mensagens e suas respectivas doenças. Optando pelo amor, haverá dias em que não apreciará o que faz, mas aprenderá a se desculpar. Nós não conseguimos eliminar nossos defeitos até que nos aceitemos apesar deles. Saliento esse aspecto porque muitas pessoas, sobretudo as que correm alto risco de câncer, tendem a desculpar os outros e a se crucificar. Para mim, todos somos perfeitamente imperfeitos e acho que devemos nos aceitar dessa maneira. Como diz Elisabeth Kubler-Ross, "eu não estou ok, você não está ok, mas isso é ok".
Os capítulos que se seguem vão mostrar como se dá a reprogramação da personalidade, mas peço licença para apresentar aqui um pequeno exemplo extraído de minha experiência.

Fonte:http://www.ebah.com.br/content/ABAAAA8BEAC/amor-medicina-milagre?part=10



Siegel, Bernie S. - Amor, medicina e milagres: A cura espontânea de doentes graves, segundo a experiência de um famoso cirurgião norte-americano. São Paulo: Best Seller,
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1989.

O autor do livro em questão, Dr. Bernard S. Siegel (Figura 1), frequentou a Universidade de Colgate e a Faculdade de Medicina da Universidade de Cornell. É membro de duas sociedades escolásticas de honra, Phi Beta Kappa e Alpha Omega Alpha, e licenciou-se com distinção. A sua formação cirúrgica teve lugar no Hospital Yale New Haven e no Hospital Pediátrico de Pittsburgh. É cirurgião pediátrico e cirurgião geral em New Haven.
Fig. 1: Bernie Siegel
O livro divide-se em duas partes. Na primeira o autor trata da conscientização do corpo e na segunda, o autor descreve a importância de o corpo estar atento à mente. Para isso, Bernie Siegel destaca no livro as características dos pacientes que, face a doenças graves e terminais, encontram dentro de si o otimismo e a força capazes de interferir drasticamente em seu processo de cura, mudando o rumo de suas histórias.
Na primeira parte – Conscientizando-se do corpo – Siegel fala de como alguns médicos tratam seus pacientes como doenças, e não como seres humanos. Ele fala que, durante anos, tratou seus pacientes como “máquinas que ele precisava consertar”. Ele cita que o comportamento da pessoa e seu estilo de vida, estão diretamente relacionados com a sua saúde, assim como a forma com que o paciente encara a doença está também...


Doenças graves como câncer, as cardiopatias e as escleroses múltiplas, ou mortais como a Aids, carregam uma aura de fatalismo que, muitas vezes, impedem a definição de uma forma de tratamento adequada.
Como dizer ao doente que ele sofre desta ou daquela moléstia?
Deve o médico se comportar como autoridade máxima e fazer todas as escolhas para o paciente? E os prognósticos? Devem ser comunicados, mesmo sendo falíveis? Amor, Medicina e Milagres procura responder a todas essas perguntas a partir de um exaustivo trabalho com pessoas portadoras de doenças graves e fatais.
A coragem, o amor e a força da mente podem influir na forma de tratamento de pessoas atingidas por doenças graves? Sim, afirma com convicção este livro, ao explicar curas aparentemente milagrosas.

"O Dr. Siegel, norte-americano, trabalhando por dez anos como cirurgião, constatou que o paciente desempenha importante papel, tanto na aquisição da doença, como na sua cura. Decidiu portanto, criar o Grupo PCE = Pacientes Especiais de Câncer, com o objetivo de orientar os doentes, a desenvolver o amor próprio e ao próximo, adquirir a capacidade de recuperação, ter sinergia e vontade de viver. Conseguindo tais mudanças, a elevação dos níveis de umunoglobina ou de células T, em seus organismos, ocorreriam de modo automático. A Medicina moderna conquistou tanto poder sobre certas enfermidades, graças aos medicamentos, que esqueceu-se de trabalhar o potencial de força que existe dentro de cada ser humano. O Dr. Siegel conta :-“ Quando era residente hospitalar, um cavalheiro deu entrada com grave pneumonia por estafilococos, pus no peito e teve parada cardíaca. Eu tentei ressuscitá-lo com respiração boca a boca. As enfermeiras achavam que eu iria ficar doente também. Mas eu estava convicto que meu organismo resistiria à infecção, porque agira por amor ao meu semelhante.” Este livro está repleto de experiências reais e maravilhosas entre pacientes e o Dr. Siegel. Segundo a teoria da vigilância, as células cancerosas estão sempre sendo produzidas no nosso organismo, mas são destruídas pelos leucócitos, antes que se transformem em tumor. A falta de amor próprio e ao próximo, as emoções passivas, a cólera reprimida, a mágoa, levam a secreção excessiva de hormônios, que invalida o sistema imunológico.

Pesquisas realizadas na Faculdade de Medicina Albert Einstem, no Bronx, comprovam que crianças cancerosas haviam sofrido perda ou mudanças traumáticas, através de mensagens recebidas, ainda que no ventre materno. Para a prevenção do câncer deve-se observar determinados requisitos:- Ame-se o bastante para cuidar do seu corpo com boa alimentação, relaxamento e atividade física. Tenha controle sobre seus pensamentos, emoções e ações. Pratique meditação. Redigir um diário, nos mantém em contato com nossos pensamentos e passa a ser um tipo de meditação. Satisfação no trabalho é essencial para a saúde. Quando se faz o que gosta, não se trabalha, se diverte. Tenha mais contatos sociais. Ter animal de estimação, é saudável. Conheceremos o amor incondicional. Assistir filmes de amor, aumentam os níveis de imunoglobina. Perdoar, para ficar livre do medo. Tumores cancerosos ficam atrofiados quando troca-se a mágoa pelo perdão. O amor incondicional representa o mais poderoso estimulante do sistema imunológico. O amor cura ! "
Fonte:
http://pt.shvoong.com/books/1767949-amor-medicina-milagres/#ixzz2POJSKqLF

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